Consulta de Hipertensão: «Aceitamos praticamente todas as solicitações dos médicos de família»

Habitualmente designado por Consulta de Hipertensão, o Grupo de HTA tem a sua origem nos anos 70, surgindo por iniciativa de Falcão de Freitas, o então diretor do Serviço de Medicina 2 do Hospital de São João. É coordenado por Maria João Lima, a internista que, por alturas do verão de 2009, herdou de Mário Espiga de Macedo a responsabilidade de dar continuidade ao projeto.

O Grupo de HTA é uma das principais valências do agora único Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário de São João, cujo diretor é Jorge Almeida. É atualmente constituído por 10 internistas, 7 dos quais o integram há mais de 15 anos, a que se associa um número variável de internos de formação específica de Medicina Interna, que cumprem períodos de estágio opcional de pelo menos um ano.

"Mais do que um grupo exclusivamente dedicado à HTA"


Maria João Lima faz questão de deixar explícito que a principal razão da existência desta estrutura é “contribuir para a diminuição da mortalidade e da morbilidade associadas à hipertensão arterial, no contexto dos fatores de risco cardiovascular”. E observa que à atividade assistencial, em regime de internamento, consultadoria interna e consulta externa, se associa a formação pré e pós-graduada, bem como a investigação.

“A diversidade da formação e interesses dos seus membros, nomeadamente do seu criador, o Prof. Falcão de Freitas, fez com que fosse, desde cedo, mais do que um grupo exclusivamente dedicado à HTA e limitado à vertente assistencial”, explica Maria João Lima.


Maria João Lima

Com efeito, esclarece, “havia um grande interesse pelo estudo e tratamento das variações da pressão arterial, ainda que com destaque para a HTA, no contexto de várias expressões de doença cardiovascular”.

Por exemplo, na medicina desportiva, manifestações cardiovasculares das alterações do sistema nervoso autónomo, particularmente da polineuropatia amiloidótica familiar, e na doença cerebrovascular. A atividade desenvolvida inclui também “a realização de trabalhos epidemiológicos de dimensão nacional”. Essa matriz variada ainda hoje se reflete na formação dos membros do Grupo.

"Passámos a ter consciência da nossa realidade"

Um dos estudos (PAP) em que a nossa interlocutora participou, e cujo investigador principal foi Espiga de Macedo, merece realce, pois, permitiu concluir, em 2003, que a prevalência da HTA em Portugal seria de 42,1%. Esse valor viria a ser confirmado praticamente uma década depois, com o estudo PHYSA, que apontou para uma prevalência igual (42,2%).

“A prevalência é a mesma, mas mudou, e muito, o conhecimento, o tratamento e o controlo da hipertensão arterial, a partir do momento em que passámos a ter consciência da nossa realidade”, sublinha Maria João Lima.


Susana Lourenço Ferreira, Diana Ferrão, Luís Nogueira Silva e Maria João Lima

978 pedidos de 1.ª consulta nos últimos 5 anos

A coordenadora do Grupo HTA faz contas aos últimos 5 anos e refere terem sido exatamente 978 os pedidos de 1.ª consulta que lhe chegaram, de fora e de dentro do Hospital de São João. Mas 2021 e 2022 foram anos muito diferentes dos três anteriores, na sequência da pandemia de covid-19.

Com efeito, comparando esses dois períodos – o referido biénio e o triénio 2018-2020 –, verifica-se que o número de pedidos para consulta de primeira vez duplicou, registando um aumento de duas vezes e meia no caso dos que tiveram origem nos CSP e apenas uma vez e meia relativamente aos pedidos internos, oriundos de outras consultas e do internamento (estes residuais).

“Penso que este fenómeno, que também ocorreu em muitas outras consultas, teve a ver com o agravamento do estado de saúde de muitos doentes durante a pandemia e com a dificuldade que, em muitos casos, os CSP tiveram no acompanhamento desses doentes”, considera Maria João Lima.

A médica refere também que "parece ter havido, em muitos casos, uma ‘revisão’ da situação clínica de cada doente após o período de menor seguimento, com a perceção de um controlo não adequado, que poderá ter motivado a orientação para consultas especializadas”.

“Os nossos colegas de MGF estão mais atentos"

E qual será o peso que têm os doentes referenciados pelos CSP? “Representam, mais ou menos, 65% do total”, responde a nossa interlocutora, adiantando de imediato:

“São aceites praticamente todas as consultas pedidas pelos médicos de família!” Já o mesmo não sucede com as solicitações internas. “São recusadas mais de 25%, por não respeitarem os critérios de referenciação”, diz.

Apesar do reconhecido crescente envelhecimento da população portuguesa, os médicos do Grupo de HTA atendem cada vez mais doentes jovens. A explicação?

“Os nossos colegas de MGF estão mais atentos e valorizam mais as alterações da tensão arterial neste grupo do que antes. Hoje em dia, há uma consciência muito maior de que a hipertensão condiciona o risco cardiovascular, para além de que, no caso dos jovens, há sempre a possibilidade de se tratar de uma hipertensão secundária...”



Menos faltas a consultas agendadas

No período de 5 anos já referido (2018-2022) foram agendadas 8129 consultas, das quais seriam realizadas 7101 (930 primeiras + 6171 subsequentes, o que se traduz numa percentagem de faltas a consultas marcadas de aproximadamente 12,5%, uma média inferior à apurada em avaliações anteriores, que rondava os 20%, de acordo com Maria João Lima.

“Curiosamente, em 2020, ano da pandemia, não houve um aumento das faltas. Durante cerca de 3 meses, de meados de março até ao início de junho, praticamente só fizemos consultas não presenciais, mas no resto do ano tiveram o formato habitual”, salienta.

A coordenadora do Grupo de HTA reconhece não encontrar explicação para a redução da percentagem de faltas à consulta, mas admite que possa ter “aumentado o nível de satisfação e confiança dos doentes”.

“Quanto ao não aumento no período mais intenso da pandemia  penso que pode ter a ver com o facto de termos mantido essencialmente o mesmo padrão de cuidados assistenciais, ao contrário dos CSP, e, portanto, por sermos frequentemente a única fonte de cuidados de saúde para muitos doentes”, conclui a médica.



A reportagem completa ao Grupo de HTA do Centro Hospitalar Universitário de São João, com entrevistas a diversos profissionais, pode ser lida na última edição do jornal Hospital Público.

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