Com listas organizadas e melhores indicadores, a USF Cynthia está «numa rampa ascendente»
Tendo iniciado atividade a dois dias do final de 2012, a Unidade de Saúde Familiar Cynthia, localizada bem no centro da vila de Sintra, viveu os tempos mais complicados na primeira fase da sua existência. As instalações que ocupava estavam muito longe de serem as adequadas para servir profissionais e utentes e a certa altura até ficou em sério risco de fechar
a porta por falta de médicos. A recuperação iniciou-se ainda antes da mudança para um novo edifício, em 2019, e acentuou-se nos últimos tempos.
A atual coordenadora reconhece que, neste momento , já não há tanta dificuldade em atrair especialistas de MGF e considera mesmo que a sua USF está numa “rampa ascendente”, com “listas mais organizadas e melhores indicadores”. Embora consciente da complexidade da tarefa, Cristina Bocancea afirma que o plano é passar das atuais sete para dez equipas de saúde familiar, disponibilizando cuidados de saúde a uma população que a USF Cynthia foi concebida para servir. É modelo B desde janeiro de 2024.
"É uma preocupação constante a lista dos utentes sem médico de família"
Coordenadora da USF Cynthia deste abril último, mas ali a trabalhar há quase sete anos, Cristina Bocancea confirma as dificuldades que se foram vivendo na Unidade no que respeita à falta de médicos:
“Por exemplo, em 2023, chegámos a ser apenas quatro colegas a dar resposta a mais de 14.000 utentes, embora com o apoio dos internos, que foi valioso. Foi uma fase muito difícil. Neste momento, estamos mais estáveis, tendo em conta que entraram três médicos em 2024, dois dos quais se formaram cá, o Dr. Carlos Eduardo Baptista e a Dr.ª Mariana Silva. Temos a expectativa de que em 2026 entre mais um colega.”
Cristina Bocancea
“Apesar de ainda termos utentes sem médico de família, a situação não é comparável com os cerca de 5000 que já houve em determinada altura. Mas o número também não tem aumentado porque não estamos a aceitar novas inscrições, pois, zelamos muito pela qualidade dos cuidados que prestamos aos nossos utentes”, afirma a coordenadora.
Com um quadro de 7 médicos, 8 enfermeiras e 6 secretárias clínicas, a equipa reúne-se semanalmente todas as quartas-feiras, ao final da manhã, encontro documentado fotograficamente nesta reportagem.
“Abordamos vários assuntos, principalmente organizacionais, tendo em conta as necessidades da população, sendo uma preocupação constante a lista dos utentes sem médico de família, que nos obriga a uma adaptação permanente, para lhes dar resposta”, refere Cristina Bocancea.
Cada um dos grupos profissionais tem também depois a sua reunião semanal de meia hora: os médicos e as secretárias clínicas imediatamente antes da reunião geral e as enfermeiras à segunda-feira. 
“Ultimamente, já notamos haver mais profissionais interessados em integrar a nossa USF”
A coordenadora confirma que a população servida pela USF Cynthia está muito envelhecida, o que é, aliás, uma característica da sua própria lista de utentes: “Tenho poucas crianças e muitas pessoas acima dos 65 anos e principalmente dos 70. Esse facto acabou por me obrigar a mim e aos meus colegas a procurar fazer mais formação em doenças crónicas, como a hipertensão, as patologias respiratórias, as demências ou a diabetes.”
“Devo dizer que em termos de referenciação, na área da diabetes, por exemplo, temos muito poucos doentes acompanhados no hospital. De acordo com os nossos indicadores, os utentes estão muito bem controlados. E, de facto, eles nem costumam falhar as consultas de vigilância. Aliás, notámos mesmo uma grande diminuição no número de faltas após implementarmos o programa de envio de uma mensagem a avisar para o agendamento da consulta”, refere a responsável.
Cristina Bocancea sublinha que a Unidade foi concebida para ter dez equipas de saúde familiar a funcionar – tem apenas sete neste momento – e afirma com convicção: “É o que nós
pretendemos vir a ter num futuro mais ou menos próximo!” E mostra-se confiante relativamente a conseguir-se atingir esse objetivo:
“Ultimamente, já notamos haver mais profissionais, nomeadamente médicos, interessados em integrar a nossa USF. Isso acontece porque começamos a ter as listas de utentes mais organizadas, temos indicadores melhores e estamos a trabalhar imenso para conseguimos estabilizar a esse nível, desde logo por sabermos todos que a parte remuneratória também é muito importante. Convém sublinhar que quando nos referimos a indicadores estamos a falar de pessoas, de doentes e de patologias bem controladas para estarmos em condições de dar resposta a novos utentes. É um exercício muito exigente quando se cria, de repente, uma lista com 1700 ou 1800 nomes...”
“Comparando com o que já vivemos no passado, posso dizer que, neste momento, estamos numa rampa ascendente”, considera Cristina Bocancea, que vê como positiva a integração da estrutura que coordena na Unidade Local de Saúde de Amadora-Sintra:
“Como médica e, neste momento, como coordenadora, penso que foi uma mudança positiva. Por exemplo, em termos de decisões que precisemos de tomar, há agora uma resposta muito mais rápida por parte da Direção Clínica da ULS, comparativamente ao que sucedia antes de funcionarmos com este modelo organizativo.”
A finalizar, faz questão de referir o apoio que a USF Cynthia está a dar aos utentes de duas instituições do concelho: o Centro de Acolhimento Temporário Novo Mundo, que dá abrigo a crianças em risco, e a Obra Padre Gregório, que acolhe crianças e jovens em regime de internato.
“Estas entidades podem recorrer a nós em qualquer altura que necessitem da nossa intervenção, até porque estamos a falar de faixas etárias das mais sensíveis e que realmente precisam de uma atenção acrescida da nossa parte. A equipa está comprometida em acompanhar estas crianças e jovens”, garante Cristina Bocancea.

A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico de novembro 2025.


