De UCSP Parede para USF modelo B: «Foi um processo de transição completamente modificador»
A USF Avencas foi uma das 10 unidades que transitaram de UCSP para USF modelo B no arranque deste ano, contudo, esse objetivo tinha sido delineado pela equipa dois anos antes e já não estava longe de acontecer.
Com a dedicação e proatividade de todos, têm sido implementados vários projetos, como a Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo e a Consulta de Medicina do Estilo de Vida, e tem-se apostado na realização de procedimentos, como pequenas cirurgias e infiltrações. Tendo como desígnio fazer mais e melhor, trabalha-se para proporcionar os melhores cuidados aos utentes.
"Esta Unidade está em franco crescimento"
Para Nuno Basílio, diretor clínico para a área dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) da ULS de Lisboa Ocidental desde fevereiro deste ano, a USF Avencas é “um exemplo” e não hesita em afirmar que “o processo de transição foi completamente modificador da vida e da história da UCSP Parede, ao ter permitido um salto qualitativo em termos de organização e acessibilidade”.
Não tem dúvidas de essa “evolução significativa se deveu ao dinamismo da equipa, que continua a conceber ótimas ideias, a desenvolver projetos e a propor bons desafios, que não deixam de ser difíceis de executar, como a acomodação em termos de espaço físico de qualidade para profissionais e utentes”.
Nuno Basílio
O médico, de 37 anos, que anteriormente presidia ao Conselho Clínico e de Saúde do ACES Cascais, realça que “esta Unidade está em franco crescimento” e adianta que, com a publicação do procedimento concursal para a carreira médica, “espera-se que a equipa possa ser reforçada”.
Atualmente, Nuno Basílio tem procurado “priorizar a ação em unidades com necessidades mais particulares, seja de reforço de recursos humanos ou de intervenções estruturais”. O diretor clínico para a área dos CSP realça ainda “os passos que tem tentado dar para integrar projetos dos cuidados de saúde primários e hospitalares”.
A título de exemplo, refere como “o projeto da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo, que está em curso nesta unidade, poderia evoluir no sentido de ter outras vias de referenciação, reduzindo, consequentemente, a necessidade de haver um projeto dirigido aos hiperfrequentadores da urgência hospitalar, por exemplo, porque esses casos já seriam englobados naquele projeto.”
Analisar e melhorar as operações da Unidade
De facto, desde 2023 que, então ainda na UCSP Parede, têm vindo a inaugurar diversas consultas. Nesse ano, fruto do interesse do interno João R. Nunes Pires e da enfermeira de reabilitação Sofia Santos, que “teve um papel crucial na formação da equipa”, arrancou a Consulta de DPOC, à qual se seguiu a Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo – dinamizada por Mariana Castro Guimarães e João R. Nunes Pires –, que visava a discussão multidisciplinar de casos complexos, otimizando tempo e recursos na resolução da situação global dos utentes.
Este ano, com a vinda da interna de MGF do 4.º ano Vera Dutschke para a USF Avencas, foi a vez de inaugurar a Consulta de Medicina dos Estilos de Vida, focada na alteração de hábitos de utentes com risco cardiovascular abaixo dos 65 anos, “nos quais a probabilidade de o impacto se manter ao longo da vida é maior”.
Raquel Baptista Leite, coordenadora da unidade, admite que “a implementação e execução destes projetos clínicos tem sido muito estimulante”, sentimento que estende a outros desafios, concretamente, “a elaboração da newsletter trimestral da USF dirigida aos utentes, a implantação de procedimentos, entre eles, o da referenciação do SNS 24, a constituição das microequipas e a aprendizagem sobre a sua dinâmica”.
Em entrevista à Just News, a médica, que já tinha assumido a coordenação da UCSP Parede, ressalva que “a transição só foi possível graças ao empenho e dedicação de toda a
equipa, médica, de enfermagem e administrativa, em torno de um objetivo comum – prestar um serviço de qualidade aos utentes”.
Raquel Baptista Leite
Mais valências
Procurando aproveitar as diferenciações dos meios humanos, têm ainda sido disponibilizadas aos utentes algumas valências mais específicas, nomeadamente, a realização de infiltrações e de pequenas cirurgias, e o apoio ao cuidador informal. Uma das ambições da coordenadora seria, a médio prazo, alargar a execução dos dois procedimentos técnicos a um maior grupo populacional, para além da área de influência da USF, que compreende a União das Freguesias de Carcavelos e Parede e a Junta de Freguesia de São Domingos de Rana.
