Hospital de Santa Maria já tem uma Consulta de Nefro-Oncologia

A recente criação da Consulta de Nefro-Oncologia no Hospital de Santa Maria - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) mostra ser uma aposta ganha, ao "asseverar a terapêutica oncológica em função do património renal do doente", adianta a coordenadora desta nova valência, Natacha Rodrigues.

Em entrevista à Just News, a médica nefrologista sublinha ser evidente a mudança que existiu no CHULN no decorrer dos últimos meses, após a criação da consulta, no início do ano, e o estabelecimento do protocolo de articulação:

“Enquanto em janeiro começámos por ter uma manhã dedicada, neste momento, em julho, já duplicámos o tempo e realizámos mais de uma centena de primeiras consultas.”

A especialista considera ser “um resultado muito significativo e que em muito se deve ao apoio da Direção do Serviço de Nefrologia, dos demais serviços e ao próprio Conselho de Administração”.

O CHULN foi, de resto, apenas a segunda instituição a nível nacional a dispor oficialmente desta valência. A primeira corresponde precisamente ao IPO do Porto – que é, inclusive, o único hospital oncológico a possuir um Serviço de Nefrologia –, onde Natacha Rodrigues realizou formação sob o acompanhamento de José Maximino, diretor do respetivo Serviço, que a impulsionou a dar este passo em frente.

Natacha Rodrigues

Próximo passo: criação de uma Clínica de Nefrologia/Oncologia?

Além de assegurar a consulta, Natacha Rodrigues recebe durante a semana vários contactos telefónicos e e-mails dos colegas a fazer pedidos de referenciação e de apoio.

Contudo, refere que “os circuitos ainda não estão totalmente definidos” e espera que a evolução para a criação de uma Clínica de Nefrologia/Oncologia possa “ajudar a oficializar o conceito e estabelecer momentos de discussão multidisciplinar, para benefício dos doentes”.

A nefrologista adianta que o maior número de referenciações à consulta tem origem nos serviços de Oncologia Médica, Hematologia e Transplantação de Medula, Urologia e Pneumologia. É ainda frequente receber alguns casos referenciados do IPO de Lisboa.

O facto de “mais de 50% dos doentes oncológicos vir a apresentar algum grau de compromisso renal” assim o exige. Dando como exemplo o mieloma múltiplo, destaca que tal patologia “é responsável pela entrada em diálise de quase ¼ dos doentes que têm doença renal associada”. Outros casos, “devido à nefrotoxicidade da quimioterapia ou por terem doenças renais crónicas de base, veem a sua condição agravada”.


Natacha Rodrigues com José Maximino

I Curso de Nefro-Oncologia - Estado da Arte


A realização, em julho, da primeira edição do curso de Nefro-Oncologia, organizado pelo Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal e pelo Centro de Formação do CHULN, é um marco importante e revelador do apoio nefrológico prestado aos serviços hospitalares, explica Natacha Rodrigues:

“A ideia de organizar este curso surgiu da perceção de que a Onconefrologia está a ganhar uma expressão cada vez maior na medicina da atualidade. Principalmente no CHU Lisboa Norte, que integra serviços de Oncologia Médica e de Hematologia e Transplantação de Medula, era evidente a necessidade de o Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal adquirir mais conhecimentos para entrar neste domínio e poder partilhar decisões com os colegas."

Comissão Organizadora do Curso: (atrás) Joana Vieira, Helena Martins e Cláudia Costa; (à frente) Ana Spencer, Natacha Rodrigues e Carolina Branco

Este curso, que contou com o apoio científico da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, foi coordenado por Natacha Rodrigues e José António Lopes, diretor do Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal do CHULN. Para a sua organização contribuíram ainda Carolina Branco e Cláudia Costa, internas de Nefrologia, Ana Spencer, oncologista, Joana Vieira e Helena Martins, hematologistas.

O painel de palestrantes foi constituído por nefrologistas que integram atualmente o Grupo de Trabalho de Onconefrologia da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, oncologistas, hematologistas e médicos com valência em Cuidados Paliativos. “O objetivo foi dar a palavra a quem realmente está na área e melhor percebe do tema no cenário nacional”, evidencia a nossa interlocutora.



Os destinatários seriam, em primeira instância, nefrologistas. Contudo, “num hospital terciário como este, que abarca todas estas valências, era fundamental tornarmos o tema mais multidisciplinar e termos uma linguagem comum relativamente à doença renal no doente oncológico”. Por isso mesmo, o leque de destinatários foi alargado. Se inicialmente estavam apenas previstas 40 vagas, o facto de rapidamente terem esgotado levou a que esse número subisse para 60.

E a médica mostra orgulho pelo facto de muitos participantes terem sido efetivamente de outras especialidades, como a Oncologia, a Hematologia, a Radioterapia e a Medicina Interna. “Demonstra que conseguimos, de alguma forma, criar a curiosidade nestes profissionais que contactam com o doente oncológico e fazê-los ver este tema como uma necessidade”, destaca.



“Este curso foi o culminar da abertura da Onconefrologia no CHULN”

José António Lopes, diretor do Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal do CHULN desde agosto de 2021, esteve presente na sessão de abertura do curso, tendo destacado “a comunhão de interesses entre várias especialidades” que estava representada naquele auditório.


E não deixou de referir que “tal concertação de esforços e de interesses está muito presente na Onconefrologia, área que envolve várias especialidades, muitas das quais afetas especificamente à Oncologia, como a Oncologia Médica, a Hemato-Oncologia e a Radio-Oncologia, mas também outras que se tocam, como a Nefrologia, a Medicina Interna, a Medicina Intensiva e até os Cuidados Paliativos”.


José António Lopes

Em declarações à Just News, o nefrologista distinguiu que este que foi o primeiro curso de Nefro-Oncologia organizado pelo Serviço que dirige e pelo Centro de Formação do CHULN, tendo sido “o culminar da abertura da Onconefrologia no CH”.


“Numa altura em que há cada vez mais casos de patologia oncológica e renal e que tanto doentes oncológicos têm maior propensão para esta última como doentes renais têm maior tendência para desenvolver doença oncológica, conseguimos erguer uma consulta organizada e criar uma valência específica que faz a comunhão de várias especialidades”, acentua.



A reportagem completa pode ser lida na edição de setembro/outubro do jornal Hospital Público.

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