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Para combater a hipertensão «é necessária uma prevenção individualizada»

Paulo Pessanha, que vive e trabalha no Porto, é médico de família há uns 30 anos e é um dos três responsáveis por aquela que deverá ser a primeira edição de um evento que vai acontecer nos primeiros dias de março de 2019: as Jornadas Multidisciplinares de Medicina Geral e Familiar.

A sua relação estreita com a temática da hipertensão é conhecida, embora faça questão em sublinhar que está “muito vocacionado para abordar tudo o que sejam fatores de risco cardiovascular”. Nem podia ser de outra forma, pois, “não há um doente que seja só hipertenso, há muitos fatores de risco envolvidos e relacionados”, embora a HTA surja em primeiro lugar, nomeadamente, como causa de AVC.

“Eu diria aos internos e jovens especialistas de MGF que temos de estar sensibilizados para a importância da prevenção cardiovascular para conseguirmos transmitir essa mensagem aos nossos utentes. Temos de o fazer de uma maneira objetiva e científica, mas precisamos que eles a entendam”, afirma Paulo Pessanha, sublinhando quão aliciante é esse desafio.



“Cada vez mais a medicação, neste caso, na área da hipertensão, deve ser individualizada. O bom senso do médico tem que estar acima de tudo”, frisa, acrescentando que “a própria prevenção tem que ser adaptada a cada pessoa. É necessário promover uma prevenção populacional mas também individual. Por isso é que o médico de família é importante, porque conhece o utente, a sua família...”

A relação que se estabelece entre médico e doente é, no entender do nosso interlocutor, fundamental para “promover estilos de vida saudáveis e a adesão à terapêutica farmacológica, quando necessária”.

Embora fundamental, essa relação é bastante penalizada dado que “a carga assistencial, no nosso dia-a-dia, é muito pesada em termos de tratar ‘doenças’. No entanto, há que arranjar tempo para o fazer, de modo a que a relação médico-doente seja a ideal”.

Apanhar os verdadeiros... e os falsos hipertensos

Paulo Pessanha considera o exame de monitorização ambulatória da pressão arterial (MAPA) o “gold standard” do diagnóstico da hipertensão e é com evidente satisfação que revela que a USF S. João do Porto, cuja equipa integra desde a sua criação, possui o aparelho necessário para o realizar, aparelho esse que, por sinal, foi “oferecido”.

O seu preço relativamente elevado contribui decisivamente para que a maioria das USF não o possua, fazendo com que, segundo Paulo Pessanha, “em cada dez unidades, apenas duas ou três tenham o aparelho”, possibilitando a realização de um exame “importantíssimo para apanhar os verdadeiros e os falsos hipertensos”.

“A hipertensão de bata branca existe mesmo”, garante Paulo Pessanha, que foi um dos autores de um estudo, juntamente com Manuel Viana e Jorge Polónia, que revelou que apenas 70% dos indivíduos que haviam feito o exame MAPA eram realmente hipertensos.

“Tendo em conta que o verdadeiro hipertenso tem que fazer consultas, análises e exames com frequência, precisa de cumprir o plano terapêutico e ainda sofre com o estigma de ser doente, é fácil chegar à conclusão que os custos associados são algo elevados”, sublinha o médico, acrescentando que “é tão grave medicar a mais como a menos”.



Paulo Pessanha alerta, entretanto, para o facto de haver cada vez mais idosos e de a pressão arterial subir com a idade. “O idoso tem uma maior prevalência de hipertensão muito devido a alterações fisiológicas da idade, nomeadamente o aumento da rigidez arterial”, refere.

“Existem as chamadas guidelines, mas valem o que valem, são meras orientações. O médico é que decide o que vai medicar consoante o doente que tem à sua frente”, afirma, confirmando que a forma como se lida com a hipertensão é “mais ou menos consensual”.

No entanto, “veja-se o caso dos americanos, que são mais restritivos do que nós, querem valores mais baixos, mas também é um facto que apresentam fatores de risco mais elevados, como, por exemplo, a nível de obesidade”.

Médicos de família em interação com médicos hospitalares

Tal como Paulo Pessanha, Manuel Viana também integra a USF S. João no Porto, sendo igualmente assistente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Quanto a Rui Costa, outro especialista de MGF, é o coordenador do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP) da APMGF.

O facto de serem os três muito ligados à formação ajudou a alimentar “o sonho de anos” que agora se vai concretizar, já nos primeiros dias de março de 2019. A realização daquela que provavelmente será a 1.ª edição das Jornadas Multidisciplinares de Medicina Geral e Familiar, tendo como palco o Hotel Sheraton Porto.



“A ideia era fazer umas Jornadas eminentemente práticas”, esclarece Paulo Pessanha, e por isso se optou por um modelo de reunião que assenta na apresentação de casos clínicos e na sua discussão, envolvendo o televoto.

“As Jornadas pretendem ser transversais, entre a MGF e a medicina do hospital. Selecionámos alguns colegas que, além da sua competência a nível técnico, conhecemos bem, são pessoas muito reputadas”, explica, frisando que a ideia é “colocar os médicos de família em interação com os médicos hospitalares”.

Particularmente dirigidas aos internos e recém-especialistas de MGF, as Jornadas apresentam um programa aliciante que se distribui por dois dias completos (quinta-feira, 7, e sexta-feira, 8) e que apresenta uma estrutura central assente em quatro grandes áreas: Doença Cardiovascular e Metabólica, Saúde Mental, Doenças Respiratórias e Urologia. 

O programa completo e atualizado (a 8 de fevereiro) pode ser consultado aqui.

“Um percurso profissional diferente do habitual”

Especialista em hipertensão pela Sociedade Europeia de Hipertensão, especialista em Medicina Geral e Familiar a exercer funções na USF de S. João no Porto, assistente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e diretor clínico da Clínica Médica da Foz durante 32 anos. Em jeito de radiografia, é este o currículo de Paulo Pessanha.



“Tenho um percurso profissional diferente do habitual”, reconhece o médico, esclarecendo que iniciou a especialização em Medicina Interna e logo se ligou à hipertensão, no Hospital de Vila Nova de Gaia.

Haveria de optar a seguir pela Medicina Geral e Familiar, mas manteve a relação com o hospital, fazendo urgência (por opção própria) e assegurando a consulta de hipertensão, que só deixou quando fez 50 anos.

Em 1999, envolveu-se na criação do Centro de Saúde de S. João, “um projeto, à data, inovador”, com pré e pós-graduação. A exemplo das atuais USF, já nessa altura, naquela unidade, os médicos trabalhavam em equipa com um enfermeiro e um secretário clínico, acrescendo à remuneração base incentivos de boas práticas.

“Éramos 10 médicos, com 2000 doentes cada um, e lecionávamos ali as disciplinas de Medicina Preventiva, do 2.º ano, e de Medicina Comunitária e Prática Clínica, do 6.º ano”, explica. Em junho de 2011, a “situação excecional” que ali se vivia fez com que a USF de S. João no Porto começasse a funcionar logo em modelo B.


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