Consulta de Geriatria da CUF Descobertas reverte fragilidade dos idosos

Conhecer bem o estado funcional e cognitivo dos idosos é o objetivo da internista e geriatra Sofia Duque e do grupo de Enfermagem da Consulta Multidisciplinar do Hospital CUF Descobertas, procurando-se encontrar estratégias preventivas e reverter a fragilidade dos mais seniores.

Ao sensibilizar outros colegas para algumas especificidades da avaliação e intervenção junto deste grupo populacional, a equipa consegue transportar a sua forma de atuação para todo o hospital e até para fora de portas, criando um ciclo de aprendizagem e de cultura e tornando as práticas mais amistosas e adequadas.

Foi em outubro de 2021 que Sofia Duque assumiu a coordenação da Consulta Multidisciplinar de Geriatria do Hospital CUF Descobertas, dando continuidade ao projeto impulsionado por João Gorjão Clara cinco anos antes. Na verdade, a médica já era colaboradora do Grupo CUF, tendo iniciado a primeira Consulta de Geriatria, especificamente na CUF Belém, em 2015.


Sofia Duque

Distinguida pelo modelo de avaliação geriátrica global que aplica, Sofia Duque enaltece que “a mais-valia desta Consulta na CUF Descobertas reside precisamente no facto de contemplar a intervenção da enfermagem numa fase inicial”.

O objetivo é “fazer o rastreio de várias síndromes geriátricas, o que vai facilitar a avaliação do doente, identificando o seu estado funcional, cognitivo, emocional e nutricional, sem esquecer a dimensão social”.

A internista, que tem a competência em Geriatria reconhecida pela Ordem dos Médicos, nota que “o grupo de enfermagem tem evoluído muito, no sentido de considerar outras dimensões que vão além do protocolo de avaliação e que são importantes para o diagnóstico completo dos doentes e para a sua qualidade de vida”.

Na sua ótica, “esta pré-avaliação torna a consulta mais completa, o diagnóstico mais preciso e as intervenções mais personalizadas e dirigidas aos reais problemas que as pessoas apresentam”.

De salientar ainda “o papel muito ativo da enfermagem no ensino dos doentes, nomeadamente, indicando medidas não farmacológicas que podem auxiliar na gestão dos problemas identificados, de forma complementar e alinhada com as intervenções propostas na consulta médica”.

Com uma equipa nuclear constituída por Sofia Duque e três enfermeiras, uma das quais em fase de integração, “há um diálogo constante entre os dois grupos profissionais, de tal forma que, muitas vezes, após a avaliação médica, os doentes voltam à equipa de enfermagem, consoante as necessidades apresentadas e as intervenções necessárias”.

De referir que é frequentemente identificada a necessidade da colaboração de outros profissionais de saúde – fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, neuropsicólogo e podologista, entre outros –, seja para uma avaliação pontual ou para uma intervenção continuada.

Dada a elevada procura da Consulta, “torna-se difícil garantir uma resposta imediata”, principalmente quando esta tem uma duração ajustada às necessidades da pessoa. Essa acaba por ser uma “particularidade muito relevante, dado que cada consulta, seja médica ou de enfermagem, pode durar facilmente uma hora, para que a avaliação seja completa e o plano de cuidados abrangente”.

O desafio é maior perante “uma procura espontânea tão grande e, muitas vezes, não só dos próprios”. Sofia Duque comenta que a iniciativa parte geralmente de quem, “ainda jovem e independente, na casa dos 60 anos, ambiciona um envelhecimento ativo e saudável e a minimização da deterioração funcional e cognitiva”.

Na realidade da CUF Descobertas, esta procura parte maioritariamente de cidadãos estrangeiros, como brasileiros, norte-americanos e ingleses, que “estão sensibilizados para a especialidade no seu país de origem”.

Junta-se a este grupo um conjunto de pessoas que “já apresentam algum grau de deterioração funcional ou cognitiva, muitas das vezes com diversas doenças crónicas e diferentes médicos assistentes em simultâneo. Frequentemente, são os familiares ou cuidadores a reconhecer a necessidade de haver um médico gestor, que se afirme como o ‘maestro’ do quadro clínico do doente e consiga conciliar todas as intervenções, particularmente as farmacológicas”.

De facto, “o receio da iatrogenia medicamentosa e a existência de algumas síndromes geriátricas muito específicas, como alterações cognitivas, incontinência, problemas de equilíbrio, de mobilidade e nutricionais, são as condições que mais levam os familiares a procurar esta Consulta”.

Acontece ainda haver casos referenciados internamente a partir de outras áreas, como a Neurologia e a Oncologia. Atualmente, há inclusive um protocolo ativo com a Unidade de Mama, que prevê a “resposta sistemática na Consulta de Oncogeriatria aos doentes com mais de 70 anos que apresentem rastreio positivo para fragilidade através do questionário G8”. Tal Consulta segue os mesmos trâmites da Consulta de Geriatria, contemplando uma avaliação multidimensional.

Neste seguimento, está a ser encetado um projeto idêntico com a Oncologia em geral, embora “a referenciação dependa mais da perceção clínica dos oncologistas, ao identificarem uma complexidade clínica que pode limitar as opções diagnósticas e terapêuticas, como acontece em doentes com idade avançada, doenças crónicas em simultâneo, risco ou presença de deterioração funcional, ou algum problema social”.

Sofia Duque adianta que na Consulta é elaborado “um plano de cuidados bastante detalhado, com recomendações não só farmacológicas mas também do âmbito da nutrição, da mobilidade, da atividade física e até da socialização; e com a esquematização dos próximos exames e consultas, para que as pessoas o possam seguir como um fio condutor e usar como auxiliador do seu trajeto clínico”.

Os problemas nutricionais merecem especial atenção na Consulta Multidisciplinar de Geriatria. Sofia Duque alerta para a falta de consciencialização para os hábitos alimentares que as pessoas mais velhas devem ter. “Há muitos mitos enraizados que levam a que os mais idosos cinjam o seu jantar a uma sopa ou a torradas, fazendo-o por considerarem que, pelo seu maior nível de sedentarismo e por já não estarem em fase de crescimento, não necessitam de um maior aporte calórico e proteico”.

Ideias deste género acabam, assim, por ser clarificadas, tanto pela equipa médica como pela de enfermagem, recorrendo a ferramentas como o Mini-Nutritional Assessment para rastreio nutricional, a avaliação de dados antropométricos básicos, o time-up-and go test, o teste de elevação de cadeira e o diário alimentar, para “identificar problemas nutricionais e oportunidades de melhoria do plano alimentar”. Por vezes, torna-se necessário “colocar em prática intervenções nutricionais, como a suplementação nutricional oral”.

Com um corpo clínico com formação específica nesta área, a médica distingue que “facilmente este conhecimento pode ser transferido para outros contextos e áreas, como o Internamento ou consultas temáticas distintas”.

De igual forma, “estes profissionais mais vocacionados para a população sénior contaminam outros colegas e sensibilizam-nos para algumas especificidades de avaliação e intervenção junto deste grupo etário, funcionando como catalisadores de uma transformação das práticas na instituição, tornando-as mais amistosas e apropriadas aos doentes idosos”.

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda