ANEM apresenta «trabalho pioneiro» sobre as condições pedagógicas das escolas médicas
Os doentes que recorrem a hospitais afiliados das escolas médicas podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de 8 estudantes, podendo este número chegar a 18,5 estudantes para um tutor numa das escolas médicas e a ultrapassar os 25 em algumas unidades curriculares.
Em comunicado, refere a ANEM que estes rácios elevados "são prejudiciais não só para a aprendizagem dos estudantes, mas mais ainda para os doentes que, numa situação de fragilidade, são confrontados com um número muito elevado de médicos e estudantes à sua volta".
Esta é uma realidade relatada num estudo elaborado pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) e apresentado durante o Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, que teve lugar durante este fim de semana, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Após a apresentação do estudo, a cargo do ex-vice-presidente da ANEM, Pedro Diogo, seguiu-se um debate sobre “Planeamento em educação médica em Portugal", que contou com a participação de vários responsáveis.
O estudo retrata as condições de ensino das escolas médicas portuguesas, sendo que as escolas com mais estudantes apresentam menor satisfação estudantil que as Escolas com menor número de novos estudantes.
De acordo com o documento, esta situação deve ser enquadrada no facto de Portugal ser o quarto país da OCDE com maior número de médicos por habitante, numa tendência crescente, uma vez que, ao longo dos últimos 20 anos, o seu número aumentou na ordem dos 397%. Este aumento tornou Portugal um dos países com a maior média de estudantes formados em Medicina por habitante, 12,2 diplomados por 100.000 habitantes, também acima da média da OCDE (OCDE, 2013).
É sublinhado o facto de que o aumento do número de estudantes traduziu-se num aumento do número de candidatos a uma especialidade médica, sendo que em 2016 mais de 2000 recém-graduados irão concorrer a um lugar. A conclusão é que este cenário "resultará inevitavelmente na criação de médicos indiferenciados, sem uma especialidade médica e incapazes de prosseguir a sua formação e dessa forma prestar cuidados de saúde de qualidade".
No comunicado, além de alertar para o facto da formação médica estar "em risco" devido ao elevado número de estudantes de medicina nos hospitais, a ANEM alerta para a necessidade de readequar o número de estudantes de medicina em Portugal, reavaliar as limitações financeiras das escolas médicas e a sua influência nas condições pedagógicas e identificar e resolver restrições particulares em cada uma das instituições de ensino.
A ANEM sublinha ainda a urgência das tutelas da Saúde e do Ensino Superior prestarem atenção a este problema e fazerem parte da sua solução, "para que se possa continuar a garantir a qualidade da formação médica e da saúde em Portugal".