«O diagnóstico intraparto do Streptococcus do Grupo B permite-nos tomar decisões mais seguras»

"As infeções pelo Streptococcus do Grupo B, apesar de não serem necessariamente as mais comuns a nível neonatal, podem ter consequências graves", afirma Fernando Costa, médico obstetra da Maternidade Dr. Daniel Matos, da ULS Coimbra.

Em declarações à Just News, explica que a questão deve ser abordada em dois níveis: "a possibilidade de realizar um rastreio universal em todas as grávidas e o fato de que as grávidas colonizadas podem transmitir a bactéria durante o parto, resultando em complicações neonatais significativas."

Alertando para o facto de que "uma sépsis neonatal por Streptococcus do Grupo B pode ser suficientemente grave, mais ainda no contexto de prematuridade", Fernando Costa indica que as consequências podem incluir "sépsis neonatal, meningite e pneumonia, especialmente no período neonatal precoce".

"Inovações no diagnóstico intraparto de GBS: O projeto de Coimbra"

Quanto à possibilidade de ser realizado o rastreio intraparto na Maternidade Dr. Daniel Matos, refere que "esta hipótese facilita a nossa vida, pois permite-nos englobar grávidas que até agora escapavam ao protocolo, seja por não terem consultas, por qualquer razão que impedisse o rastreio atempado nos cuidados de saúde primários ou a nível hospitalar, ou por terem tido o parto antes das 35 semanas".

E acrescenta: "Com esta possibilidade técnica de fazer o rastreio intraparto, ou imediatamente antes do parto, conseguimos uma abrangência quase universal. Facilita-nos a vida e aumenta a nossa capacidade de resposta em relação ao número de grávidas colonizadas pelo Streptococcus do Grupo B."

E é precisamente para partilhar a experiência da Maternidade Dr. Daniel Matos nesta matéria que Fernando Costa vai participar no webinar "Inovações no diagnóstico intraparto de GBS: O projeto de Coimbra", que se realiza a 8 de maio, sendo dirigido a profissionais de saúde.



Para o especialista, não há qualquer dúvida de que "qualquer serviço ou maternidade que tenha dificuldades na vigilância da gravidez, beneficiaria muito da existência de um diagnóstico de GBS  intraparto e, neste sentido, creio que será extremamente importante participarem neste webinar e conhecerem a nossa experiência!" 

Arranque do projeto


De acordo com Fernando Costa, a Maternidade Dr. Daniel Matos segue um esquema de vigilância para a gravidez, que inclui casos de baixo e alto risco, "conforme as orientações da Direção-Geral de Saúde (DGS)" e, dentro dessas orientações, faz parte a vigilância do estado de colonização pelo Streptococcus do Grupo B, conforme explica:

"Até agora, o que fazíamos, e de certa forma continuamos a fazer, é o rastreio universal entre as 35 e 37 semanas, em colaboração com os cuidados de saúde primários, na medida em que há uma vigilância partilhada das consultas de baixo risco. Esta tem sido a linha que tem sido seguida pela maternidade."

Entretanto, há cerca de dois anos, "numa conversa profissional com uma colega do serviço de patologia clínica do hospital, surgiu a hipótese de implementar um mecanismo dentro da instituição que nos fornecesse o mesmo tipo de segurança, mas com muito mais rapidez e comodidade para a grávida". E assim começou a ser idealizado o Projeto de Diagnóstico Intraparto de Streptococcus do grupo B (GBS), através do sistema GeneXpert.


Fernando Costa

"Evitamos dar antibióticos desnecessários"

Segundo o médico, "apesar das dificuldades, o seguimento das gravidezes tem sido razoavelmente bom. Temos a tecnologia disponível há mais de um ano e, felizmente, a maioria das grávidas tem conseguido fazer o rastreio entre as 35 e 37 semanas, conforme as normas da DGS. Portanto, o número de grávidas que nos chegam sem o rastreio é relativamente baixo."

No entanto, adverte que "o panorama epidemiológico tem-se alterado, e têm chegado muitas mais grávidas de diferentes origens", pelo que "temos recorrido a esta tecnologia devido a estas novas necessidades". E quanto aos resultados? "São favoráveis", afirma, desenvolvendo a ideia:

"Recorremos menos à administração de antibióticos quando o rastreio dá resultado negativo, salvaguardando algumas mulheres de uma administração desnecessária. Em resumo, conseguimos ter um filtro mais apertado e fidedigno, mais completo e com mais segurança, o que beneficia a todos, principalmente as grávidas."

Fernando Costa adianta que têm tido "vários casos de positividade em testes feitos utilizando esta metodologia, que poderiam ter tido resultados diferentes se não tivessem sido realizados" e dá um exemplo concreto:

"Uma grávida com ruptura prematura de membranas mesmo inferior a 18 horas, tem um fator de risco maior para transmissão do Streptococcus, caso esteja colonizada, o que pode causar uma infeção neonatal grave. Se o teste der negativo, não administramos antibióticos, a menos que haja outro motivo obstétrico. Multipliquemos isso por 10 ou 100 grávidas, e vemos que estamos a atuar a vários níveis."

E acrescenta: "Evitamos dar antibióticos desnecessários e reduzimos a resistência aos antibióticos a nível hospitalar. Tudo o que pudermos fazer para minimizar essas consequências é benéfico. Sem este diagnóstico, poderíamos ter perdido tempo valioso durante o trabalho de parto. Com um dado concreto, sabemos se a mulher está colonizada ou não, o que nos permite tomar decisões mais seguras e evitar medicações desnecessárias."

Vantagens "deste tipo de equipamento"

Desafiado a perspetivar o futuro do diagnóstico de GBS no contexto obstétrico em Portugal, afirma que, "infelizmente, não será uma prioridade em muitos locais. Mas deveria ser, porque estamos a falar de consequências potencialmente muito graves para a mãe e para o recém-nascido".

E é de opinião que "qualquer serviço ou maternidade que tenha dificuldades na vigilância da gravidez, especialmente em colaboração com os cuidados primários, beneficiaria muito da existência deste tipo de equipamento junto ao local onde ocorre o parto. Isso seria uma grande vantagem, ainda mais do que para nós, que já somos privilegiados."

De inscrição gratuita, o webinar "Inovações no diagnóstico intraparto de GBS: O projeto de Coimbra" realiza-se dia 8 de maio, sendo dirigido a profissionais de saúde com interesse no tema.

Além de Fernando Costa, a iniciativa, organizada pela Cepheid, conta com a intervenção de Catarina Chaves, responsável do Setor de Bacteriologia do Serviço de Patologia Clínica da ULS de Coimbra.


A inscrição pode ser efetuada aqui.

 

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