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I Braga Otology Surgery Course: «Uma porta de entrada para identificar diferentes técnicas»

Procurando conciliar a abordagem de conceitos básicos paradigmáticos e a discussão de casos não consensuais, o I Braga Otology Surgery Course revelou-se um momento formativo de sucesso. Realizado no início de junho, reuniu um painel de convidados de renome e contou com uma forte adesão.

“Tentámos adaptar-nos às necessidades correntes, no que toca ao equilíbrio entre formação e frequência hospitalar”, começa por referir Miguel Sá Breda, coordenador do I Braga Otology Surgery Course.


Miguel Sá Breda

Desenhando um programa científico para cinco dias, dividido entre manhãs mais teóricas e tardes mais práticas, num crescendo de especificidade, a Comissão Organizadora deste curso procurou “criar um modelo dinâmico e interativo, oferecendo respostas às diferentes fases de formação”.

Visando abordar um segmento de formação muito específico, a opção foi por abrir um número limitado de vagas, de forma a não comprometer a qualidade da formação. Contabilizando 34 inscrições na componente teórico-prática, Miguel Sá Breda adianta que estão já a “ponderar reformular esse segmento para, não comprometendo a qualidade da formação, poder levá-la a mais internos e especialistas”.

"Uma porta de entrada para a discussão de áreas cinzentas”

O coordenador deste curso, que é também um dos especialistas do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Braga, destaca que este evento científico conseguiu “cumprir o objetivo de ser um fórum de formação e de discussão, em que pudemos discutir conceitos e casos clínicos e experimentar várias técnicas”.

Como observa, “é expectável que um curso não seja só um espaço de solidificação de conceitos que serão adquiridos durante a formação, mas também uma porta de entrada para a identificação de novos conceitos e diferentes técnicas e para a discussão de áreas cinzentas”.



Enquanto as sessões teóricas versavam, nos primeiros dias, “desde a fisiopatologia à anatomia mais básica, passando pela abordagem e diagnóstico da doença”, ao longo do curso debateram-se também “temas mais controversos e técnicas cirúrgicas mais avançadas, visando patologias mais complexas e raras”.

Existiu, inclusivamente, um espaço de discussão de casos clínicos, investindo-se assim num “fluxo de informação bidirecional, em que os formadores também aprendiam com a plateia”. Por outro lado, as tardes eram divididas entre o laboratório cirúrgico, com peças cadavéricas, e a visualização de vídeos cirúrgicos.

Miguel Sá Breda salienta que o grande intuito era que, “no final, este curso permitisse fazer a translação dos conceitos mais teóricos e estanques para algo mais flexível e altamente adaptável ao doente, na prática clinica diária, onde reside a Arte da Medicina”.

Otologia “é uma área muito nobre" da ORL

Apesar de o curso ter sido delineado na língua inglesa, com vista a um âmbito internacional, até pela sua acreditação europeia, a situação pandémica motivou a sua restrição a um público nacional. Para o futuro, um dos objetivos será precisamente alargá-lo aos colegas de Espanha, entre outros.

Apesar de a otologia “ter algumas componentes de fronteira com outras especialidades”, Miguel Sá Brada evidencia que “é uma área muito nobre do total domínio da Otorrinolaringologia, que em tempos idos deu um grande impulso à especialidade e hoje está a ganhar nova projeção”.



Diferenciação dos elementos e singularidade da estrutura

Este que é o primeiro curso de cirurgia do ouvido da Escola de Medicina da Universidade do Minho, a que está ligado o Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Braga, vem “criar o seu espaço de formação e de reconhecimento interpares, dada a diferenciação de alguns dos seus elementos e a singularidade da própria estrutura, que tem investido muito na distinção”.


Miguel Sá Breda reconhece o “papel fundamental da recém-criada B.Acis – Associação Ciência, Inovação e Saúde”, enquanto parceira deste evento científico, “pelo seu trabalho enquanto promotora da investigação científica e organizadora de eventos científicos”.

A par, o otorrinolaringologista agradece a presença do painel de palestrantes convidados, sendo eles Miguel Aristegui (Madrid), Daniele Marchioni e Davide Soloperto (Verona), Pedro Escada (Lisboa), Luísa Monteiro (Lisboa), João Elói (Coimbra), e Victor Correia da Silva (Porto).

Atribuição de prémios enquanto incentivo ao brio profissional

O coordenador da primeira edição deste curso adverte que “a atribuição de prémios não é mais que um incentivo ao brio e ao aperfeiçoamento do melhor que há em nós, e não uma competição”.

O objetivo foi, “de uma forma salutar, valorizar o mérito dos profissionais, que se esforçam por dar o seu melhor contributo para o fórum científico, seja no melhor caso clínico, seja no melhor trabalho prático”.

COMPONENTE PRÁTICA

A componente prática deste curso consistiu na dissecção do osso temporal de cadáver, cujo prémio de melhor trabalho foi atribuído a Francisco Patrão, interno do 5.º ano do Centro Hospitalar Tondela-Viseu.

“Além da componente de dissecção anatómica, que nos permitia conhecer as estruturas do ouvido médio e do ouvido interno, aliava também um domínio relacionado com a experiência cirúrgica”, comenta Francisco Patrão, que refere ter “seguido as instruções dadas da melhor forma no osso fornecido”.


Francisco Patrão

Este interno, de 31 anos, reconhece o mérito da organização “não só pela seleção dos temas apresentados, como pela presença dos vários mestres de otologia nacionais e internacionais.

COMPONENTE TEÓRICA

Já a componente teórica, relacionada com o melhor caso clínico, foi atribuída a um trabalho submetido por um grupo de trabalho da Otorrinolaringologia do Hospital de Braga, cujo primeiro autor é Fernando Mar.

“Apresentámos um caso de uma senhora que, por algum motivo, não tinha o osso que separa o ouvido do cérebro completo, o que originou uma cerebrite”, identifica o interno do 3.º ano.


Fernando Mar

Considerando que “este tipo de cursos é muito importante para a formação dos internos, que têm a oportunidade de dar os primeiros passos a nível de treino em modelos e peças anatómicas”, o futuro especialista, de 36 anos, admite que também o espaço para a apresentação de trabalhos é uma mais-valia, “por possibilitar a discussão de casos nacionais e estrangeiros”.

Como adianta, “geralmente, os trabalhos admitidos são os mais complexos, que, previsivelmente, serão os mais interessantes porque não há uma decisão uniforme e consensual”.



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