«Há um aumento crescente dos casos de depressão e de ansiedade em crianças»

Paulo Pessanha recua no tempo uns 40 anos e garante que quando começou a exercer medicina “era raríssimo” deparar-se, por exemplo, com um caso de depressão num menor. “Não estamos a falar de adolescentes, mas sim de crianças com 10 anos!”, refere, afirmando que a Medicina Geral e Familiar é, hoje em dia, confrontada com muitos mais casos
de patologias psiquiátricas na infância.

“O médico de família deve estar muito atento a este tipo de situações, de modo a poder intervir de forma rápida e, eventualmente, referenciar para uma consulta de Psicologia ou
de Pedopsiquiatria, evitando ou minimizando complicações futuras. A depressão e a ansiedade em crianças são cada vez mais frequentes, sendo considerados problemas de saúde mental muito relevantes”, alerta.

A causa para esta realidade, segundo Paulo Pessanha, “é multifatorial, envolvendo fatores biológicos, psicológicos e sociais”. E enumera que na sua origem pode estar uma eventual história familiar de depressão, ansiedade ou outra perturbação psiquiátrica, mas também uma situação de baixa autoestima, um enorme desejo de perfecionismo, dificuldades escolares ou problemas de aprendizagem. Os conflitos familiares, a perda de alguém muito próximo, a negligência e os maus tratos, o bullying, a exclusão social e a exposição a redes sociais e videojogos podem contribuir igualmente, de modo significativo, para provocar depressão e ansiedade na infância.

“Hoje em dia, os filhos são deixados pelos pais no infantário ou na escola cedo pela manhã e estes só voltam a vê-los à noite. Assim sendo, resta-lhes muito pouco tempo para darem atenção às crianças, conversar com elas, inteirarem-se de como correu o dia... Ora, se a isso adicionarmos o uso indiscriminado e frequente do telemóvel e das redes sociais, facilmente concluímos que temos aqui um problema importante”, considera Paulo Pessanha.

E sublinha, desde logo, que a prevenção é fundamental. Como? “É necessário promover a comunicação e o afeto, estabelecer rotinas – nomeadamente, no que respeita ao sono e às refeições –, evitar as críticas excessivas, monitorizar o uso de redes sociais e de videojogos. É preciso prevenir ativamente o bullying, fomentar a prática de exercício físico regular e, por exemplo, assegurar que é prestado o apoio psicopedagógico na escola no caso de haver dificuldade de aprendizagem.”


Paulo Pessanha: “Temos que procurar identificar prematuramente situações de ansiedade e de depressão na infância”

“Os médicos de família estão ávidos de formação”

“É um grande orgulho para nós que as Jornadas tenham singrado e que a participação dos colegas venha aumentando significativamente ao longo dos anos. Apostamos sobretudo na formação pós-graduada e o interesse dos internos e dos especialistas de MGF é significativo e cada vez maior, o que nos deixa muito satisfeitos”, afirma Paulo Pessanha.

“Os médicos de família estão ávidos de formação”, frisa o co-presidente das Jornadas Multidisciplinares de MGF, que em março de 2019, juntamente com os seus colegas Manuel Viana e Rui Costa, viu concretizar-se a primeira edição de um evento que logo nessa altura foi considerado um êxito. O número então registado de 600 participantes nunca parou de subir, tendo quintuplicado nas VII Jornadas, em março de 2025, ao ultrapassar a barreira dos 3000.



“Temos crescido exponencialmente!”, exclama Paulo Pessanha, encontrando justificação para tal no facto de se tratar de uma reunião organizada por médicos de família para médicos de família. Mas também na circunstância de ser híbrida, permitindo alcançar uma quantidade de profissionais que, por diversas razões, nunca poderiam estar fisicamente presentes
no Centro de Congressos do Sheraton Porto, o mesmo local de sempre.

Mas o nosso entrevistado aponta ainda outra razão para o êxito do projeto: “Convidamos para abordar as mais diversas temáticas especialistas que, para além de serem tecnicamente muito diferenciados em áreas específicas, são excelentes comunicadores, tendo grande capacidade de criar empatia com quem está fisicamente a assistir ou a acompanhar as sessões online.

Uma das coisas que mais satisfaz Paulo Pessanha é ver a participação conjunta dos especialistas hospitalares convidados e dos médicos de família na discussão dos casos clínicos, fazendo dessas sessões das mais atrativas das Jornadas.

A notícia completa pode ser lida na edição de outubro do Jornal Médico.

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