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Enfermagem com «papel de catalisador» no rastreio do cancro do colo do útero

Para assinalar o Dia Internacional da Mulher, o Hospital Garcia de Orta (HGO) realizou um webinar sobre “Saúde da Mulher – O papel dos rastreios na promoção da saúde da Mulher”. A responsável foi a enfermeira Vânia Leitão, especialista em Saúde Materna e Obstetrícia da Consulta de Enfermagem de Saúde da Mulher do HGO, que sublinhou a necessidade de se investir "sempre numa abordagem multidisciplinar" e apostar numa “relação de proximidade” com as utentes na luta contra o cancro do colo do útero (CCU).

“É fundamental que a mulher seja informada e sensibilizada para manter a sua vigilância, dos 30 aos 65 anos no Programa de Rastreios do Cancro do CCU, mesmo depois de já ter tratado alguma lesão. O rastreio salva vidas”, disse à Just News Vânia Leitão.

Sendo o CCU o 3.º cancro mais frequente no mundo na população feminina e o 2.º mais frequente em mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 45 anos, é importante apostar na informação de um problema que “rouba a vida a mulheres em idades jovens”. Salientou ainda que “não é a infeção por HPV só por si que é relevante, mas sim a persistência da mesma ao longo dos anos”.

Vânia Leitão defendeu que o combate contra o CCU só atinge bons resultados, quando se trabalha em equipa multidisciplinar, envolvendo cuidados primários e secundários, nunca esquecendo a própria mulher, que deve manter a vigilância por esta infeção poder ser assintomática. Nos últimos anos, acresce-se ainda a vacinação, que faz parte do Plano Nacional de Vacinação, já que se estima que a infeção afete 80% da população sexualmente ativa.


Vânia Leitão

A Enfermagem tem assim um papel-chave quando se trata de sensibilizar para a relevância do programa de rastreio do CCU. A responsável considerou mesmo que “o enfermeiro tem um papel preponderante no incremento e incentivo na adesão ao rastreio, assim como na educação da mulher para a adoção de estilos de vida saudáveis. Assume, de facto, um papel de catalisador da mudança de comportamentos.”

Mas, para o efeito, é necessário criar-se “uma relação de proximidade”, para que a mulher se sinta à vontade para esclarecer dúvidas. “É fundamental, porque a infeção por HPV ainda tem associada dois estigmas: cancro e infeção sexualmente transmissível; é importante retirar esta carga de ansiedade que tem impacto na sua saúde global.”

No entanto, acrescentou, “também é imprescindível usar de um equilíbrio neste discurso, pois é crucial tranquilizar, mas em simultâneo responsabilizar/sensibilizar para a importância da manutenção da vigilância e da adesão ao plano terapêutico.”



HPV não é o único foco

Essa é assim a principal missão da Consulta de Enfermagem da Saúde da Mulher, que integra o algoritmo do rastreio do CCU, desde que o HGO passou a ser Centro de Referência de Leitura de Testes HPV e Citologias Reflexas da Península de Setúbal, em 2018. “Tem sido, sem dúvida, uma mais-valia para a qualidade assistencial, com ganhos efetivos para a saúde da mulher”, indicou Vânia Leitão.

A enfermeira e a restante equipa investem assim sempre na informação e na sensibilização, desmistificando algumas ideias pré-concebidas, tais como a infeção por HPV ser inevitavelmente sinónimo de cancro. “É de salientar que, na maioria das situações (80-90%), a resolução da infeção por HPV é espontânea (ocorrendo no decurso dos primeiros 2 anos) pela nossa imunidade natural. Mas, por outro lado, nas situações em que a infeção é persistente constitui-se como um fator de risco para o desenvolvimento da doença.”

O apoio à mulher não se cinge, contudo, apenas a tudo o que diga respeito a HPV. “É um momento privilegiado para a identificação também de outras necessidades, nomeadamente ao nível da sexualidade, contraceção, planeamento familiar, prevenção do cancro da mama, incontinência urinária, transição para a menopausa e tantos outros temas, que conduzem à promoção da sua saúde e ao seu empoderamento.”



Um trabalho que, assegurou, se manteve durante este tempo de pandemia, já que, mesmo antes, já se recorria à TeleSaúde. Além disso, deram resposta a todos os casos referenciados pelos cuidados de saúde primários. “A covid-19 veio abrandar a referenciação à Consulta de Colposcopia. No entanto, mantivemos sempre a nossa atividade, dando resposta às situações de maior gravidade clínica e neste momento não temos lista de espera para estas situações.”

No webinar, organizado pela Comissão de Humanização do HGO, Vânia Leitão foi a única preletora. Além do tema do CCU, houve ainda tempo para uma atividade online sobre exercício físico no posto de trabalho, uma pequena sessão de meditação (mindfulness) e uma sessão de homenagem a três colaboradoras do HGO, em destaque no livro “SNS:40 anos ímpares - 40 mulheres notáveis” da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar.


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