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Luta contra a diabetes: «precisamos cada vez mais destas unidades»

“Acredito nas unidades coordenadoras funcionais da diabetes (UCFD), precisamos cada vez mais destas unidades na luta contra a diabetes.” As palavras são de Cristina Valadas, coordenadora do Programa Nacional para a Diabetes da Direção-Geral da Saúde (PND-DGS), proferidas no decorrer da sua intervenção no 1.º Fórum das UCFD da Região Centro. O evento decorreu no final de novembro, em Coimbra, sob o lema: “Rumo às melhores práticas...”.



A responsável, numa conferência inaugural sobre “Programa Nacional para a Diabetes/Papel das UCFD”, relembrou o Despacho 3052/2013, que levou à criação das UCFD, e o seu impacto na luta contra uma doença cuja prevalência, em Portugal, é de 13,3%, segundo o relatório do Observatório Nacional da Diabetes 2016.

“Estamos perante meio milhão de portugueses com diabetes mellitus (DM), sendo que cerca de metade desconhece ter a doença”, referiu. Cristina Valadas, que é diretora do Serviço de Endocrinologia do Hospital Beatriz Ângelo, mencionou ainda que o facto de, segundo o mesmo relatório, a mortalidade padronizada ter diminuído nos últimos anos não evita que os números da DM continuem a ser “assustadores”.


Rui Duarte, Cristina Valadas e Hélder Ferreira

Mais diálogo e proximidade entre colegas

Face a esta realidade, Cristina Valadas fez questão de sublinhar que as UCFD têm um papel importante quer na prevenção como no tratamento e diagnóstico da DM.

“A principal estratégia do PND-DGS é a prevenção e o diagnóstico precoce. Cabe a estas unidades assegurar esses dois aspetos localmente. O Programa Nacional não resulta se as pessoas no terreno não o colocarem em prática”, observou.

E continuou: “Integrei a UCFD Loures/ Odivelas e tenho plena consciência de que é mais fácil discutir um caso clínico com os colegas que conhecemos do que fazer apenas pedidos através do sistema informático.”



Cristina Valadas reconheceu que uma das principais vantagens das UCFD é permitir aos profissionais de saúde discutir planos de atividades em conjunto: “As pessoas sentam-se, conversam e discutem os objetivos que devem atingir e as soluções para os problemas que enfrentam no seu dia-a-dia.”

Desafio Gulbenkian “Não à Diabetes”

Fazendo um resumo das medidas do PND, a responsável mostrou-se satisfeita com os últimos avanços no Desafio “Não à Diabetes” da Fundação Calouste Gulbenkian. “Começou com alguns atrasos, mas, neste momento, está em força e esperamos chegar a todo o País”, afirmou.



Relembre-se que o Desafio Gulbenkian “Não à Diabetes” é um programa de prevenção e de diagnóstico precoce que tem como objetivo evitar que 50 mil pré-diabéticos desenvolvam a doença nos próximos cinco anos e identificar, no mesmo período, 50 mil diabéticos que desconheçam ser portadores da mesma.

Na prática, faz-se a avaliação de 25% do total de população adulta (20-79 anos) dos 160 municípios participantes, mediante a aplicação do questionário de avaliação de risco FINDRISK, adotado pelo PND-DGS.



Retinopatia diabética: Criação de Grupo de Trabalho

Quanto ao tratamento, Cristina Valadas relembrou a realização de um levantamento das assimetrias regionais por parte do PND-DGS. “É preciso saber qual é exatamente a realidade para serem tomadas medidas que vão ao encontro das necessidades locais, daí que já se tenha iniciado uma avaliação das condições que existem na área da retinopatia diabética, uma das principais comorbilidades da DM”, informou.

E continuou: “Já foi criado, inclusive, um Grupo de Trabalho para encontrar soluções nacionais para o rastreio desta complicação da diabetes, de forma a serem identificadas soluções que deem resposta.”

