Serviço de Imunoalergologia do CHBV em crescimento ativo há duas décadas

A obtenção de idoneidade formativa total, que habilita o Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV) a receber internos da especialidade, é o principal objetivo de Ana Morête, a sua diretora, que preside também à Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica no triénio 2023-2025. O crescimento sustentado, o curto tempo de resposta e o respeito pelo doente são princípios basilares no Serviço.



Rotatividade "condicionou" o crescimento do Serviço

A história da Imunoalergologia no Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, começou há 20 anos, quando Ana Morête, recém-especialista, foi colocada na instituição e começou por criar uma consulta inserida no Serviço de Medicina Interna, que, em 2006, evoluiu para Unidade. A partir de 2009, a integração de mais imunoalergologistas possibilitou a criação do atual Serviço.

Ao longo do tempo, os imunoalergologistas foram mudando, sendo precisamente a rotatividade uma das maiores contrariedades identificadas por Ana Morête.

“Durante estes anos, vários colegas passaram por aqui, mas a grande dificuldade sentida pela maioria dos serviços de Imunoalergologia dos hospitais distritais é a sua fixação”, refere. A título de exemplo, adianta que essa é a realidade que se encontra também no CHU Cova da Beira e no CH de Trás-os-Montes e Alto Douro.


Ana Morête

A especialista reconhece que essa adversidade acabou por “condicionar, por vezes, o crescimento do Serviço”, e recorda-se bem do período de grande complexidade que viveu em setembro de 2020:

“De repente, era a única médica, pois, uma das colegas encontrava-se em licença de maternidade e a outra regressara à cidade onde tinha feito a sua formação.  Paralelamente, os recém-especialistas, “frequentemente, não equacionam concorrer a serviços como este, pois. já têm a sua vida pessoal organizada na cidade de formação” e, por isso, um dos seus desígnios enquanto presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, é organizar o programa de formação Physalis nos hospitais distritais.

“O objetivo é que possam conhecer a realidade desses serviços e constatar que há muito a oferecer, e tentarmos captá-los, fomentando a sua deslocalização”, explica.

Para já, o Serviço tem apenas idoneidade formativa parcial – que lhe permite receber internos do Ano Comum e das especialidades de ORL, Pneumologia, MGF e Patologia Clínica −, sendo uma das principais ambições da sua diretora conseguir a idoneidade total, para formar imunoalergologistas. “Os internos trazem uma vida nova aos serviços e estimulam muito a produção científica”, comenta.


Essa realidade está pendente da atribuição de uma nova vaga médica, para que haja três especialistas a 40 horas, dado que uma das atuais – Carmelita Ribeiro – tem um contrato partilhado com o CHUC. “Em novembro, já recebemos a visita do Colégio da Especialidade e esperamos conseguir a idoneidade em breve”, resume.



Entretanto, com a previsível abertura do curso de Medicina pela Universidade de Aveiro, já no próximo ano letivo, Ana Morête refere que o Serviço será incluído no programa de formação, começando também a receber alunos. Consequentemente, “se o pretendido é que esta instituição de saúde de transforme num hospital-escola, serão precisos mais médicos”.

Paralelamente, essa ligação com a Faculdade “potenciará, naturalmente, o investimento na formação, através da realização de programas doutorais por parte da equipa”.

Quanto à dimensão do Serviço, a médio prazo, deverá voltar a crescer, quando se der a ampliação das áreas da Unidade de Ambulatório e da Consulta Externa do Hospital de Aveiro para os terrenos do antigo estádio Mário Duarte, aprovada em julho de 2022, e que corresponde a um acordo entre o CHBV, a CMA, a Universidade de Aveiro (UA) e o Ministério da Saúde, celebrado em 2016.

Garantir igual acesso aos cuidados de Imunoalergologia

Ana Morête realça que também a dedicação do corpo de Enfermagem tem contribuído para a evolução do Serviço, pois, “só o trabalho realizado e a demonstração da atividade através de estatísticas permitiu termos o reconhecimento por parte do Conselho de Administração e conseguirmos o espaço que temos hoje”.


