Insuficiência cardíaca: está previsto «um crescimento da doença de quase 50% até 2030»

A articulação de cuidados e a criação de "um processo assistencial de manejo integrado da insuficiência cardíaca (IC)" são dois pontos que constam de um documento de consenso sobre IC, coordenado por Cândida Fonseca.

A cardiologista da Unidade de IC do Serviço de Medicina III e Hospital de Dia do Hospital S. Francisco Xavier - Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), falou destas e de outras medidas no “Heart Team – Quando a imagem converge com a clínica”.


Maria de Fátima Pinto, Ana Almeida, Ana Teresa Timóteo e Cândida Fonseca. 

A reunião, que se realizou em Lisboa no último fim de semana, foi promovida conjuntamente por quatros grupos de estudo da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC): Insuficiência Cardíaca, coordenado por Cândida Fonseca; Cuidados Intensivos Cardíacos, coordenado por Ana Teresa Timóteo; Cardiologia Nuclear e Ressonância Magnética e TC Cardíaca, coordenado por Ana Almeida; e Cardiopatias Congénitas, coordenado por Maria de Fátima Pinto.

No decorrer de uma conferência aberta, Cândida Fonseca apresentou os resultados do documento de consenso “Pela melhoria do tratamento da IC em Portugal”, publicado na Revista Portuguesa de Cardiologia.


Trata-se de um documento subscrito pelos grupos de estudos da IC da SPC e da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, pelo Colégio da Especialidade de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos, pelo Núcleo de Estudos de Doenças Cardiovasculares em MGF e pelo Núcleo de Enfermagem em Cardiologia da SPC.

Com base nos resultados, a especialista realçou que se “torna essencial que a comunicação e a articulação entre todos os cuidados de saúde sejam eficazes para se combater a IC”. Esta interligação é ainda mais premente se se tiver em conta que “os doentes com IC apresentam, frequentemente, múltiplas comorbilidades”.

A médica relembrou ainda que a IC é, cada vez mais, “um problema de Saúde Pública, sendo a primeira causa de hospitalização de pessoas com mais de 65 anos, prevendo-se um crescimento da doença de quase 50% até 2030”.

E sublinhou: “O diagnóstico é tardio, o que coloca em causa a sobrevivência e a qualidade de vida destes doentes, apesar das novas armas terapêuticas, aumentando também os custos associados aos internamentos.”

Membros do grupo que elaborou o documento de consenso sobre IC: João Morais, Dulce Brito, Cândida Fonseca, José Silva Cardoso, Rui Cernadas e, ausentes na foto, Jorge Ferreira, Fátima Franco e Teresa Rodrigues.

Cândida Fonseca apontou ainda a importância de existir um processo assistencial de manejo integrado da IC, que “facilite o diagnóstico, o tratamento no ambulatório e a referenciação, a fase aguda e o internamento, a pré-alta e a fase vulnerável, a reabilitação cardíaca e os cuidados paliativos”.

Este processo assistencial, assim como a maior articulação entre cuidados, são algumas das recomendações de curto, médio e longo prazo que constam do documento de consenso. Há ainda a destacar a inclusão da IC como prioridade no Programa Nacional para as Doenças Cerebrocardiovasculares da Direção-Geral da Saúde (DGS); a criação de um “Boletim de IC” para facilitar o acesso à informação clínica; a implementação de uma metodologia de recolha de dados, mais formação para profissionais de saúde e população, entre outras.

António Vaz Carneiro, Adelaide Belo, Rui Ferreira, Cândida Fonseca, João Morais e Antonio Perez Metelo.

As várias medidas propostas pelo documento de consenso foram debatidas na conferência, em que participaram Rui Ferreira, coordenador do Plano Nacional para as Doenças Cerebrocardiovasculares da DGS, António Vaz Carneiro, do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde da DGS e diretor do CEMBE (Centro de Estudos de Medicina Baseados na Evidência). Também esteve presente Adelaide Belo, coordenadora nacional da Unidade Central Consulta Tempo e Horas, em representação da ACSS (Administração Central do Sistema de Saúde). A moderação esteve a cargo do economista António Perez Metelo.

Podem ser consultadas mais fotos da reunião na Galeria de imagens.