Fernando Martos Gonçalves toma posse como presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão

Para Fernando Martos Gonçalves, que vai tomar posse do cargo de presidente da SPH no próximo dia 22 de março, sucedendo à médica de família Rosa de Pinho, será fundamental reforçar o trabalho de sensibilização da população para o risco cardiovascular, garantir a acessibilidade à represcrição medicamentosa e assegurar que a adesão à terapêutica se mantém.

O ainda presidente eleito da SPH integra o Serviço de Medicina Interna do Hospital Beatriz Ângelo, que pertence à ULS de Loures-Odivelas.


Fernando Martos Gonçalves

Em entrevista à Just News, o médico esclarece quais os seus desígnios para o mandato que está prestes a iniciar-se, adiantando que, "em primeiro lugar, penso que teremos de continuar a investir na parceria estreita que temos com a Sociedade Europeia de Hipertensão e com outras sociedades congéneres, como a húngara. Temos tido um bom acolhimento na Europa, também em virtude das medidas que fomos tomando enquanto país com vista à redução do sal, por exemplo".

E sublinha: "Reconhecem-nos como uma Sociedade ativa, que tem apresentado trabalho."

Por outro lado, Fernando Martos Gonçalves indica que pretende "incrementar o nosso papel enquanto agente de sensibilização da população para o risco cardiovascular", já que estas são "doenças silenciosas, que continuam a ser a principal causa de morte em Portugal e, apesar dos avisos, a situação não melhorou".

Nesse sentido, refere que a importância de "estarmos mais perto das pessoas e alertá-las para esta problemática, numa tentativa de que haja menos mortes precoces e menos gente acamada e em cadeira de rodas, em resultado de um AVC, por exemplo".

O estreitar laços com outras sociedades científicas é outro dos objetivos da nova Direção da SPH: "Desejo ainda aproximar-nos mais da classe médica e reforçar as boas sinergias que temos com as sociedades portuguesas de Cardiologia, de Aterosclerose e de Medicina Interna, que, aliás, fazem parte do júri do Prémio Missão 70/26 – Literacia HTA."

O reforço de uma colaboração que é extensível à tutela, desde logo, pela "necessidade de a MAPA passar a ser comparticipada pelo SNS, por se tratar de um exame muito importante", refere Fernando Martos Gonçalves, acrescentando:  

"Queremos também trabalhar em conjunto com a direção do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, para que a nossa informação chegue a mais pessoas."

Contrariar a tentação de "abandonar a medicação"

Questionado sobre a problemática da adesão à medicação, o presidente eleito da SPH considera que uma população mais informada poderá alterar mais facilmente o seu comportamento, mas reconhece que o tema é complexo, conforme explica:

"Centrando-nos na hipertensão, é preciso perceber que estamos a falar de uma condição que não dói, não dá comichão, não nos põe mais feios – a não ser que se complique –, pelo que as pessoas são tentadas, com o tempo, a abandonar a medicação."

Alertando que este problema da falta de adesão à terapêutica "não acontece só em Portugal", Fernando Martos Gonçalves salienta a importância de "alertar a população para ele e trabalhar a sua literacia em saúde".

A verdade é que, hoje em dia, "com a disponibilização de medicamentos eficazes, relativamente acessíveis do ponto de vista financeiro, e com poucos efeitos adversos, não há justificação para que tenhamos uma taxa de controlo tão baixa". No entanto, o problema manté-se. "A questão está, de facto, na falta de adesão", refere.



"Temos cada vez mais associações medicamentosas em comprimido único"

"Hoje em dia, com a medicação que temos disponível, é fácil definir a terapêutica adequada para a maioria dos doentes", afirma o médico. Lembra mesmo que "as  guidelines europeias mais recentes dizem que a percentagem de doentes que são resistentes à medicação ou que não conseguem estar controlados com ela é relativamente pequena".

Ou seja, "temos cada vez mais associações medicamentosas em comprimido único, inclusivamente para a hipertensão e a dislipidemia, o que facilita muito a adesão".

O desafio está identificado há muito, como refere: "A questão é, de facto, nós passarmos a mensagem, as pessoas terem acesso fácil à represcrição medicamentosa, e cumprirem."

Especificamente no que respeita à represcrição, "provavelmente terá de ser simplificada. Ainda há muitos cidadãos sem médico de família ou sem acesso fácil a ele e, pelo menos no Hospital Beatriz Ângelo, há alguns doentes a manterem-se em consulta, embora tal já não fosse necessário, mas isso acontece por não terem médico de família."

"A Sociedade Portuguesa de Hipertensão está viva!"

Fernando Martos Gonçalves presidiu à Comissão Organizadora do 19.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global, que se realizou há dias, como também já presidiu à de 2024. 

Na sua opinião, tal traduz a "boa organização da SPH" e explica porquê: "Este sistema de o presidente eleito fazer parte da Direção da Sociedade e da Comissão Organizadora dos dois congressos que se realizam durante o mandato promove a colaboração entre a direção em funções e a futura. Eu já integro a SPH há muitos anos, mas agora que tenho vivido estes assuntos mais de perto é que perceciono como tem sido bem gerida e bem pensada." 

Ser presidente da CO é trabalhar intimamente com a presidente da Direção da SPH e, obviamente, com os elementos da própria CO, colegas com grande capacidade de trabalho e experiência. Penso que conseguimos construir um programa aliciante, com palestrantes e moderadores que têm muito conhecimento e grande capacidade de comunicação, e esperamos que esta edição seja mais um êxito.

Relativamente ao facto peculiar da SPH envolver três especialidades, o responsável destaca o bom entendimento entre todos. "A minha impressão é que pelo menos no caso dos colegas que já integram a Sociedade há muito tempo nos damos todos muito bem e sabemos que podemos ajudar-nos uns aos outros", afirma.

Sobre quem entrou mais recentemente, "também parece ser gente muito capaz, que traz ideias novas, pelo que estamos bem acolitados! O número de sócios tem aumentado e acho que a SPH está viva!"

Questionado se tem sido difícil atrair a atenção dos jovens médicos para as atividades promovidas pela SPH, afirma que "para já não", mas reconhece ter "um pouco de receio, porque há cada vez menos internos, menos tempo e menos disponibilidade dos serviços para estas ausências. Há internos a marcar férias para poderem ir a congressos…".

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