Hospital de Dia de Insuficiência Cardíaca da ULS Santa Maria reforça capacidade de resposta
Criado em 2002 no Hospital Pulido Valente (HPV), alguns anos antes de esta instituição ter integrado o CH de Lisboa Norte, o Hospital de Dia de Insuficiência Cardíaca da agora ULS de Santa Maria (ULSSM) acompanha um número crescente de doentes. Faz parte do Serviço de Cardiologia, Departamento de Coração e Vasos. Com uma equipa de profissionais, nomeadamente em termos de médicos e enfermeiros, que responde às necessidades, ocupa desde fevereiro de 2025 um novo espaço.
Embora se mantenha no HPV, foi transferido para o denominado Centro de Ambulatório II, ocupando uma área maior, que inclui vários gabinetes para a realização de consultas médicas e de enfermagem. Importa acrescentar que o Hospital de Dia de IC se encontra em processo de certificação pela Heart Failure Association, da European Society of Cardiology, tendo sido confirmada a pré-certificação em abril último.
João Agostinho, médico do Serviço de Cardiologia da ULSSM, faz questão de destacar o papel do cardiologista Nuno Lousada na criação deste Hospital de Dia de IC. Na sua opinião, “teve a visão, há muitos anos, de perceber que fazia falta uma estrutura deste género para tratar estes doentes e que era absolutamente essencial que o fizesse de forma integrada com a enfermagem”. Aliás, “hoje em dia, não se concebe que uma consulta ou uma clínica de IC funcione sem a participação desses profissionais”.
O seu envolvimento no Hospital de Dia aconteceu em 2018, no 5.º ano do internato e após regressar de dois estágios no estrangeiro na área da IC. Dulce Brito, coordenadora do RICA-HFTEAM, programa protocolado de seguimento de doentes com IC, e Fausto Pinto, diretor do Serviço de Cardiologia, propuseram-lhe que, em articulação com Nuno Lousada, coordenador do Hospital de Dia de IC, desse apoio na uniformização de protocolos.
João Agostinho
O objetivo era, nesse aspeto, fazer a integração do Hospital de Dia de IC com a Enfermaria de Cardiologia de Santa Maria e com a UTIC – Unidade de Tratamento Intensivo para Coronários. João Agostinho explica: “Pretendia-se criar uma ponte para que os doentes internados que tivessem alta começassem rapidamente a ser acompanhados aqui no HPV.”
“Deve-se dizer que, apesar de termos aumentado muito o número de doentes seguidos no Hospital de Dia, com bastante mais atividade, que levou a um reforço de profissionais, não piorámos os resultados. Temos, de facto, taxas de reinternamento e de mortalidade muito baixas para esta patologia”, sublinha, acrescentando:
“Nós estamos com uma taxa de mortalidade a 3 anos de 9% quando há uma dúzia de anos, no início do meu internato, tínhamos uma taxa a 5 anos de 50%. Isso significa que, com as medidas farmacológicas e não farmacológicas que temos vindo a tomar, conseguimos melhorar muito os cuidados a estes doentes. E depois temos uma taxa de reinternamento a um ano de 9%, quando há pouco mais de uma década era de 60%.”
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“Fator crucial”: a possibilidade de agir rapidamente quando surge a necessidade de intervenção
De acordo com João Agostinho, há vários fatores que explicam estes resultados, desde logo a circunstância de ter havido, na área da IC, “um desenvolvimento enorme a nível farmacológico, bem como de dispositivos implantáveis”. Aliás, isso fez com que se assistisse a “um interesse redobrado pelos cuidados relacionados com a IC, sendo que o conhecimento dos médicos fora desta área também aumentou de forma significativa, sobretudo em Portugal”.
Entretanto, “as pessoas interiorizaram que é preciso dar um seguimento muito específico a estes doentes e que ele deve ser assegurado por profissionais especializados. Isso aconteceu em todo o mundo, com o advento das clínicas de IC e das redes de referenciação”.
Um segundo “fator crucial” tem que ver com a possibilidade de agir rapidamente quando surge a necessidade de intervenção: “O doente começa a perceber que está a descompensar e contacta-nos, ligando para um número de telefone próprio para esse fim. As enfermeiras que fazem a triagem estão treinadas e têm experiência para tal. Na dúvida, mandam vir o doente, nós fazemos a avaliação do doente e, se for necessário, medicamo-lo na altura, evitando um internamento e, em última análise, diminuindo a mortalidade.”
João Agostinho refere ser igualmente muito importante a possibilidade de se fazer uma titulação individualizada:
“Na consulta de enfermagem são identificados os problemas que podem limitar a prescrição terapêutica e nós, na consulta médica, adaptamos a forma de introduzir cada medicamento, para podermos chegar às doses máximas de forma muito personalizada e sempre considerando os aspetos psicossociais, para além dos clínicos. Conseguimos assim que os doentes sejam mais cumpridores e fiquem medicados com mais fármacos e doses mais altas, o que se traduz em melhor prognóstico.”
Para o cardiologista, há um quarto fator a contribuir decisivamente para os bons resultados que se têm vindo a obter na ULS de Santa Maria relativamente a taxas de mortalidade e de reinternamento em doentes com IC – a “relação familiar” que com eles se estabelece e que faz aumentar a confiança nos profissionais que os acompanham:
“O facto de haver aqui no Hospital de Dia um contacto do doente com a administrativa, a auxiliar, a enfermeira e o médico contribui para que se sinta mais à vontade e confiante, fazendo com que nos consigamos aperceber de pormenores que, de outra forma, escapariam, acabando o mesmo por aderir melhor às nossas recomendações.”
E conclui: “Mais do que a estrutura física que temos aqui, são as componentes funcional e humana que, em sinergia com as terapêuticas disponíveis, permitem um melhor acompanhamento do doente com IC.”
A reportagem completa pode ser lida na Coração e Vasos 20 - Maio-Agosto 2025.

