«Infelizmente, a formação de profissionais na área da Geriatria ainda é deficitária»

Quando o médico de família Hugo Cordeiro afirma que a Geriatria em Portugal “está, a todos os níveis, uns largos anos, para não dizer décadas, atrasada em relação a outras nações da Europa”, junta a sua voz a quantos têm vindo a alertar para esta realidade.

Lembrando ser o nosso país um dos locais “onde se envelhece com menos saúde”, para tal situação contribui, nomeadamente, “o facto de, na área da Geriatria, a formação dos profissionais, sejam eles auxiliares, enfermeiros ou médicos, ser ainda deficitária”.

Para além de que, “em termos sociais, as infraestruturas de apoio que o Estado oferece não são, de todo, suficientes para a procura, quer em termos de quantidade como de qualidade”.

Em declarações à Just News, reconhece que, “felizmente, há um caminho que tem vindo a ser trilhado no sentido de se apostar numa especialização nesta área, muito por influência da Medicina Interna, sendo certo que, havendo ainda muito por fazer, estamos melhor do que há uns anos”.

Embora Hugo Cordeiro tenha passado, durante a faculdade, em Coimbra, pela enfermaria coordenada pelo internista Manuel Teixeira Veríssimo, que reconhece ser “uma referência nesta área” – seria, aliás, o primeiro presidente do Colégio da Competência de Geriatria da Ordem dos Médicos –, nessa altura não imaginava que mais tarde viria a interessar-se tão intensamente pela população geriátrica.


Hugo Cordeiros 

Essa descoberta viria a acontecer logo no início do seu internato de Formação Específica, como recorda: “Constatei que talvez fosse a faixa etária onde eu poderia ser mais útil, até porque comecei a verificar que gostava de lidar com estes doentes, de quem, de facto, ia recebendo um bom feedback.”

De tal forma Hugo Cordeiro ganhou interesse por este grupo de utentes que decidiu fazer, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, um curso de especialização em Geriatria de dois anos, quando cumpria o 2.º e o 3.º ano do internato de MGF.

“Somos quase como uma família”

É fácil perceber como é que o jovem médico surge envolvido, desde o primeiro momento, no projeto das Jornadas Multidisciplinares de MGF, cuja 7.ª edição reuniu mais de 3000 participantes há dias no Porto. Dois dos promotores do evento – Manuel Viana e Paulo Pessanha – integravam, no período de internato de Hugo Barbosa, o grupo de médicos especialistas da USF de São João do Porto.

“Quiseram-nos envolver aos cinco internos da Unidade logo na primeira edição e o facto é que somos, hoje em dia, quase como uma família. Mantemos as reuniões mensais, mesmo quando não há nada de especial para discutir, mas para manter o espírito de equipa, de união e de convívio saudável, o que contribui muito para o sucesso das Jornadas e do Programa que vamos construindo ano após ano”, diz.

Uma das sessões que Hugo Barbosa moderou este ano foi precisamente a dedicada ao idoso frágil, em que Manuel Viana, que possui a competência em Geriatria pela Ordem dos Médicos, debruçou-se sobre o tema “O que saber para melhor tratar”.

A esse respeito, esclarece ser necessário “interpretar com muito cuidado os estudos sobre novos fármacos que vão saindo quando se pretende extrapolar os resultados para o idoso frágil, pois, este é frequentemente excluído dos ensaios clínicos”.

E, para além disso, sempre que possível, deve-se envolver na decisão terapêutica o próprio doente e a sua família, explicando muito bem quais as vantagens e desvantagens da nova medicação que se vai instituir”.

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