Investigação básica e de translação em Cardiologia ainda é novidade em Portugal
“Apesar de a investigação cardiovascular na área clínica estar, desde há muito, bem representada em Portugal, a ciência básica, que tem a ver com a compreensão da formação do coração durante o desenvolvimento embrionário, bem como o conhecimento das células que constituem este órgão e de como interagem para garantir a sua homeostasia e a sua reparação na doença, não era realizada em Portugal até há pouco tempo.” Quem o afirma é Perpétua Pinto-do-Ó, investigadora do INEB/ICBAS (UP).
A investigadora do Instituto de Engenharia Biomédica/Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto, que presidiu a uma conferência intitulada “Heart without borders”, esclarece que os primeiros grupos a serem constituídos, que fazem apenas investigação de índole fundamental, e alguns que têm como objetivo primário transladar para a clínica algum do conhecimento mais recente em reparação/regeneração de tecidos, surgiram apenas nos últimos sete anos.
Adelino Leite-Moreira, cirurgião cardíaco do Centro Hospitalar de São João (Porto) e co-chair da iniciativa, sublinha que “o novo programa-quadro de financiamento da União Europeia coloca um grande enfoque na descoberta de mecanismos e de novos conhecimentos que possam depois ter potencial aplicabilidade prática e vir a dar lugar à geração de valor para o conhecimento”.
E acrescenta que há um conjunto de doenças cardiovasculares para as quais ainda não há solução, sendo que “o conhecimento dos aspetos ligados ao desenvolvimento do coração e à sua regeneração podem ajudar a encontrar a chave e a resposta para algumas destas questões”.
Foi neste contexto que surgiu a ideia de identificar os especialistas que, a nível de investigador principal, estão a trabalhar nesta área designada por Biologia Fundamental Cardiovascular e de Translação, convidar alguns estrangeiros que têm já uma carreira bem estabelecida dentro da área para conhecerem o trabalho desenvolvido em Portugal e discutir o panorama do que está a ser feito no país e o que pode ser desenvolvido em conjunto.
O programa da conferência, que decorreu durante um dia e meio no Porto, incluiu seis sessões plenárias, proferidas por seis cientistas estrangeiros convidados, que foram intercaladas pelas palestras de cada um dos investigadores principais identificados como trabalhando em Portugal nesta área.
No âmbito do evento, foi lançado o projeto “HeART Without Borders”, tendo sido expostas peças alusivas ao tema “Coração” e generosamente elaboradas por três artistas portugueses. “Este projeto consiste na receção de obras de arte, para depois do final da primavera de 2015 fazer uma exposição e um leilão com esses trabalhos, sendo que os proventos que advirem da venda dessas obras serão repartidos pelos artistas e arrecadados num fundo para apoio a jovens investigadores na área cardiovascular”, explica Perpétua Pinto-do-Ó.
Além de Perpétua Pinto-do-Ó e Adelino Leite-Moreira, a organização da conferência envolveu a Sociedade Portuguesa de Biologia do Desenvolvimento, a Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular e a Sociedade Portuguesa de Cardiologia. O evento registou a presença de uma centena de participantes.