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Feridas complexas em idosos: «A cicatrização não é o fim último da nossa intervenção»

“O foco dos profissionais de saúde não deve estar apenas na cicatrização, mas também na qualidade de vida e na prevenção de uma nova ferida.” O alerta foi dado por Kátia Furtado, presidente da ELCOS – Sociedade Portuguesa de Feridas, e copresidente do 13.º Fórum Internacional de Úlceras e Feridas/9.º Congresso Interdisciplinar de Feridas Complexas.



O evento teve como temática central “O doente no centro do processo de construção da saúde” e decorreu nos dias 8 e 9 de abril, em Lisboa, em formato híbrido.

Ao longo dos dois dias foram mais de 1000 os participantes portugueses e de Espanha, Reino Unido, Brasil, Angola e Uruguai, que assistiram, online e presencialmente, ao Fórum da ELCOS, onde especialistas de diferentes áreas e conhecimentos debateram os problemas que profissionais, utentes e família enfrentam por causa da ferida crónica.


Kátia Furtado


"São vidas suspensas"

Em declarações à Just News, Kátia Furtado indica que “existem situações dramáticas, como as pessoas que vivem há décadas com uma ferida que teima em não cicatrizar e que, além de dor, tem um odor intenso, impedindo-as de ter vida familiar, social e profissional”. 

A enfermeira, que dá apoio no tratamento de feridas na Consulta Externa da ULS do Norte Alentejano, sublinha: "São vidas suspensas, que afetam, nomeadamente, idosos com comorbilidades - obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. São condições que propiciam a úlcera por pressão, úlcera de perna e úlcera do pé diabético numa pele que não foge aos sinais dos tempos.”

Mas "mais que apostar no tratamento", Kátia Furtado refere que "é preciso pensar na prevenção e na promoção da qualidade de vida". Ou seja, “importa garantir serviços de apoio, consultas, processos, métodos e técnicas, por forma a evitar sofrimento e gastos em processos evitáveis.”



"Criação de centros de referência para os casos mais difíceis"

Para que essa melhor qualidade de vida seja possível, Kátia Furtado defende o "reforço e a transformação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos pontos menos positivos e que foram identificados pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde no seu último relatório de 2021".

A presidente da ELCOS refere-se, em particular, à "inadequação crescente dos cuidados disponíveis face às novas realidades demográficas e epidemiológicas – em especial as das pessoas mais idosas, com morbilidade múltipla, dependências físicas e funcionais e situações de grande fragilidade e complexidade social e de saúde".

Para a responsável, o ideal seria, assim, a "criação de centros de referência para acompanhamento dos casos mais difíceis", nos quais estão alocadas equipas multidisciplinares.

Na sua opinião, os casos mais moderados podem ser acompanhados nos cuidados de saúde primários, "mas os restantes, que nem sequer respondem às terapêuticas, deveriam ficar a cargo de quem tem conhecimento específico na área.”


Kátia Furtado e Rui Pereira

Educação terapêutica e literacia em saúde

O trabalho de promoção da qualidade de vida de quem tem ferida complexa (crónica ou não) deve abranger igualmente um outro aspeto, segundo Rui Pereira, copresidente do Fórum e professor na Universidade do Minho. “É fundamental envolver a pessoa no processo, tendo-se em conta as suas preferências e valores”, afirma à Just News.

Em termos concretos, é preciso “ultrapassar o hiato ainda existente entre a teoria e a prática de se ter, de facto, o doente no centro dos cuidados”. O enfermeiro, mestre em Sociologia da Saúde pela Universidade do Minho, lembra que vários estudos têm demonstrado que o foco principal dos profissionais de saúde nem sempre coincide com o do indivíduo que vive com ferida.

Rui Pereira

“A cicatrização não é o fim último da nossa intervenção"

“Nós pensamos muito no processo de cicatrização", refere Rui Pereira. Contudo, o mesmo não ocorre necessariamente com o doente, "que está mais preocupado com o que pode ou não fazer, como ir a um batizado do neto ou poder dormir na mesma cama que o cônjuge, sem o problema do odor, ou tomar banho sem limitações.”

O responsável sublinha, ainda, a relevância de se investir na "educação terapêutica e na literacia em saúde, porque quer o tratamento como a prevenção também dependem muito de quem necessita de cuidados".

Finalmente, e como última mensagem, Rui Pereira faz questão de lembrar: “A cicatrização não é o fim último da nossa intervenção. Mesmo quando não se trata de uma ferida crónica, esta poderá recidivar, caso a doença de base não esteja controlada, como é o caso da diabetes no pé diabético ou a úlcera de perna na patologia venosa.”

O Fórum contou com o patrocínio da SILAUHE - Sociedad Iberolatinoamericana Úlceras y Heridas e da European Wound Management Association (EWMA).


Elementos dos Órgãos Sociais da ELCOS: Tânia Santos, Kátia Furtado, Lourdes Hidalgo, Luísa Velez, Rui Pereira, Carlos Mateus, Gilberto Figueiredo, Sérgio Eufrásio e Filipe Gomes. (Ausentes na foto: Carlos Casquinho e João Dias)

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