Esquizofrenia: 1.º Congresso WES «promoveu a disseminação de novas práticas»
Promover a atualização de conhecimentos e a troca de experiências entre profissionais de saúde que lidam com a esquizofrenia foi o grande objetivo da ROVI ao organizar o 1.º Congresso WES – Pontes para o Sucesso, que decorreu no Convento do Beato, nos dias 21 e 22 de junho. Os psiquiatras Miguel Bajouco, Ciro Oliveira, Pedro Morgado e Ana Matos Pires, que constituíam o Comité Científico do WES, deixam aqui os seus comentários sobre o evento.
“Foi uma oportunidade para aprofundar os conhecimentos num conjunto alargado de tópicos relativos à esquizofrenia, desde a evolução histórica do tratamento em Portugal até à mais recente evidência na abordagem psicofarmacológica da fase aguda da doença”, considera Miguel Bajouco, da ULS de Coimbra, salientando o “conjunto de sessões de excelente conteúdo teórico, mas com índole sobretudo prática”.
O destaque desta primeira edição nacional do WES foi para três workshops: farmacocinética e adesão; o papel dos injetáveis de longa duração (ILD) como terapêutica de 1.ª linha, desde o diagnóstico precoce à resistência ao tratamento; e os desafios da polifarmácia e da patologia dual nos doentes com esquizofrenia.
Houve ainda a possibilidade de assistir ao filme “ Esquizofrenia no Cinema”, do realizador espanhol Raul Alda, que, como refere Miguel Bajouco, “serviu de mote à discussão sobre a representação da doença veiculada pelo cinema e nos media e que é fonte para o estigma que existe em relação a pessoas com esta doença”.
Miguel Bajouco
O psiquiatra de Coimbra não deixa de realçar a importância da apresentação do estudo RESHAPE (estudo internacional RWE), que está a ser realizado (em recrutamento de doentes) no nosso país e irá “permitir obter dados nacionais sobre o tratamento com a formulação ILD da risperidona, que recorre à nova tecnologia ISM”, a qual foi também apresentada.
Para Miguel Bajouco, o 1.º Congresso WES “constituiu uma iniciativa valiosa numa patologia tão complexa e multifacetada como a esquizofrenia, uma vez que promoveu a disseminação de novas práticas, estratégias terapêuticas e avanços científicos que podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes”.
Ciro Oliveira reconhece que os encontros científicos “são sempre uma oportunidade de aumentar o conhecimento, não apenas porque são espaços de divulgação daquela que é a informação científica mais atualizada como também por serem um lugar de discussão da ciência atual, da prática quotidiana e dos seus desafios, e ainda do desenvolvimento
futuro na área”.
É por isso, acrescenta, que “um encontro científico bem organizado e que mescle a teoria e a prática é, inevitavelmente, um evento que acrescenta saber e que promove as melhores práticas clínicas, o que, inevitavelmente, trará benefício direto aos doentes e, por consequência, às suas famílias e à sociedade”.
O psiquiatra da ULS de São José classifica mesmo o 1.º Congresso WES como “um momento de aprendizagem invulgar”. Lembrando que a esquizofrenia é uma perturbação psiquiátrica que levanta “tantos desafios” – clínicos, de diagnóstico, terapêuticos, pessoais, familiares, sociais e laborais, para além do estigma que se lhe associa –, sublinha “a oportunidade que foi organizar um evento exclusivamente dedicado a esta condição, discutindo-a de forma alargada, nas suas múltiplas vertentes”.
“Estou em crer que este WES foi muito bem-sucedido e que todos os participantes saíram com mais conhecimento e mais bem preparados para desenvolver uma clínica alicerçada no melhor conhecimento teórico e nas melhores práticas”, conclui Ciro Oliveira.
“Uma extraordinária oportunidade formativa”
Pedro Morgado, da ULS de Braga, faz um balanço igualmente positivo do encontro que a ROVI organizou, até porque nele participaram palestrantes nacionais e estrangeiros “de grande qualidade”, acabando por se tornar, na sua opinião, “uma extraordinária oportunidade formativa”.
“O programa foi organizado para navegar por uma perspetiva histórica da esquizofrenia em Portugal, atualizar a evidência científica mais recente acerca dos diversos tratamentos, refletir sobre a farmacocinética e a farmacodinâmica dos diferentes antipsicóticos, explorar a gestão medicamentosa da patologia dual, encontrar caminhos para gerir a polifarmácia, identificar e tratar as formas resistentes e, ainda, auscultar as visões do cinema, da sociedade e das famílias sobre a esquizofrenia”, afirma o psiquiatra.
“O 1.º Congresso WES mostrou como é possível organizar um encontro científico eclético e de qualidade superior. Obrigada à ROVI por isso e por provar como uma empresa farmacêutica pode ser uma aliada da transmissão de conhecimento”, afirma Ana Matos Pires, não poupando nos elogios à realização da iniciativa: “O seu sucesso mostra a mais-valia que será a sua continuidade!”
E prossegue: “Venha o próximo, repleto de informação de excelência e de uma participação cada vez mais alargada a todos, nomeadamente, a quem tem responsabilidades nas áreas da saúde, do trabalho e social, da justiça, da educação, das artes, do ensino e da investigação.”
A médica da ULS do Alto Alentejo lembra o facto de a perturbação esquizofrénica ser uma entidade nosológica que necessita de ser abordada nas suas diferentes perspetivas – “desde a etiopatogenia à clínica, do tratamento psicofarmacológico às abordagens psicossociais e psicoterapêuticas”.
Para além disso, frisa Ana Matos Pires, “tem implicações no próprio, na família e na sociedade em geral, havendo um longo caminho a percorrer em Portugal no sentido de diminuir o estigma e desenvolver um lobbying claro, sério e organizado, cujo objetivo último é melhorar a vida das pessoas doentes. Também este aspeto foi conseguido, envolvendo a participação de cientistas, clínicos e familiares, sem esquecer a arte, neste caso, o cinema, como um meio a usar”.
Referindo-se aos diferentes workshops, o facto de versarem temas mais particulares “permitiu uma discussão alargada e o resumo das mensagens-chave, transmitidas numa sessão própria para todos os participantes”. Ana Matos Pires não terminaria sem agradecer à ROVI o convite para estar presente, “entendendo-o como uma manifestação de confiança naquilo que é para mim uma causa pessoal e profissional – a luta pela melhoria da saúde mental em Portugal e, sobretudo, a defesa dos direitos dos doentes mentais graves.
"Todos saímos mais ricos em conhecimento"
E como surgiu a ideia de se realizar este evento? Segundo Pedro Maldonado, diretor-geral da ROVI Portugal, "a intenção deste modelo de Workshops em Esquizofrenia (WES) é a de promover a interatividade, a troca de experiências, falar das práticas e das diferentes abordagens clínicas, perceber a doença do ponto de vista de quem a tem e dos próprios cuidadores, representados pelas associações de doentes, assim como o envolvimento das pessoas no processo de diagnóstico e terapêutico".
A nortear este congresso, havia dois pressupostos que a ROVI queria garantir: "Que os elementos da Comissão Científica que reunimos para este evento tivessem total liberdade de abordar os temas que considerassem pertinentes, e, por outro, que palestrantes e participantes pudessem sentir-se num ambiente descontraído, mas de participação e intervenção."
De acordo com Pedro Maldonado, "foi um sucesso conseguir reunir, durante dois dias, médicos psiquiatras do continente e ilhas para discutir as novas abordagens na esquizofrenia e verificar que, no final, todos saímos deste evento mais ricos em conhecimento". E deixa uma certeza: "Mais iniciativas virão."