Ginecologia Oncológica «não atrai internos nem recém-especialistas»

Considerando que “o ginecologista é fundamental” em todo o processo de tratamento das doentes oncológicas, a médica do IPO do Porto Mónica Pires confirma haver “uma grande dificuldade de captação” de jovens médicos e especialistas para esta área.

Já é difícil, como se sabe, manter no Serviço Nacional de Saúde especialistas em Ginecologia/Obstetrícia, mas está a ser particularmente preocupante o desinteresse demonstrado em procurar a diferenciação em Ginecologia Oncológica, uma subespecialidade reconhecida pela Ordem dos Médicos há perto de 40 anos e cujo título terá sido atribuído a uma meia centena de médicos.


Mónica Pires

A questão não podia deixar de ser abordada na última Reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), realizada no Porto nos dias 17 e 18 de janeiro e que registou perto de duas centenas de participantes. O desenho do programa foi da responsabilidade da sua Secção de Ginecologia Oncológica, presidida por Henrique Nabais, diretor da Unidade de Ginecologia da Fundação Champalimaud.

Aliás, o tema foi referido logo na cerimónia de abertura da 205.ª Reunião pela atual presidente do Colégio da Subespecialidade de Ginecologia Oncológica da Ordem dos Médicos, Cristina Frutuoso, anterior presidente da Secção. “É necessário fomentarmos a formação nesta área!”, frisou.

De referir que na sessão intervieram ainda Mónica Pires e Lúcia Correia, respetivamente, secretária e tesoureira da Secção de Ginecologia Oncológica, tendo a Direção da SPG sido representada pela vice-presidente Margarida Martinho.


Mónica Pires e Lúcia Correia

Em declarações à Just News, Mónica Pires haveria de confirmar que, de facto, “nós temos uma grande dificuldade na captação de internos e de recém-especialistas de Ginecologia/Obstetrícia para se dedicarem à área da Oncologia”, situação que se vem agravando ao longo dos últimos anos.

Atual diretora do Serviço de Ginecologia do IPO do Porto, a médica afirma que também na sua equipa se sentem as dificuldades relacionadas com a falta de profissionais. “Já fomos muitos mais! Temos vindo a perder colegas, ou por aposentação, não sendo substituídos todos os que saem, ou porque vão trabalhar para instituições privadas. O mesmo se passa nos restantes IPO e, de uma forma geral, nos outros hospitais”, diz.

Tal reflete-se, neste momento, na estrutura do seu Serviço: a contar consigo, são nove os ginecologistas/obstetras, cinco com a subespecialidade de Ginecologia Oncológica, um sexto elemento prestes a obtê-la e os últimos três em formação.



Cirurgia oncológica: “uma área trabalhosa, de grande responsabilidade”

Reconhecendo que a cirurgia oncológica é “uma área trabalhosa, de grande responsabilidade”, Mónica Pires sublinha que, adicionalmente, “é difícil captar ginecologistas/obstetras para o SNS quando estamos a competir com instituições dentro e fora do SNS, particularmente estas últimas, que oferecem horários mais apelativos e outros recursos”.

Mas o problema não é exclusivo de Portugal. A médica cita o exemplo do Reino Unido, em que um menor interesse pela especialidade – muito pelo risco inerente à prática da Obstetrícia – faz com que muitos dos ginecologistas/obstetras sejam estrangeiros. E adianta:

“Também é penalizador o facto de em Portugal, ao contrário do que sucede em países como a Áustria ou a Alemanha, na maior parte das instituições, embora estejamos envolvidos nas decisões tomadas em grupo multidisciplinar, raramente estamos envolvidos em ensaios clínicos.”


Margarida Martinho, Mónica Pires, Cristina Frutuoso e Lúcia Correia

“O diagnóstico de um cancro ginecológico é feito geralmente por um ginecologista e o tratamento, na maioria dos casos, implica uma cirurgia diferenciada que deve ser realizada por um colega com a subespecialidade em Ginecologia Oncológica. A proposta de tratamento deve ser sempre estabelecida em consulta de grupo multidisciplinar, com a presença de um ginecologista oncológico, colegas da Oncologia Médica e da Radioterapia e, eventualmente, também da Imagem e da Anatomia Patológica”, explica Mónica Pires, acrescentando:

“Se houver lugar a tratamentos adjuvantes, como sessões de quimioterapia ou de radioterapia, a doente passa para outra especialidade, mas regressa para a vigilância ser feita por um ginecologista. Na maior parte das situações, deve ser envolvido o exame ginecológico, para se perceber se existe recidiva ou não, pois, acontece frequentemente ela ser detetada no exame físico até antes de ser realizado o exame de imagem. No fundo, o ginecologista está envolvido em todas as etapas do tratamento do cancro ginecológico.”


A entrevista completa pode ser lida na próxima Women´s Medicine.

 

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