Cuidados domiciliários: «Há projetos notáveis e basilares para os ganhos em saúde»

A ligação entre os vários tipos de cuidados, dos hospitalares aos domiciliários, é crucial, sublinha Delfim Rodrigues. O presidente do Conselho de Administração (CA) do Hospital da Senhora da Oliveira - Guimarães, fez esse comentário na última sessão da iniciativa “Caminho dos Hospitais”, depois de ouvir a enfermeira diretora da Unidade Local de Saúde (ULS) de Matosinhos descrever alguns dos projetos que aquela unidade desenvolve a nível do domicílio de alguns dos seus utentes.

"Os hospitais e a comunidade"

Antigo diretor-geral da Saúde, Delfim Rodrigues assumiu o papel de moderador no evento que a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) realizou em Castelo Branco.

A ULS de Castelo Branco, na pessoa do seu presidente do CA, António Pires, foi a anfitriã do evento. A assistência, que enchia a sala, ouviu com atenção o debate subordinado ao tema “Continuidade de cuidados: os hospitais e a comunidade”.



"Hospitalização domiciliária acarreta inúmeras vantagens"


Depois de realçar ser importante reter que, hoje em dia, os hospitais não se cingem ao universo hospitalar e que as ULS são o exemplo da necessidade continuada de cuidados e de trabalho conjunto com os CSP, o presidente da APAH, Alexandre Lourenço, passou a palavra a Delfim Rodrigues.


Alexandre Lourenço.

Dando como exemplo o programa de hospitalização domiciliária implementado no seu hospital e cujo sucesso fez questão em atribuir à equipa de enfermagem, Delfim Rodrigues não hesitou em afirmar: “Ainda que as condições possam não ser as mesmas que temos no hospital, de facto, a hospitalização domiciliária acarreta inúmeras vantagens e esse acompanhamento tem trazido muitos benefícios.”


Delfim Rodrigues.

Na sequência da intervenção de Adelaide Belo, da Unidade de Gestão Operacional do Acesso dos utentes ao SNS, uma unidade criada pela ACSS, que garantiu que “a tradicional dicotomia entre CSP e cuidados diferenciados acabou”, Delfim Rodrigues colocaria a tónica nos incentivos e estímulos que têm de ser dados às equipas. “O Ministério da Saúde devia avaliar os projetos e, sendo o caso, premiá-los”, frisou.

Planeamento da alta requer requer "a articulação de todos"

Focando-se na questão do planeamento social, António Breia Vicente, do Serviço Social da ULS de Castelo Branco, abordou outra vertente da integração hospitalar, adiantando que o planeamento da alta se tornou "uma grande prioridade para o doente e respetiva família".

“Em Portugal, a família continua a ser a principal prestadora de cuidados e, de acordo com a DGS, a alta é um processo complexo e que requer a articulação de todos os serviços, com intervenção do serviço social no âmbito hospitalar, a articulação com as famílias e instituições da comunidade e identificando problemas e desenvolvendo estratégias para os ultrapassar”, disse.

Adelaide Belo, Margarida Filipe, Odete Vicente, Delfim Rodrigues, António Breia e Patrícia Ventura.


Equipas na comunidade com competência e diferenciação
 

Depois de a enfermeira Maria Odete Vicente, da Unidade de Cuidados na Comunidade de Castelo Branco, ter feito um balanço do que tem sido a atividade daquele grupo nos últimos três anos, coube a Margarida Filipe, enfermeira diretora da ULS de Matosinhos, dirigir-se à audiência.

A responsável apresentou um relato do papel da enfermagem no processo de integração de cuidados, revelando que o envelhecimento e o aumento das doenças crónicas incapacitantes "são problemas atuais aos quais a rede de cuidados continuados, criada em 2007, não permite dar resposta".

“Temos de encontrar novos modelos de intervenção, em ambulatório e com prestação de cuidados domiciliários”, afirmou, dando como exemplo alguns projetos desenvolvidos pela ULS de Matosinhos. Foi o caso do acompanhamento de prematuros ao domicílio, o projeto CEDO, na área da Ortopedia, "que permitiu diminuir o internamento dos doentes sujeitos a artroplastia da anca", ou o projeto de terapêutica endovenosa, "cuja redução do tempo de internamento chegou aos 11 dias".

“Temos de ter as pessoas certas, com as competências adequadas, equipas na comunidade com competência e diferenciação para haver confiança entre a comunidade, a ULS e o hospital”, finalizou.


Delfim Rodrigues, António Pires e Alexandre Lourenço.

Delfim Rodrigues não resistiu a considerar estes exemplos como “notáveis e basilares para os ganhos em saúde”, acrescentando que é crucial esta ligação de cuidados para dar uma esperança de vida a estes doentes.

“A média de idade dos doentes internados aumenta a cada ano que passa e o que devemos fazer é devolver as pessoas a casa o mais cedo possível. Aliás, concluiu, numa alusão aos cuidados paliativos, “hoje, felizmente, não nascemos em casa, mas podemos e devemos morrer em casa”.

Antes de a sessão “Caminho dos Hospitais” terminar, Delfim Rodrigues fez questão de deixar uma palavra de reconhecimento à Segurança Social de Castelo Branco, a propósito da última intervenção da tarde, a cargo de Patrícia Ventura, do Centro Distrital daquela entidade, que, apresentando dados de 2016, revelou o trabalho de investimento que tem sido realizado.



Procura de soluções "que promovam a integração de cuidados"

O Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, será o palco da próxima sessão desta iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, que "visa a partilha de casos práticos e soluções que promovam a integração de cuidados a nível hospitalar e com os centros de saúde e comunidade". A sessão decorrerá ainda neste mês de maio.

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