Estudo revela que 1 em cada 4 doentes de lúpus toma corticoides há mais de 10 anos
"Apesar dos avanços da medicina, o tratamento do lúpus ainda apresenta desafios significativos para os doentes, nomeadamente no que toca aos efeitos secundários da medicação mais comummente utilizada, os anti-inflamatórios", afirma Rita Mendes, presidente da Associação de Doentes com Lúpus (ADL), a propósito do Dia Mundial das Doenças Reumáticas, que se assinala a 12 de outubro.
A responsável destaca os resultados de um inquérito recente da World Lupus Federation, que revela "dados alarmantes sobre a utilização destes medicamentos anti-inflamatórios e o impacto que têm na vida dos doentes".
O estudo demonstra que 91% dos doentes com lúpus usam ou usaram corticoides de forma habitual, sendo que 3 em cada quatro (75%) tomam há mais de um ano e 27% (mais de um em cada quatro) há mais de uma década. Esta realidade traduz-se "num risco significativamente aumentado de efeitos secundários graves, como diabetes, problemas cardíacos e osteoporose". Esse é, aliás, considerado pela ADL como "um dos maiores receios das pessoas com lúpus: 96% expressam preocupação e sublinham a necessidade de discutir opções terapêuticas com o seu médico assistente".
Segundo Rita Mendes, este inquérito realça a importância de "oferecer aos doentes com lúpus outras opções terapêuticas, que minimizem os efeitos secundários e permitam uma melhor qualidade de vida a longo prazo", sublinhando que "a informação, o diálogo entre médico e doente e um diagnóstico precoce são essenciais para alcançar este objetivo".
Também José Alves, diretor da unidade de doenças imunomediadas sistémicas do Hospital Fernando Fonseca, chama a atenção para o impacto dos corticoides, que "são uma espécie de empréstimo a prazo, em que os juros vão aumentando muito com o tempo. É fundamental que os doentes sejam informados sobre os riscos e benefícios da medicação e que sejam exploradas todas as alternativas terapêuticas disponíveis".
A necessidade de partilha de informação e de uma abordagem terapêutica mais personalizada é, aliás, sublinhada pelo inquérito. Cerca de 39% dos doentes "não se sentem envolvidos nas decisões sobre o seu tratamento", o que pode contribuir para a frustração e para a diminuição da adesão à terapêutica.