De facto, enquanto até 2021 o Serviço estava localizado na área da Unidade de Tratamento Ambulatório, no 3.º piso, não tendo um espaço próprio, em 2022 tudo mudou. Desceu para o 1.º piso, onde existe agora um hospital de dia três vezes maior, com três cadeirões, uma televisão e uma sala de espera acoplada, e ainda duas salas e dois gabinetes – o dobro do que existia antes – e uma sala de reuniões.

A nossa interlocutora reconhece que “a Imunoalergologia teve a oportunidade de se mostrar enquanto especialidade durante a pandemia e a sua dedicação foi uma mais-valia na forma como foi gerida a covid-19”.

Na sua ótica, “salvo situações mais específicas, o Serviço está capacitado com os meios necessários para fornecer cuidados diferenciados de Imunoalergologia aos 370 mil habitantes servidos pelo CH, o que deve ser o principal objetivo de qualquer serviço”. Essa foi, desde logo, a sua principal prioridade: “Garantir que os doentes tenham acesso a todo o leque de cuidados que teriam noutras instituições.”

De facto, do painel de consultas fazem parte áreas como as alergias alimentar e a fármacos, sendo ainda realizadas várias atividades em hospital de dia, “desde o início da imunoterapia com alergénios nos doentes a quem prescrevemos vacinas da alergia, a aplicação de biológicos àqueles que têm asma, dermatite atópica, urticária, rinossinusite com polipose nasal, e de gamaglobulina em casos de imunodeficiência comum variável, e a realização de provas de provocação oral com alimentos e medicamentos”.



Elementos da equipa

A médica denota o facto de o hospital de dia funcionar 12 horas, “oferecendo grande segurança na abordagem dos doentes, pois, caso surja alguma reação mais tardia, é possível fazer uma vigilância mais duradoura”.

Apenas o facto de o Hospital de Aveiro não oferecer Cuidados Intensivos Pediátricos “limita, por vezes, a realização de algumas provas de provocação oral que comportem maior risco para as crianças”. Também o Laboratório de Patologia Clínica “não tem a dimensão daqueles que integram hospitais centrais”, no entanto, “até à data, nunca houve a necessidade de referenciar algum doente seguido aqui”. Quando é preciso pedir um estudo genético, a amostra de sangue é colhida em Aveiro e enviada para o Centro de Sangue e da Transplantação de Coimbra.

Ana Morête realça que outra das grandes metas que procura sempre cumprir é “manter o reduzido tempo de espera para primeira consulta”, que se situa nas seis semanas, em regime normal. Paralelamente, e de forma global, procura “manter o crescimento sustentado e estruturado do Serviço, garantindo um bom tempo de resposta e respeito pelo doente”.



Reforçar a relação com os CSP


Para Ana Morête, “a envolvência com os Cuidados de Saúde Primários é essencial porque, sendo um Serviço pequeno, com poucos especialistas, dão-se muitas altas hospitalares e os doentes voltam a ser acompanhados pela MGF”. Paralelamente, “enquanto o início da imunoterapia com alergénios é assegurado pelo Serviço, a falta de meios humanos obriga a que as tomas seguintes aconteçam nas unidades de saúde dos doentes”.

Por isso, ao longo dos anos, sempre procurou “estar muito próxima dessa especialidade”, sendo disso exemplo o seu envolvimento em formações online dinamizadas pelo ACES Baixo Vouga e dirigidas àqueles colegas.

A própria familiaridade que existe é motivada pelo contacto estabelecido no Serviço de Urgência, onde Ana Morête prestou apoio durante vários anos, e até no Serviço de Imunoalergologia, “por onde muitos médicos de família têm passado no âmbito dos seus estágios hospitalares”.

A diretora do Serviço avança que esses colegas são responsáveis por 50% das referenciações que recebem, acrescendo que 25% advêm da Urgência, particularmente “casos de anafilaxia, alergias alimentares e medicamentosas, urticária e angioedema, dado o apoio diário que a equipa lá presta”, e as restantes são internas, “mais frequentemente da Otorrinolaringologia e da Pediatria”.



A reportagem completa ao Serviço de Imunoalergologia do CHBV, com entrevistas a diversos profissionais, pode ser lida na última edição do jornal Hospital Público.

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