A par, e eventualmente antes ainda, gostaria de contratualizar uma carteira adicional de serviços para a Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo, estendendo-a, numa
primeira fase, a toda a população de Carcavelos e Parede, e ainda São Domingos de Rana, antes de a difundir pela área de influência da ULS de Lisboa Ocidental e Oeiras.

“Não podemos ter os nossos colegas em burnout"
Uma das preocupações de Raquel Baptista Leite é “olhar para a USF do ponto de vista das operações, no sentido de perceber como é que podemos dar resposta a mais utentes em menos tempo, isto é, mais e melhor”. Este é um assunto que tem sido alvo de grande reflexão pela equipa e, nesse âmbito, a nossa interlocutora faz questão de assegurar a prevenção quinquenária.
“Não podemos ter os nossos colegas em burnout porque aí é que os nossos utentes não teriam resposta”, afirma, acrescentando que, para evitar tal situação, procurou perceber junto da equipa qual era o principal fator de exaustão, tendo concluído que se prendia com a realização de contactos não presenciais, dado irem além do horário laboral.
“No fundo, diariamente, recebemos centenas de e-mails e requisições com pedidos de telefonemas e de receituários, entre outros aspetos, que superam muito as vagas que prevemos para esse efeito. Por sua vez, as vagas também não representam um tempo real, porque o processo de análise de um exame e partilha do resultado e do plano com o utente, através de chamada, leva, no mínimo, 10 minutos, quando apenas estão previstos seis”, descreve.
Por esse motivo, atualmente, está a ser realizado um estudo sobre os tipos de contactos indiretos e a sua cronometragem, para identificar onde estão a ocorrer desperdícios e encontrar soluções para eliminá-los. Apesar de ainda estar a decorrer a primeira fase do estudo, a verdade é que já há alguns resultados preliminares, que têm motivado algumas reflexões entre a equipa. A título de exemplo, a coordenadora apresenta um caso comum, que se prende com a realização de telefonemas:
“Por vezes, o utente só atende à quinta vez e o médico, que é o recurso mais diferenciado da equipa, ocupou 10 minutos em várias tentativas telefónicas não bem-sucedidas. Se calhar, o que faz mais sentido é ser a administrativa a estabelecer o contacto e só transferir a chamada quando tiver o utente em linha. É uma pequena mudança que pode otimizar o tempo e diminuir a exaustão do médico, daí a importância de trabalhar em microequipa.”
Ainda neste âmbito, avança que, segundo outra análise, “apenas 20% dos contactos indiretos demoram mais de 10 minutos, o que sumariza, por médico, cerca de cinco a 10 horas extraordinárias semanais nessa tarefa, e que, por sua vez, é altamente desgastante”.
Enquanto “médicos e não gestores”, a coordenadora reconhece: “Podemos não estar a fazer tudo bem, então, devemos pedir ajuda.” Nesse sentido, frequentou recentemente um programa de Gestão e Liderança na AESE Business School, onde teve oportunidade de discutir muitos destes assuntos com os professores.
Adicionalmente, a equipa tem contado com a ajuda de Luís Lapão, investigador e docente de Saúde Pública Internacional, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, que trabalha nas áreas de inovação e desenvolvimento organizacional em saúde.
De forma global, aponta que “o que a equipa pretende é que esta USF seja capaz de demonstrar que, com determinados princípios básicos, é possível ter uma eficácia e uma eficiência tão boas ou melhores do que as de qualquer outra instituição privada”. Na sua opinião, “por vezes, tal feito depende apenas da reflexão dos profissionais e da sua vontade de fazer algo para mudar e melhorar”.
De forma a “promover o bem-estar e a coesão da equipa”, Raquel Baptista Leite tem ainda apostado na realização de atividades de team building regulares. Com frequência praticamente mensal, são também proporcionadas formações a todos os grupos profissionais, com vista a “aumentar a qualidade dos serviços”.
Apesar de ainda não ter idoneidade total, esta USF tem acolhido internos do 4.º ano de MGF de outras unidades e ainda alunos da Nova Medical School para estágios..jpg)
A reportagem completa, com entrevistas a vários profissionais da unidade, pode ser lida no Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Integrados de setembro.