Cristina Valadas informou que outras comorbilidades vão ser analisadas: “É incomportável avaliar cada uma das complicações associadas à diabetes em simultâneo, mas avançaremos, mais tarde, com projetos deste âmbito, porque apenas contactando as pessoas no local se pode ter a noção exata do que se passa.”

No final, deixou uma mensagem aos profissionais que participaram no fórum: “Conto com todos na luta contra a diabetes.” E relembrou que também é preciso envolver os doentes, capacitando-os.

Constrangimentos na articulação não impedem melhorias

Hélder Ferreira, coordenador do Programa da Diabetes da Região Centro e presidente do fórum, também se mostrou preocupado com a realidade da DM. “A diabetes é um dos principais fatores de risco para as doenças que mais matam, como as cardiovasculares, as renais ou o cancro”, referiu.

Além disso, “é responsável direta por problemas de saúde que põem em causa a funcionalidade, como é a cegueira ou a amputação, resultando daí elevados custos pessoais, sociais e para o sistema de saúde”.

Como sublinhou, “o diagnóstico precoce e a intervenção atempada diminuem substancialmente o risco de complicações na DM, sendo essencial a avaliação de risco para uma melhor adequação dos cuidados”.

Neste âmbito, o responsável enalteceu a importância do trabalho desenvolvido pelas UCFD e que envolve outros setores além da Saúde, como a Educação, o Urbanismo e a Segurança Social.



E salientou que, “apesar de as UCFD não terem evoluído como esperado face a constrangimentos na articulação de cuidados, já se notam melhorias na forma como se tratam as pessoas com diabetes”. E deu um exemplo: “Na região Centro já tinham sido criadas consultas autónomas da diabetes antes das UCFD, mas com estas unidades verifica-se uma maior regulamentação e clarificação no trabalho desenvolvido.”

Hélder Ferreira deixou um alerta: “Se não se tomarem medidas energéticas, envolvendo os profissionais de saúde e os utentes, para travar a progressão desta epidemia, as gerações futuras vão questionar-se por que razão não fizemos nada.”

O presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, Rui Duarte, também presente, apontou, por sua vez, para o facto de este fórum ter acontecido por iniciativa dos próprios médicos e enfermeiros que lidam com este problema de saúde todos os dias e que estão “preocupados com o flagelo que é a diabetes”.

Para o especialista em Medicina Interna, este é um sinal de que, apesar dos números da doença, há pessoas que se dedicam todos os dias à luta contra a DM.



Pensar e identificar "constrangimentos de implantação"

O encontro contou com vários momentos de partilha entre os vários profissionais de saúde. Ainda de manhã, decorreu um workshop sobre “O presente, olhando o passado com os olhos no futuro”, que contou com o envolvimento dos facilitadores João Filipe Raposo, diretor clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e Joana Domingues, especialista em competências em liderança.

O objetivo foi organizar uma dinâmica de grupo que permitisse aos participantes "pensar, individualmente e em grupo, nos planos de atividades das UCFD que integram, nos constrangimentos de implantação e reconhecimento das mesmas, nas suas motivações como profissionais de saúde e nas estratégias e técnicas de resolução de conflitos".



Além de se ter relembrado os dados do relatório do Observatório da Diabetes 2016 e de se ter discutido o passado, o presente e o futuro da interligação entre cuidados primários e hospitalares, as várias UCFD da região Centro apresentaram as suas boas práticas e preocupações.

Estiveram assim presentes as seguintes UCFD: Pinhal Interior Sul e Beira Interior Sul/ULS de Castelo Branco; ULS Guarda; ACeS Dão Lafões; ACeS Baixo Vouga; ACeS Pinhal Litoral e ACeS Cova da Beira.

No final, todos concordaram que este tipo de iniciativas deve continuar, para que haja partilha de conhecimentos e de experiências. Hélder Ferreira chegou mesmo a referir que seria importante voltar-se a organizar o encontro das UCFD a nível nacional, como já aconteceu em 2014 e 2015 e que, aliás, a Just News acompanhou.



A reportagem completa sobre o Encontro pode ser lida no Jornal Médico de dezembro.

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