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Farmácia Hospitalar: proximidade à Farmácia Comunitária «promove adesão à terapêutica»

“Tem que existir proximidade entre a Farmácia Hospitalar (FH) e a Farmácia Comunitária (FC), porque o nosso trabalho é de complementaridade e não de rivalidade.” As palavras são de Paula Campos, presidente do Colégio da Especialidade de Farmácia Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos, que falou à Just News nas XII Jornadas de Farmácia Hospitalar, que decorreram nos dias 14 e 15 de fevereiro, em Lisboa.

Tendo como temática central “Inovar o Futuro”, um dos temas que marcou o primeiro dia das Jornadas, organizadas pelo Colégio da Especialidade, foi a segurança, eficiência e sustentabilidade do medicamento de uso hospitalar.



Para Paula Campos, esta é das questões mais importantes dos próximos tempos, defendendo, “para o bem dos doentes”, a proximidade entre a FH e a FC. “Muitos dos medicamentos de dispensa gratuita no ambulatório já estão disponíveis nas FC, fazendo todo o sentido que assim o seja para se evitar situações complexas como de quem tem de percorrer mais de 300 km, todos os meses, para os levantar.”

Para a responsável, “estes casos não promovem a adesão terapêutica”, contudo, ressalvou, alguns ainda devem ser mantidos no hospital. “Os mais recentes exigem outro tipo de monitorização, daí que, numa fase inicial, devam permanecer na FH, por uma questão de proximidade com a equipa interdisciplinar.”


Paula Campos

Mas, acrescentou: “Não quer dizer que, daqui a uns anos, não se venha a verificar que existe a segurança necessária para também serem levantados na FC. Relembremos que a dispensa na FC não põe em causa o acompanhamento no hospital, este mantém-se inevitavelmente.”

Mas para que a proximidade seja prática corrente em todas as regiões do país, Paula Campos sublinhou que “faltam determinadas condições, como uma plataforma informática que permita maior partilha de informação e outro tipo de financiamento”.


Conselho do Colégio da Especialidade de Farmácia Hospitalar: Pedro Soares, Ondina Martins, João Ribeiro, Paula de Campos, Sameiro Lemos, Luísa Pereira e João Rijo

“Portugal mantém uma centralização muito grande na dispensa do medicamento nas FH”

A proximidade foi também defendida pelos restantes participantes numa mesa redonda sobre o tema. O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Alexandre Lourenço, realçou a importância de se refletir sobre “o contributo da FH no desenvolvimento do hospital do futuro” assim como na forma como esta “se vai adaptar à nova realidade que implica, sobretudo, cuidados mais centrados no doente”.


Francisco Ramos e Alexandre Lourenço

Continuando: “Portugal mantém uma centralização muito grande na dispensa do medicamento nas FH, mesmo na área do Ambulatório, sendo mesmo mais pesada do que o internamento. É preciso encontrar novas estratégias a nível mais local – em FC, centros de saúde- que permitam maior proximidade, a fim se favorecer a adesão terapêutica.”

Também presente na sessão esteve Fernando Araújo, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), que apresentou o projeto Farma2Care.

“No Porto, em Braga e em Viana do Castelo, os doentes do CHUSJ podem levantar medicamentos de uso hospitalar nas FC, mantendo-se a segurança clínica e a qualidade ímpar.” O responsável mencionou ainda que o projeto tem ajudado também “na redução do desperdício e no combate à fraude”.


Fernando Araújo

Tendo começado pelos antirretrovíricos, espera expandir o Farma2Care a outras moléculas, como na área da esclerose lateral amiotrófica e na doença oncológica até ao final do primeiro semestre deste ano. “Evita-se a deslocação dos doentes e cuidadores, melhorando a sua satisfação, mas também se diminui a despesa do hospital.”

Para o futuro espera poder chegar aos doentes do CHUSJ que vivem nas regiões de Vila Real e de Bragança.

A mesa foi moderada por Francisco Ramos, ex-secretário de Estado e professor da Escola Nacional de Saúde Pública. Numa breve intervenção fez questão de dizer que a segurança do medicamento de uso hospitalar “não é um problema”, contrariamente à eficiência e à sustentabilidade que lhe suscitam algumas questões. “Em termos de eficiência, tenho muitas dúvidas que se recorra, sistematicamente, a bons critérios, suficientemente transparentes, quando se trata de escolher medicamentos nos hospitais.”



O também ex-administrador do IPO de Lisboa disse discordar dos farmacêuticos quando dizem que há um problema de acessibilidade. “Existe, sim, uma facilidade excessiva a medicamentos.” Uma questão que tem, segundo referiu, repercussões na sustentabilidade:

“Por um lado, os preços dos medicamentos têm aumentado bastante, por outro os critérios para os novos fármacos são mínimos, permitindo a introdução de alguns sem um conhecimento claro dos seus resultados positivos.”



Hospitalização Domiciliária: “Os farmacêuticos hospitalares são absolutamente imprescindíveis”

Nas Jornadas foram ainda abordadas outras temáticas, como a Inteligência Artificial e, num painel intitulado “Humanização na FH”, os cuidados farmacêuticos em Cuidados Paliativos e na hospitalização domiciliária (HD).

Da HD, esteve presente o responsável pelo Programa nacional, Delfim Rodrigues. Em declarações à Just News, sublinhou o trabalho da FH:

“Os serviços farmacêuticos são, porventura, os que funcionam melhor em ambiente hospitalar, quer no internamento como na ligação com outras áreas, mantendo toda a dinâmica assistencial e de contacto com os doentes.”


Delfim Rodrigues

No caso específico da HD, “os farmacêuticos hospitalares são absolutamente imprescindíveis ou não se estivesse a falar num ponto muito sensível que é o uso destes medicamentos na casa das doentes”. O responsável acrescentou ainda que “a FH não só contribui para um sentimento de confiança e de segurança por parte dos doentes e familiares mas também da própria equipa da HD”.

Homenagem a Odete Isabel

Como habitual, o segundo dia das Jornadas foi marcado pela entrega do Prémio Projeto DIFH - Divulgação de Iniciativas em FH e pelo Prémio Pegadas – Deixe a sua Marca no Percurso da FH, que este ano homenageou a farmacêutica Odete Isabel.


Odete Isabel

Nascida em 14 de julho de 1940, em Montouro, no distrito de Coimbra, residiu desde muito cedo na Mealhada. Tendo terminada a licenciatura em Farmácia na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, em 1964, entre outros, planeou e organizou os Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de Coimbra, que dirigiu até 1994, tendo assumido, de seguida, a direção dos Serviços Farmacêuticos dos HUC até 2010.

Nesse ano foi ainda galardoada com a Medalha dos Serviços Distintos do Ministério da Saúde, Grau Ouro pela ministra da Saúde Ana Jorge, tendo-se aposentado.


Ana Paula Martins, António Faria Vaz e Paula Campos

No evento marcaram presença também, na sessão de abertura, Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, e António Faria Vaz, vice-presidente do Conselho Diretivo do INFARMED.



Foi também anunciado o Prémio Biojam, cujas candidaturas decorrem até 20 de novembro de 2020, sendo conhecido o vencedor nas Jornadas do próximo ano.


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