Doenças gastrenterológicas: a necessidade do médico de família «referenciar de forma eficaz»

À semelhança do que acontece um pouco por todo o mundo, em Portugal, a prevalência de doentes com problemas do foro gastrenterológico e hepatológico tem vindo a aumentar, fruto dos hábitos adquiridos na sociedade moderna.

Em entrevista à Just News, publicada na última edição do Jornal Médico, José Cotter, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), afirma que o papel do médico de família no âmbito das patologias gastrenterológicas é indiscutível porque, desde logo, “como é normal e recomendável, os cidadãos acorrem em primeiro lugar a este especialista”.

Assim, o especialista de Medicina Geral e Familiar (MGF) deve, "não só saber abordar a situação, mas também referenciar de forma eficaz os cidadãos que padecem destas doenças".

O presidente da SPG, que assume igualmente o cargo de diretor do Serviço de Gastrenterologia do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, considera que o médico de família também é particularmente importante na referenciação precoce dos doentes com hepatites víricas para as consultas de Gastrenterologia. Explica que estas “são doenças que, quando tratadas atempadamente, são perfeitamente controladas e isentas de complicações, mas, se isso não acontecer, podem evoluir para cirrose hepática ou cancro do fígado”.

No cancro colorretal, o médico de família assume, segundo José Cotter, o papel mais importante de todos, nomeadamente no rastreio. “Muito mais do que a lesão precoce, é importante diagnosticar a lesão pré-cancerosa”, sublinha, desenvolvendo que o diagnóstico dessa lesão pré-cancerosa (que pode ser resolvida definitivamente) passa pela realização da colonoscopia a partir dos 50 anos no utente assintomático, evitando que a situação evolua para cancro do intestino.

Obesidade e sedentarismo

Ao longo da entrevista, José Cotter chama a atenção de que a obesidade, associada de forma direta ou indireta ao sedentarismo, assume uma responsabilidade muito elevada no aparecimento de doenças do foro gastrenterológico, como, por exemplo, a esteatohepatite e o fígado gordo não alcoólico (que podem evoluir para cirrose hepática e, consequentemente, para cancro do fígado) e o cancro digestivo.


SPG rejeita
 redução da comparticipação das colonoscopias

Uma das preocupações da SPG é a redução da comparticipação das colonoscopias, que foi equacionada recentemente pelo ministro da Saúde, no âmbito da Comissão Parlamentar da Saúde.

“Entendemos que é extemporâneo reduzir a comparticipação nos valores que são pagos para as colonoscopias realizadas ao abrigo dos acordos com o SNS, na medida em que esses preços foram estabelecidos muito recentemente, mas também porque tememos que isso possa acarretar uma diminuição da qualidade e da segurança, para além de dificultar extraordinariamente a acessibilidade dos cidadãos à colonoscopia, devido à diminuição de prestadores”, refere José Cotter.

A Direção da SPG defende que, tendo em conta que o cancro colorretal é o que mais mata e os dados mais recentes mostram que continua a aumentar, “é incongruente estar a desinvestir” e a reduzir a possibilidade de os doentes fazerem colonoscopias. “Queremos combater a doença e a política que aparentemente se quer seguir é de afrouxar esse combate no campo da prevenção.”



A entrevista completa com José Cotter pode ser lida na edição de maio do Jornal Médico, onde aborda outros temas, nomeadamente, o papel ativo da SPG no combate às doenças gastrenterológicas, apoiando a investigação e o ensino pós-graduado.

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