Infeciologia Pediátrica deverá ser reconhecida como subespecialidade muito em breve

Uma das prioridades de Filipa Prata, presidente da SIP, para este mandato é alavancar a Infeciologia Pediátrica e acredita que a criação da subespecialidade irá contribuir para tal. Sendo até ao momento, considerada apenas uma área da Pediatria, à qual um conjunto de pediatras se dedicam, a atual Direção da SIP anseia que esta possa ser “reconhecida como subespecialidade ainda no decorrer deste ano”.

Esta é já uma realidade em muitos países europeus. Em Portugal, após a elaboração e entrega de um documento que pede o reconhecimento da Infeciologia Pediátrica como subespecialidade junto do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos, ainda durante a vidência da anterior Direção da SIP, aguarda-se a sua aprovação.

Esse seria um passo fundamental para incrementar o número de profissionais diferenciados na área porque, através da frequência de um Ciclo de Estudos Especiais de dois anos, os pediatras poderão tornar-se subespecialistas em Infeciologia Pediátrica. Na sua perspetiva, “seria importantíssimo haver colegas com formação em Infeciologia em vários hospitais do país”.


Filipa Prata: “Seria importantíssimo haver pediatras com formação em Infeciologia em vários hospitais do país."


A presidente da SIP, uma sociedade afiliada da Sociedade Portuguesa de Pediatria, adianta haver cerca de uma centena de sócios, alguns dos quais integram unidades de Infeciologia Pediátrica ou de Infeciologia e Imunodeficiências, ou simplesmente realizam Consulta de Infeciologia Pediátrica.


“A Pediatria divide-se em diferentes áreas, como Pneumologia Pediátrica, Imunoalergologia Pediátrica e Gastrenterologia Pediátrica. Nesse sentido, equipara-se à Medicina Interna, tendo várias subespecialidades”, comenta.

No caso da ULS de Santa Maria, onde Filipa Prata trabalha desde 2001, a Unidade de Infeciologia e Imunodeficiências integra, atualmente, cinco pediatras. Esta insere-se, à semelhança de outras unidades, no Serviço de Pediatria Médica. Contudo, essa organização difere consoante as instituições. “Há hospitais cujas enfermarias estão organizadas por grupos etários e os consultores de Infeciologia Pediátrica vão dando apoio aos vários espaços”, refere.

Filipa Prata caracteriza a Infeciologia como “uma área muito vasta”, por englobar “desde as infeções mais banais, como otites, amigdalites, gripes, gastroenterites agudas, pielonefrites, até às mais graves, como abcessos cerebrais, meningites, sépsis e choques tóxicos”.

Numa altura em que se assiste a um crescente número de casos de sarampo nos continentes americano e europeu, a presidente da SIP alerta para o facto de tal se dever essencialmente à falta de vacinação, que não representa o que acontece em Portugal.

“Aqui, temos uma das maiores taxas de vacinação em termos mundiais”, salienta, ressalvando, contudo, que “se crianças portuguesas ou imigrantes não vacinadas, por opção ou por não terem ainda idade suficiente para administração da vacina, contactarem com casos de sarampo, existe risco de propagação da doença”.

O grande interesse dos internos pela área tem-se refletido na participação ativa nos eventos organizados pela SIP

Constituída a 29 de junho de 2000, a SIP está prestes a assinalar duas décadas e meia de existência. Tal como sucede com a generalidade dos internos de Pediatria, que “participam de forma muito ativa nas Jornadas organizadas pela SIP”, também Filipa Prata começou a frequentar tais eventos durante o seu internato, e logo se tornou sócia desta Sociedade.

Agora, enquanto sua presidente, afirma que procura “manter aquele que tem sido o objetivo da SIP – mostrar o papel relevante da Infeciologia no seio da Pediatria”. Para tal, importa também continuar a “investir na formação dos mais novos e divulgar as novidades na área”.

Ao longo do tempo, a SIP tem organizado, assim, as suas Jornadas nacionais, a cada dois anos, e um ou dois cursos temáticos anualmente, que se debruçam sobre assuntos como antimicrobianos, infeções e vacinas, e VIH. Este ano, realizaram-se as 19.as Jornadas da Sociedade de Infeciologia Pediátrica, agora em maio, e está programado acontecer, no final do ano, o Curso de Vacinas.



Sendo esta “uma área que tem vindo a gerar grande interesse ao longo dos anos”, tal reflete-se na “elevada participação dos internos nas reuniões, que juntam cerca de duas centenas de profissionais”.

Também é evidente o grande investimento na submissão de pósteres e comunicações orais, que culminaram em 54 trabalhos apresentados.

Há efetivamente um diálogo aberto, colocam-se diferentes questões e debatem-se vários temas”, refere. Além dos prémios associados aos pósteres e comunicações orais, durante as Jornadas, a SIP atribui também o Prémio Dr. Pita Groz Dias, como forma de distinguir um artigo científico na área da Infeciologia.

Filipa Prata adianta que as últimas Jornadas “conjugaram a apresentação de inovações na área com a revisitação de algumas ‘velhas’ doenças”. Uma das conferências procurou refletir sobre a inteligência artificial e responder à questão:

“Os infeciologistas vão desaparecer?”. Segundo a presidente da Sociedade, a conclusão foi clara: “Não! Os infeciologistas pediátricos irão manter-se, até porque há alguns aspetos
que dependem da sensibilidade do médico, que é impossível a IA atingir. Mas, à semelhança do que sucederá com todos os médicos, aqueles que souberem usar as novas tecnologias para seu benefício provavelmente terão maior facilidade em desempenhar o seu trabalho e superar aqueles que não tiverem a mesma abertura.”

Houve ainda oportunidade de explorar a relação entre alterações climáticas e doenças infeciosas, numa outra conferência, num contexto atual em que “as doenças infeciosas estão a aumentar nitidamente em virtude das alterações climáticas”. Tal exige, por isso, “um esforço político e individual, de forma a evitar o agravamento crescente que se tem verificado”.

DIREÇÃO DA SIP (Triénio 2024-2026)

Presidente: Filipa Prata - (HSM, ULS de Santa Maria) 1
Secretária: Maria João Brito - (Hospitais Grupo CUF) 2
Tesoureiro: Alexandre Fernandes -
(CMIN, ULS de Santo António) 3
Vogais: Jorge Rodrigues - (H de São Teotónio, ULS de Viseu Dão-Lafões) 4
Ana Dias Curado - (HSM, ULS de Santa Maria)

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