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Humanização de cuidados: Enfermeiro português dá formação em Singapura

Foram necessários apenas 3 meses para diminuir o índice de fragilidade, assim como a agitação, e para melhorar as competências comunicativas de idosos com demência, em Singapura. Os resultados surgiram após 4 meses de formação no âmbito da Humanitude, uma metodologia de cuidados geriátricos, que foi levada a terras asiáticas pelo enfermeiro e formador João Araújo.

A Humanitude surgiu em Portugal em 2011, quando foi fundado o Instituto Gineste-Marescotti, tendo por base a experiência de França, onde já se procurava, desde os anos 1970, otimizar os cuidados a idosos dependentes com o apoio de uma equipa multidisciplinar.

Ao todo, dão a conhecer 150 técnicas de cuidados e de relação que promovem o bem-estar das pessoas que precisam de cuidados, mas também dos próprios cuidadores. “Toda a relação pressupõe envolvimento, corresponsabilização, respeito pela individualidade e liberdade de decisão”, defende João Araújo.

Após várias formações nacionais e internacionais, em 2019 chegou a vez de se ir a Singapura, com o intuito de se avançar de forma mais concreta em 2020. Mas, com as restrições da pandemia, apenas foi possível ir para o terreno no início deste ano.

Coube assim ao enfermeiro João Araújo mudar-se para o país durante 4 meses, com o objetivo de implementar esta metodologia em dois serviços hospitalares. “Na prática, fomos prestar cuidados a idosos dependentes, mostrando que é essencial focar-nos na humanização, o que implica também formar os cuidadores (formais ou informais) em técnicas relacionais, que promovem a saúde física e psíquica.”


João Araújo

Além da farmacologia, é assim fundamental, segundo o formador, metodologias não-farmacológicas, que otimizem a qualidade de vida de quem está frágil. “No fundo, pretende-se evitar o que se vê, infelizmente, em muitas instituições de apoio a idosos, onde são inclusive amarrados nos momentos de maior agitação, um comportamento próprio da doença.”

Em Singapura, os resultados surpreenderam os responsáveis locais, porque em apenas 3 meses conseguiu-se diminuir vários problemas. “Note-se que se tratava de idosos que chegavam aos serviços com uma saúde muito frágil e sem capacidade de interação. Mesmo assim, foi possível diminuir o índice de fragilidade, que é essencial na avaliação e prognóstico em Geriatria, e promover uma maior colaboração entre doente e cuidador, ao contrário do que se verificava anteriormente.”

Voltando a Portugal, espera partir novamente em setembro, já que as autoridades de saúde de Singapura querem expandir o projeto aos oito hospitais do país.

Humanizar: “… faltam medidas concretas”

Em Portugal, também se têm realizado várias ações formativas, mudando-se a realidade dos cuidados geriátricos em diversas instituições, nomeadamente IPSS e ERPI. Mais recentemente, também se conseguiu no Centro Hospitalar do Oeste.

Fazendo uma análise da humanização de cuidados em Portugal, onde já foi assinada a Carta de Compromisso para a Humanização Hospitalar, salientou que ainda há um longo caminho a percorrer. “Verifica-se uma maior sensibilização e já se fala muito da importância da relação paciente-terapeuta e do papel dos cuidadores, mas faltam medidas concretas.”

Na sua opinião, dever-se-ia seguir o caminho do Japão, que, após conhecer esta metodologia em 2012, já integrou estas formações no curso base de Medicina. “É preciso continuar a sensibilização e a formação, porque mesmo quando há documentos, na prática ainda há muito por se fazer. É preciso ter-se noção de medidas concretas a implementar nas unidades. As pessoas têm, muitas vezes, vontade de fazer melhor, mas não sabem bem qual é o caminho.”

Entre Alcobaça e o resto do mundo

João Araújo é natural de Alcobaça e, sendo, desde sempre, um crítico da forma como se prestam cuidados, mais alerta ficou para esta questão depois do avô ter sido diagnosticado com uma demência vascular. “Não consegui aceitar a ideia de que não havia mais nada a fazer. Há sempre alguma coisa, para que aquela pessoa possa ter qualidade de vida, independentemente da doença.”

Com 35 anos, o seu percurso profissional pautou-se sempre pelos mais vulneráveis, tendo trabalhado sobretudo com idosos, aqui e além-fronteiras. “Nunca me adaptei ao mundo hospitalar, prefiro estar na comunidade, onde se pode implementar, de forma mais fácil, determinados projetos que fazem a diferença na vida destas pessoas.”

Com 35 anos, casado e pai de um rapaz, mantém o desejo de percorrer o mundo para dar formação na área da humanização de cuidados.

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