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Dia Europeu da Depressão: especialistas defendem a necessidade de «formas integradas de tratamento»

"A depressão não é uma doença. São várias", afirmou Maria Luísa Figueira, representante da European Depression Association (EDA) em Portugal, no simpósio "Conhecer a pessoa -- tratar a doença", realizado na última segunda-feira, na Faculdade de Medicina de Lisboa (FMUL), para assinalar o Dia Europeu da Depressão.

Na sessão de abertura do evento, organizado pelo Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CH Lisboa Norte, FMUL e Sociedade de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), com o patrocínio da EDA, Luís Câmara Pestana, diretor daquele Serviço, e Margarida Lucas, diretora clínica do CHLN, salientaram a magnitude de uma patologia que, só na Europa, atinge cerca de 50 milhões de pessoas.



Margarida Lucas, Luís Câmara Pestana e Maria Luísa Figueira.

De caráter extremamente complexo, esta "é uma doença de múltiplos sintomas, que afeta áreas muito variadas, desde as mais orgânicas até às mais psicológicas, com sintomas praticamente a todos os níveis do nosso organismo", explicou Maria Luísa Figueira, frisando a existência de "uma enorme variedade de vivências e de manifestações clínicas da depressão".


A doença, "normalmente, não está relacionada com acontecimentos da vida", embora estes possam precipitar o primeiro episódio. Por isso, a especialista chamou a atenção dos profissionais de saúde para a necessidade de "dar espaço ao doente para que ele possa falar das suas vivências e experiências sem estarmos a procurar induzir causalidades artificiais". 




A verbalização da experiência interna da depressão "pode ser difícil", alertou. "Os doentes poderão não ter palavras para descrever aquilo que estão a sentir", até porque a depressão afeta a forma de a pessoa estar no mundo. "Todas as vivências da relação social com o mundo, o corpo, o tempo, o espaço e a intersubjetividade vão estar transformadas", frisou Maria Luísa Figueira.


Referindo-se especificamente ao tratamento da depressão, a especialista salientou "a importância da reação da personalidade do doente". Nem todos aceitam bem ou sem reações negativas os efeitos dos medicamentos. "Muitas vezes têm receio de que o fármaco domine a sua personalidade, que vá transformá-los ou que tenha um efeito sedativo inaceitável", disse. Por outro lado, "há uma percentagem de doentes que não responde ou de quem se obtém apenas uma resposta parcial"; outros "não recebem a medicação completa" ou "têm um tratamento que não é adequado".


A depressão, sendo uma doença complexa, que afeta todo o funcionamento da pessoa, "tem de ter formas integradas de tratamento", defendeu a médica. Os fármacos, apenas, "não são suficientes". O próprio médico "tem que criar um ambiente em que o doente se sinta capaz de exprimir o que se está a passar com ele" e utilizar "formas integradas de tratamento". Nomeadamente, devem ser acionadas "psicoterapias estruturadas" e "técnicas psicossociais que ajudam o doente a adaptar-se à doença".






Luís Câmara Pestana e Maria Luísa Figueira

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