Faltam enfermeiros especialistas na resposta à necessidade de cuidados de reabilitação da população
Belmiro Rocha considera que "não há um aproveitamento cabal" das competências específicas de boa parte destes profissionais. "Estamos a desperdiçar recursos", alerta o presidente da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Reabilitação (APER).
Belmiro Rocha
Estão registados na Ordem dos Enfermeiros cerca de 5500 especialistas em Enfermagem de Reabilitação (ER), mas, garante Belmiro Rocha, “não são suficientes para responder a todas as necessidades de reabilitação da população”. Muitos deles não estão, como é o seu caso, diretamente envolvidos na prestação de cuidados diretos ao doente, assumindo, por exemplo, funções de gestão. Mas esse não é o problema.
“A questão é haver um elevado número de profissionais que, tendo esta especialidade, exercem a sua atividade como enfermeiros generalistas, não havendo um aproveitamento cabal das suas competências específicas, com prejuízo para os doentes que acabam por não ter à sua disposição os cuidados de reabilitação de que necessitam”, refere.
Como não poderia deixar de ser, este foi um dos assuntos abordados na última edição do Congresso Internacional de Enfermagem de Reabilitação (CIER’24). Realizado no Centro de Congressos do Hotel Solverde - Gaia/Espinho, em dezembro, registou 800 participantes, tendo ficado esgotada a capacidade do espaço um mês antes do evento, “constituindo e sendo uma garantia futura de enorme sucesso”, segundo Belmiro Rocha.
O lema do CIER’24 reflete a preocupação transmitida à Just News pelo presidente da APER: “Cuidados de Enfermagem de Reabilitação: um Direito para Tod@s”. Como faz questão em frisar, “efetivamente, sabemos que os cuidados de ER fazem toda a diferença nas atividades de vida diária das pessoas”.
Aspetos considerados prioritários
Mas Belmiro Rocha, que foi presidente do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Reabilitação da Ordem dos Enfermeiros entre 2013 e 2019, afirma haver outros aspetos considerados prioritários nesta área. Incrementar a utilização de indicadores de ER nos CSP e hospitalares, “que se traduzam de forma efetiva nos contratos-programa assinados pelas ULS”, é um deles.
A obrigatoriedade de estes enfermeiros integrarem as Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) e as Equipas de Cuidados Continuados Integrados (EECI), a nível nacional, é outra necessidade apontada por Belmiro Rocha, que acrescenta:
“Também é muito importante consolidar a nossa presença na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), com funções de prestação de cuidados mas também de supervisão e gestão, tal como nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosos (ERPI).”
O presidente da APER lembra que “a população está a envelhecer, com mais comorbilidades, mais dificuldades, mais condicionadas”. E que, “embora nós queiramos fazer uso das novas tecnologias, é indispensável o contacto direto com as pessoas, fazendo, numa primeira fase, os exercícios e os ensinos em contacto/proximidade”.
Prémio Maria de Lourdes Sales Luiz (PMLSL) para enfermeira Helena Almeida
As mais de 300 submissões apresentadas, de comunicações livres, pósteres, fotografias e vídeos de ER, mostram bem a adesão a este Congresso, que teve cinco mesas principais, onde se discutiram os modelos organizacionais de cuidados de saúde, a inovação, o capacitar para a reabilitação, os projetos, programas e financiamento em saúde, e a saúde na comunidade.
De destacar a sessão “A Enfermagem e a Reabilitação no Mundo”, que incluiu comunicações de enfermeiros de diversos países -- do Brasil a Israel, passando pelos EUA e a Alemanha – e a participação de representantes da European Specialist Nurse Organization (ESNO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Durante o CIER’24, foram ainda realizados vários workshops e seminários (com apoio de diversas empresas do setor), tendo sido também apresentada a edição V7N2 da Revista Portuguesa de Enfermagem de Reabilitação (RPER), na sua edição V7N2. “Esta publicação é indexada na SCOPUS desde finais de 2023, constituindo um motivo de orgulho, satisfação e esperança para a Enfermagem e os enfermeiros de Reabilitação portugueses”, comenta Belmiro Rocha.
Belmiro Rocha, Helena Almeida, Isabel Ribeiro e José Manuel Correia
Quanto ao Prémio Maria de Lourdes Sales Luiz, o mesmo foi atribuído à enfermeira Helena Almeida, com um percurso de 46 anos de dedicação à Enfermagem e, em particular, à Enfermagem de Reabilitação. De destacar o facto de ter presidido ao Colégio da Especialidade de Enfermagem de Reabilitação da Ordem dos Enfermeiros nos primeiros dois mandatos (1999-2007) aquando da sua criação.
O Prémio foi apresentado por José Manuel Correia, da APER, e foi entregue por Belmiro Rocha e Isabel Ribeiro, ex-presidente da Associação.
Como vem sendo habitual, o terceiro dia do Congresso (sábado, 7 de dezembro) foi aberto à comunidade, com a realização, no Multimeios de Espinho, do Encontro das Comemorações do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (DIPD), data que se assinala anualmente a 3 de dezembro.
Participaram no evento, para além das autarquias de Gaia e Espinho, o Instituto Nacional da Reabilitação, a Associação NOVAMENTE, a Associação SALVADOR, a Confederação Nacional de Organizações de Pessoas com Deficiência (CNOD) e o Comité Paralímpico de Portugal (CPP).