Doença renal crónica: «Podemos protelar o envio dos utentes para os cuidados hospitalares»
É já dentro de dias que se realiza a 3.ª edição de Hot Topics em Medicina Geral e Familiar, um projeto de médicas internas das USF Garcia de Orta e Serpa Pinto, que decorre em formato exclusivamente online. "Já contamos com mais de 350 inscritos", adianta Ana M Matias, da Comissão Organizadora.
Em declarações à Just News, explica os motivos, "que são vários", para a doença renal crónica ser um dos dois temas em debate nesta edição:
"Primeiramente, porque Portugal é um dos países com prevalência mais elevada de Doença Renal Crónica (DRC)-. Adicionalmente, a DRC é uma patologia que cursa com diminuição da esperança de vida e necessidade de particular atenção a qualquer ajuste farmacológico. Leva também ao aumento do risco cardiovascular e evolução de doença óssea e metabólica."
A médica interna da USF Garcia de Orta lembra também que "o médico de família pode e deve ter um papel fundamental na intervenção precoce, nomeadamente, com o controlo dos fatores de risco cardiovasculares, prevenindo o desenvolvimento da DRC ou atrasando a sua evolução".
No seguimento desta ideia, considera que "cabe aos médicos de família o seguimento regular do doente idoso, hipertenso ou diabético, mas também dos adultos saudáveis, todos eles em risco de DRC". Um papel crucial até porque "o médico de família acaba por ser, na maioria das vezes, o responsável pelo diagnóstico de doença renal crónica e sua gestão inicial."
Elementos da Comissão Organizadora
Uma intervenção que permite "protelar o envio dos utentes para os cuidados hospitalares"
Francisca Ornelas, que integra igualmente a Comissão Organizadora, reforça a importância da abordagem deste tema, até porque "a intervenção do médico de família vai muito para além da referenciação à consulta de Nefrologia". E de que forma? "Quer pelo controlo de fatores de risco cardiovasculares, como abordado em cima, quer pela capacidade de investigação etiológica pré referenciação."
Na sua opinião, o médico de família tem ao seu dispor meios complementares de diagnóstico que "permitem caracterizar pormenorizadamente o estadio da DRC e excluir diagnósticos diferenciais importantes que podem, inclusive, alterar a orientação do doente".
E porque "o médico de família acompanha o Ser Humano ao longo do seu ciclo de vida, atua nos diversos eixos de promoção da saúde e prevenção da doença", afirma a médica interna da USF Serpa Pinto.
E acrescenta: "Desejavelmente a nossa intervenção precoce e atempada poderá não só prevenir a doença como, quando já estabelecida, atrasar a sua progressão natural e mesmo protelar o envio dos utentes para os cuidados hospitalares para início de técnicas de substituição renal."
Interpretação de hemogramas e leucogramas
Da parte da tarde, o programa do III Hot Topics em MGF conta com a intervenção de médicos internos de Hematologia.
A propósito da escolha deste tema, Francisca Ornelas lembra que "a Medicina Geral e Familiar é uma especialidade que se caracteriza pela vastidão da sua abrangência". E, dessa forma, "faz parte da nossa formação contínua o diálogo com as especialidades hospitalares para promovermos o aprimoramento dos fluxogramas de atuação perante os exames auxiliares de diagnóstico mais comuns, de entre os quais se destacam o hemograma e o leucograma".
A III edição de Hot Topics em MGF realiza-se dia 10 de maio, em formato online
Comissão Científica inclui orientadores de formação
Uma das características do projeto Hot Topics é o facto da sua Comissão Organizadora integrar os orientadores de formação. A explicação é dada por Maria Moreira, médica interna da USF Serpa Pinto e elemento da Comissão Organizadora:
"Quer pela extensa experiência a nível da prática clínica que possuem, quer pela sua responsabilidade formativa, os que melhor sabem orientar e indicar os temas a escolher com maior relevância e impacto no momento atual do estado do conhecimento médico."
Quanto ao facto da organização integrar exclusivamente médicas internas das USF Serpa Pinto e Garcia de Orta, explica como tudo começou: "A ligação entre as duas unidades iniciou-se com os internos que previamente completaram a sua formação nas mesmas, tendo-se mantido e expandido esta sinergia aos atuais internos que, reconhecendo o valor destas sessões clínicas, pretendem assim dar continuidade às mesmas."
E assegura que a convicção de toda a equipa é que "estamos a honrar os esforços encetados pelos antigos internos, agora especialistas, na implementação deste projeto com tanto carinho e com uma finalidade tão nobre como a atualização científica de forma acessível a todos".
"Todos serão muito bem vindos"
Para Maria Moreira, o balanço do Hot Topics, que arrancou em janeiro de 2021, "em plena pandemia e depois de vários períodos rigorosos de confinamento", é bastante positivo.
A médica interna indica que a pandemia impulsionou uma "mudança na estrutura dos congressos médicos, particularmente na amplificação do formato digital". Entretanto, depois do retorno à normalidade, "esta iniciativa enriqueceu-se graças aos contactos presenciais interpares, mantendo a tradição do formato digital".
A inciativa, que se realiza dia 10 de maio, é dirigida a "todos os médicos internos e especialistas do país, que serão muito bem vindos. Esperamos que esta edição do Hot Topics seja cativante e proveitosa para todos. Somos da opinião de que este tipo de iniciativa ganha com a participação de mais e mais colegas, de forma a contar com opiniões diversas e de realidades distintas."
E acrescenta: "Sendo a Medicina Geral e Familiar a porta de acesso dos utentes ao sistema de saúde, bem como o pilar do mesmo, esperamos que se estabeleça um diálogo que se deseja aberto e profícuo com todas as especialidades. O nosso desejo de convidar todas as especialidades para o Hot Topics mais não faz do que concretizar a nossa postura na prática clínica diária. E mais…"
O programa pode ser consultado aqui.
A inscrição (gratuita) pode ser efetuada aqui até ao final do dia de hoje.
Mais informações aqui. Contacto: hottopicsemmgf@gmail.com