Exame Europeu de Obstetrícia e Ginecologia decorreu mais uma vez em Lisboa
Após a realização de um exame online, em março, para avaliação de conhecimentos usando perguntas de escolha múltipla, uma seleção de candidatos juntaram-se no final de junho, no Centro de Simulação Avançada da FMUL, para avaliação das suas competências clínicas, através de exames clínicos objetivos estruturados (OSCE).
Mais uma vez, Lisboa acolheu um conjunto de médicos obstetras e ginecologistas do mundo inteiro com interesse em obter a certificação europeia da especialidade. A maior diferença residiu no número de candidatos, que, nas primeiras edições, chegou a ser de meia centena e no ano passado reuniu duas dezenas, enquanto desta vez rondou apenas uma dezena, o que se deveu essencialmente ao atraso na emissão dos vistos e à possibilidade de o exame ser realizado também no Dubai.
“Há muitos candidatos oriundos do Médio Oriente, por precisarem desta certificação para progredir na carreira, alguns dos quais pediram o visto há cerca de quatro meses e não obtiveram uma resposta atempada”, lamenta Diogo Ayres de Campos, coordenador deste exame promovido pelo European Board & College of Obstetrics and Gynaecology.
A alternativa, para esses profissionais, é candidatarem-se à segunda época do exame, que irá decorrer no Dubai, em novembro. Diogo Ayres de Campos informou que está a ser considerada “a hipótese de o exame transitar de Portugal para outro país do leste europeu, onde exista maior facilidade na obtenção de vistos de entrada, nomeadamente a Turquia ou a Grécia”.
Diogo Ayres de Campos
Uma das características que lamenta que se percam, com a possível mudança de local, é o recurso às atrizes profissionais portuguesas, que, desde 2019, altura em que o exame começou a ser realizado em Portugal, “desempenham um trabalho excelente nos guiões dos cenários construídos”.
O menor número de candidatos justificou também uma redução no número de examinadores, que, este ano, foi de cinco, oriundos de Portugal (2), Grécia (1), Eslovénia (1) e Dinamarca (1), cerca de metade dos nove que se registaram em 2023.
O médico, que preside à Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia, enaltece a importância desta parte mais prática do exame enquanto “garantia de que os médicos reúnem as competências clínicas necessárias para exercer a profissão com qualidade no espaço europeu”.
Diogo Ayres de Campos aponta como uma das justificações para o escasso número de candidatos portugueses o facto de o exame ser realizado em inglês: “Enquanto a realização de um exame teórico em inglês não levanta grandes dificuldades, o mesmo não se pode dizer face à avaliação de competências clínicas, que é mais desafiante, por não estarmos habituados a falar com os doentes em inglês.”
Contudo, independentemente de ser realizado em português ou inglês, não tem dúvidas de que o caminho passa pela implementação de um modelo de exame semelhante em Portugal. E avança que este tipo de avaliação está a ser programada para o exame final de internato que irá ocorrer em fevereiro de 2026, por decisão do Colégio da Especialidade. Irá ocorrer um teste de escolha múltipla, seguido de um exame clínico objetivo estruturado. “Estamos a caminhar no sentido de as nossas avaliações serem feitas em moldes muito semelhantes”, evidencia.
O médico coordena a componente prática do exame europeu desde a sua criação, que já aconteceu em Norwich (2016), Amsterdão (2017 e 2018) e Lisboa (2019, 2022 e 2023).
Diogo Ayres de Campos com Luísa Pinto e Catarina Policiano, as duas examinadoras portuguesas
“Este exame é muito importante para uniformizar os critérios e homogeneizar o acesso em termos de conhecimentos e competências”
Ioannis Messinis, que preside à Comissão Examinadora do EBCOG, reconhece que, “à semelhança do que sucede um pouco por toda a Europa, há poucos portugueses a candidatar-se a este exame”, o que considera dever-se ao facto de “os países terem os seus próprios exames nacionais, sendo que apenas Malta adotou o exame do EBCOG como prova nacional”.
Sendo o EBCOG uma secção da European Union of Medical Specialists (UEMS), o profissional realça a tentativa da organização de “expandir os exames das especialidades na Europa, entre eles também o de Obstetrícia e Ginecologia”.
Ioannis Messinis
O médico, que é também docente e diretor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da universidade de Thessalia, Larissa, na Grécia, realça a importância deste exame “para uniformizar os critérios e homogeneizar o acesso em termos de conhecimentos e competências, a partir do ponto de vista da UEMS”.
Ioannis Messinis lembra tratar-se de “um exame de altíssima qualidade, sendo que os candidatos aprovados obtêm uma qualificação muito boa para a sua carreira, independentemente de exercerem a profissão dentro ou fora da Europa. Por isso mesmo é que, provavelmente, este exame é muito atrativo para os profissionais que trabalham em países fora da Europa”.
Exame europeu confere título de fellow do EBCOG
A componente prática só é realizada por aqueles que conseguem ter aprovação no exame teórico prévio. Este ano, essa prova decorreu a 16 de março, em formato online, havendo ainda uma segunda data marcada para 31 de agosto. A data alternativa para o exame prático está agendada para 9 de novembro, no Dubai.
Enquanto a parte teórica tem a duração de seis horas e é composta por vários modelos de perguntas que versam, de modo uniforme, as várias áreas de Ginecologia e Obstetrícia, a vertente prática tem a duração de duas horas e é composta por 10 estações de simulações.
Diogo Ayres de Campos e Ioannis Messinis com examinadores e atrizes
Os profissionais bem-sucedidos serão reconhecidos com o título de fellow do European Board and College of Obstetrics and Gynaecology. Até ao momento, há quatro médicos obstetras e ginecologistas portugueses com este título.