Cepheid Talks

Custo dos medicamentos: «secretismo condiciona a promoção de ganhos em saúde»

O tema em debate no IX Fórum do Medicamento, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que se realizou em novembro, era interessante: “A partilha de riscos na promoção de ganhos em saúde”.

A pior das características para "um trabalho de sucesso"

Para Francisco Ramos, presidente do Conselho de Administração do IPO de Lisboa e que assumiu a função de chairman da reunião, o secretismo e a confidencialidade têm sido “uma marca de água” de todo o trabalho feito, ao longo dos anos, no sentido de se conseguir uma efetiva partilha de riscos que conduzam a poupanças na saúde.

“É a pior das características para que, de facto, este possa ser um trabalho de sucesso numa área que envolve milhares e milhares de profissionais, do prescritor ao gestor, passando pelo responsável farmacêutico”, afirmou aquele responsável.



Protagonismo das doenças crónicas

Francisco Ramos apresentava as conclusões da reunião, que nessa altura já contava com a presença do então secretário de Estado da Saúde na sala. Na sua intervenção, Manuel Delgado haveria de dizer que, embora sendo “óbvia” a razão pela qual são os administradores hospitalares os primeiro a preocupar-se com a matéria dos custos dos medicamentos, “eu gostaria que essa preocupação fosse partilhada, designadamente, com a profissão médica porque, afinal, são os médicos que prescrevem”.

Referindo-se à “clara mudança de paradigma” que tem que ver com o crescente protagonismo das doenças crónicas, o que origina uma natural subida do consumo de medicamentos em ambulatório, o governante sublinhou:

“É nas terapêuticas de médio e longo prazo, no seu planeamento, nos modelos de distribuição e controlo e na farmacovigilância que devemos concentrar a nossa atenção.”



Falta de transparência

“Há décadas que há processos de partilha de risco, de negociação entre o Ministério da Saúde e a Indústria Farmacêutica, mas a generalidade de nós, que trabalhamos no sistema, não fazemos a mais pequena ideia de qual é o conteúdo desses acordos e muito menos sabemos o resultado dos contratos assinados”, afirmou Francisco Ramos. E referiu “o muito que há ainda a fazer” para que não se continue a gerir esta questão com base em incertezas e com uma grande dose de falta de transparência.

Comentando a intervenção de Mark Van Houdenhoven, frisou ser a transparência nos processos de compra de medicamentos “um elemento essencial para que possamos tomar decisões informadas”, admitindo que “os preços secretos são,  de facto, muito apetecíveis para todas as entidades que intervêm nesta matéria”.

“Os estudos conhecidos, que são poucos, escassos, mostram enormes variações de preços na Europa, o que significa que a sua determinação continua a ser uma enorme ‘caixa preta’, sem que se conheçam minimamente quais os critérios usados”, disse.

Mas há mais “caixas pretas”. Aliás, essa expressão foi usada várias vezes por Francisco Ramos quando comentou a intervenção de Pedro Pita Barros, professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Este palestrante “chamou a atenção para a importância de se conhecerem os custos de investigação e desenvolvimento, que são normalmente o grande argumento colocado ‘em cima da mesa’ para se definirem os preços dos medicamentos”.

“Na realidade, estamos perante uma enorme ‘caixa preta’. Quanto é que custa, de facto, essa investigação?”, comentou Francisco Ramos, sublinhando haver “uma enorme parcela de despesa pública para financiar a investigação e desenvolvimento de um novo medicamento que nem sempre é conhecida”.



A notícia completa pode ser lida na edição de dezembro do Hospital Público.

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