Gerontólogos dão a conhecer trabalho «em prol de um envelhecimento na comunidade»
"Aging in Place - Gero(comunidade)" é o tema do II Encontro Nacional de Estudantes de Gerontologia e Gerontólogos (ENEGG), que decorrerá dia 1 de outubro. O evento, a ter lugar na Universidade de Aveiro, vai reunir gerontólogos e estudantes de Gerontologia de todo o país.
Filipa Sousa Luz, presidente da Associação Nacional de Gerontólogos, explica que o Encontro visa "dar a conhecer, aprofundadamente, o amplo trabalho desenvolvido pelos gerontólogos em prol de um envelhecimento em comunidade".
Desta forma, o termo "Aging in Place" pretende servir como "o mote para uma reflexão ativa acerca da criação de oportunidades (medidas, programas e serviços) que proporcionem o envolvimento das pessoas mais velhas na sua comunidade, contribuindo para a construção de uma sociedade despojada de estereótipos em torno do envelhecimento e das pessoas mais velhas".
Profissional "inovador e diferenciado"
A 1ª edição do ENEGG, que contou com a participação de mais de 300 pessoas, entre estudantes e profissionais, decorreu o ano passado, igualmente em Aveiro. Em declarações à Just News, Filipa Sousa Luz refere que este encontro foi "um ponto de partida na afirmação e representação do Gerontólogo, no contexto nacional, cujo enfoque foi o perfil de competências".
E sublinha que a Associação Nacional de Gerontólogos considera "premente a elaboração e oficialização de um perfil de competências atualizado e espelhado nas potencialidades do gerontólogo, apresentando-o como um profissional inovador e diferenciado nos serviços e estruturas para a população idosa".
Assim, este perfil de competências é encarado como sendo "a principal ferramenta para a regulamentação da profissão, conjuntamente com os testemunhos de trabalho desenvolvido e respetivas taxas de empregabilidade, sustentando uma sólida base argumentativa suportada na realidade multifacetada das questões do envelhecimento".
Sessão inaugural do I Encontro Nacional de Estudantes de Gerontologia e Gerontólogos, que contou com a presença do reitor da Universidade de Aveiro, Manuel de Assunção, tendo considerado o evento como um "marco histórico".
Convergência na Gerontologia: "um caminho (ainda) a alcançar"
A propósito desta 2.ª edição do ENEGG, e questionada sobre qual o panorama nacional da investigação em Gerontologia, Filipa Sousa Luz afirma "importa olharmos para alguns indicadores, os quais aumentaram exponencialmente na última década" e destaca os seguintes pontos:
1) o aumento da oferta formativa (2º e 3º ciclo);
2) o aumento do número de publicações científicas e um crescente interesse na área por parte dos investigadores;
3) a criação de unidades de investigação exclusivamente dedicadas à temática do envelhecimento (e.g.: UNIFAI; Instituto do Envelhecimento).
Na sua opinião, a investigação nos vários domínios da Gerontologia traz "um grande contributo no sentido de conhecer (melhor), identificar (melhor) e atuar (melhor) nos padrões e perfis de envelhecimento".
Contudo, e apesar de considerar que a Gerontologia é importante e que constitui "uma área de potencial crescimento", a gerontóloga sublinha que, "quer ao nível formativo (licenciaturas, mestrados, especializações), quer ao nível da reflexão e atuação política e social, a Gerontologia tem sido desenvolvida de forma impulsiva e pouco estruturada, onde a convergência é um caminho (ainda) a alcançar".
O envelhecimento é um processo "que envolve toda a sociedade"
Filipa Sousa Luz afirma que o envelhecimento é "uma conquista, mas comporta desafios que a nossa sociedade deverá ser capaz de responder".
Nesse sentido, "o ímpeto deve ir muito além das respostas sociais, pois o envelhecimento é um processo biopsicossocial, que transcende a pessoa e envolve toda a sociedade – falamos, assim, de respostas concertadas e que envolvem a alteração da forma como os desafios são encarados (macro, meso e micro)".
Trabalho desenvolvido "em complementaridade com os restantes profissionais"
A presidente da Associação Nacional de Gerontólogos recorda que, entre 2003 e 2004, surgiram em Portugal as primeiras licenciaturas em Gerontologia, dando o mote para a criação de uma nova profissão – o gerontólogo: "o profissional responsável pela avaliação, intervenção e estudo científico do fenómeno do envelhecimento humano e da prevenção dos problemas pessoais e sociais a ele associados, sendo a pessoa à medida que envelhece o foco da sua intervenção profissional".
Na sua opinião, "o papel do gerontólogo é complexo quanto à natureza do seu conhecimento e das suas competências". No entanto, faz questão de destacar "o carácter multidisciplinar do seu conhecimento e, consequentemente, a sua prática interdisciplinar, pois pressupõe, necessariamente, um trabalho realizado em complementaridade com os restantes profissionais, não substituindo qualquer classe ou prática profissional".
Depois de, no ano passado, a 1ª edição do ENEGG ter reunido mais de 300 participantes, as expectativas da Comissão Organizadora para este ano são elevadas.
Reconhecimento da profissão de gerontólogo
Para que, em Portugal, ocorra o "desenvolvimento pleno" da Gerontologia, é considerado imprescindível que o Gerontólogo também esteja envolvido, "arriscando dizer que o principal obstáculo para este desenvolvimento pleno é a falta de reconhecimento e regulamentação da profissão", afirma Filipa Sousa Luz.
Segundo a Associação Nacional de Gerontólogos, existem, até ao momento, cerca de oito centenas de Gerontólogos formados em Portugal. No entanto, e apesar do aumento da oferta educativa e do número de profissionais resultar "no crescimento do trabalho gerontológico e conhecimento gerado, o reconhecimento e a regulamentação da profissão do Gerontólogo continuam vagos, encontrando-se dependentes de diversas questões académicas e governamentais".
Filipa Sousa Luz não tem dúvidas de que o "não reconhecimento da profissão de gerontólogo leva a que estes profissionais, detentores de conhecimento científico e interdisciplinar especializado, não sejam incluídos, por exemplo, em muitas das ofertas de emprego existentes, apesar das suas habilitações poderem ser as que melhor se enquadram no perfil de recrutamento."
Acrescenta ainda que a regulamentação da profissão permitiria "a delimitação e definição de regras relativas desenvolvimento da atividade profissional, garantindo direitos aos profissionais e segurança aos clientes ou organizações com quem estes profissionais venham a colaborar".
O programa e outras informações do podem ser consultadas aqui.
Contacto: angerontologos.pt