DPOC: «Os aeroportos não estão preparados para os doentes que usam oxigénio»
Para um doente com DPOC que use oxigénio, viajar de avião e estacionar o carro perto de casa podem não ser tarefas fáceis, alertou Isabel Saraiva, vice-presidente da Associação Respira, no encerramento das 4.as Jornadas do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP) da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).
Isabel Saraiva dirigia-se a todos os que estavam presentes na sala, incluindo quem partilhava consigo a mesa de encerramento – Rui Costa, coordenador do GRESP, Elisa Pedro, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), Miguel Pereira, da APMGF, e ainda Cláudia Vicente e Rui Oliveira, do GRESP.
Pagar um bilhete "para a garrafa de oxigénio"
“Uma pessoa com DPOC que usa oxigénio não consegue viajar quando quer, mas quando a deixam. Tem de preencher um documento que precisa depois de submeter ao médico da companhia aérea escolhida e esperar que o mesmo seja deferido. No final do processo, tem de pagar um bilhete de avião para ela própria e outro para a garrafa de oxigénio”, denunciou aquela responsável, que é também presidente eleita da Fundação Europeia do Pulmão.
O problema sublinhado pela responsável mantém-se ao longo dos anos, apesar de ter sido já alvo de uma ampla discussão pública, a propósito do estudo "Viajar de avião na Europa com oxigénio" (promovido pela Federação Europeia das Associações de Pessoas com Alergias e Doenças das Vias Respiratórias e pela Fundação Europeia do Pulmão), que foi apresentado no final de 2014.
"Um verdadeiro pesadelo"
Segundo Isabel Saraiva, que sofre de DPOC, “os aeroportos não estão preparados para os doentes que usam oxigénio. “Os pórticos apitam quando os doentes passam”, refere, sublinhando que se trata de “um verdadeiro pesadelo e de um caso de discriminação”.
Por outro lado, os doentes com DPOC veem-se ainda obrigados, por vezes, a ter de deixar os seus carros a distâncias muito consideráveis porque os dísticos que permitem o parqueamento perto das casas são exclusivamente para pessoas com dificuldades motoras.
Reabilitação respiratória: "Os doentes precisam de acompanhamento"
Outra das dificuldades que os doentes enfrentam prende-se com o acesso limitado à reabilitação respiratória. De acordo com Isabel Saraiva, apenas 1% dos doentes com indicação para este tratamento para a doença respiratória cónica têm acesso ao mesmo. Mas, além disso, há o aspeto da adesão à reabilitação respiratória. “Os doentes precisam de informação, de acompanhamento e de serem encorajados a manter o programa de tratamento até ao fim”, sublinhou.
A Respira é uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) de âmbito nacional criada há 10 anos e que tem como missão contribuir para a prevenção e tratamento das doenças respiratórias e defender os direitos e interesses dos doentes respiratórios crónicos.
Jornadas com número recorde de inscrições
Na sessão de encerramento das 4.as Jornadas do GRESP, Rui Costa fez questão de agradecer a todos os que contribuíram para o "enorme sucesso" desta edição, que decorreu em Coimbra e que registou o maior número de inscritos de sempre (cerca de 650).
A par da intensa partilha e atualização de conhecimentos científicos que a reunião possibilitou, o coordenador do GRESP fez questão de deixar bem claro qual o propósito central do evento:
“Espero que estas Jornadas possam contribuir para que, já a partir de amanhã, o trabalho que cada um vai desenvolver nas suas unidades de saúde possa refletir-se em melhores cuidados de saúde para todos os doentes respiratórios que temos ao nosso cuidado".
GRESP e SPAIC consolidam parceria
Não podendo estar presente, Cristina Bárbara, coordenadora do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, fez chegar uma mensagem de agradecimento ao GRESP, lida por Rui Costa, tendo aproveitado para salientar “a elevada colaboração que elementos do GRESP têm tido, na qualidade de consultores, no desenvolvimento de estratégias, de normas de orientação clínica e de documentos de boas práticas”.
Miguel Pereira e Elisa Pedro.
Por sua vez, Elisa Pedro sublinhou a importância do protocolo que foi assinado, em 2014, entre o GRESP e a SPAIC, que tem resultado numa colaboração profícua, que se tem consolidado e que tem permitido divulgar, discutir e aprofundar conhecimentos sobre as doenças alérgicas respiratórias.
Um dos dois folhetos apresentados no evento - sobre rinite - foi, aliás, elaborado em parceria com o Grupo de Interesse de Rinite da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).
Miguel Pereira, da APMGF, manifestou a vontade de que as Jornadas continuem a ser “um marco muito importante na formação dos médicos de família e da APMGF”.