Investigação na área cardiovascular: rede nacional «potencia os recursos já existentes»

Grupos de investigação de todo o país, na área cardiovascular, vão estar reunidos em Coimbra no próximo fim-de-semana. Depois de, em 2014, o 1.º Encontro de "Heart Without Borders" se ter realizado no Porto, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra organiza agora a 2.ª edição deste evento, que se realiza no âmbito do PT_BEAT - Rede Nacional de Investigação em Ciências Cardiovasculares.

Em entrevista à Just News, Henrique Girão, presidente da Comissão Organizadora e subdiretor da FMUC para a área da "Investigação científica e desenvolvimento tecnológico", começa por explicar quando surgiu a ideia de ser criada esta rede, a sua relevância e as entidades nela representadas:

"O PT_BEAT é um consórcio, que surgiu há cerca de 4 anos atrás, na sequência de interesses e objectivos científicos partilhados por diversos grupos de investigação portugueses, centrados em aspectos de investigação básica e translacional, na área cardiovascular".

Desta forma, pretendeu-se "criar condições e delinear estratégias que estimulassem o estabelecimento de colaborações sólidas, robustas e frutíferas, promovendo sinergias e potenciando os recursos já existentes em Portugal". 



Alargar projeto "a todos os grupos de investigação"


Segundo Henrique Girão, embora o PT_BEAT tenha começado com grupos da FMUP, INEB, FMUC, FMUL e FCM-UNL, "o objetivo é alargar esta rede a todos os grupos de investigação que a queiram integrar e se revejam nos seus objectivos principais".

E adianta: "Penso que o Prof Adelino Leite Moreira não me vai levar a mal se disser que, um pouco inspirado no espírito PT_BEAT, foi possível montar um projecto de investigação interinstitucional, recentemente financiado pela FCT, no âmbito dos PAC, num processo altamente competitivo". Este projecto, intitulado NETDIAMOND, "é liderado pelo Prof Adelino Leite Moreira e inclui muitos membros do PT_BEAT".

Encontro com "elevado nível de exigência e expectativas"

O subdiretor da FMUC recorda que a 1ª edição do “Heart Without Borders”, que decorreu no Porto, foi "organizado pela Prof Perpétua Pinto-do-Ó e Prof Adelino Leite Moreira, que são, desde o início, os grandes pilares do PT_BEAT".


Perpétua Pinto-do-Ó e Adelino Leite Moreira durante o 1.º Encontro "Heart Without Borders", em 2014.

Para o investigador, não há qualquer dúvida de que esse encontro foi "um sucesso tremendo, pelo que a responsabilidade de organizar uma 2ª edição, é enorme, dado o elevado nível de exigência e expectativas".

Relativamente à periodicidade da reunião, esclarece que, sendo o consórcio "relativamente recente e ´jovem`, não houve tempo ainda para o necessário processo de crescimento e amadurecimento que permita reuniões com maior regularidade". No entanto, sublinha, "num futuro próximo, penso que a ideia é criar as condições e a dinâmica que permitam a realização de uma reunião anual, envolvendo um numero cada vez maior de grupos de investigação".



Uma montra do que de melhor se faz na área cardiovascular 

O programa desta 2.ª edição do “Heart Without Borders” inclui 16 apresentações orais, divididas por 4 grandes temas: i) células estaminais e desenvolvimento cardíaco, ii) fisiopatologia das doenças cardiovasculares, iii) mecanismos de regeneração e reparação cardíaca e iv) novas estratégias terapêuticas para as doenças cardiovasculares.

De acordo com Henrique Girão, pretende-se que os trabalhos apresentados "sejam representativos daquilo que se faz em Portugal em termos de investigação básica e translacional, na área cardiovascular".

Para além destas apresentações, "a cargo de membros da comunidade científica nacional, teremos também uma palestra proferida por um cientista da Suecia, patrocinado pela AstraZeneca, que nos vai falar da investigação desenvolvida por esta companhia farmaceutica, centrada na descoberta de novas abordagens terapêuticas para a insuficiência cardíaca". 



Empenho "muito entusiasta" na organização do encontro

Como resultado do "enorme sucesso" que foi a 1ª Edição do “Heart Without Borders”, Henrique Girão reconhece que "tem sido uma tarefa tremendamente exigente preparar este 2º encontro, para mais quando os apoios para tal são tão escassos".

No entanto, "e apesar da grandeza deste desafio", afirma que tem sido possível levar por diante esta tarefa "com a ajuda de vários membros do PT_BEAT e de membros do meu grupo de investigação (GuIC), que desde o inicio se têm empenhado, de uma forma muito entusiasta". E faz questão de deixar "a todos os envolvidos uma palavra muito sentida de agradecimento e reconhecimento pelo esforço e dedicação postos nesta iniciativa".

"Atrair uma nova geração de cientistas"

Questionado sobre qual o grau de participação de oradores estrangeiros no 2.º “Heart Without Borders”, o presidente da Comissão Organizadora do evento explica que a grande maioria dos trabalhos apresentados neste encontro são de grupos de investigação portugueses: "O principal objectivo desta rede, e destes encontros, é apresentar e discutir os resultados obtidos por investigadores nacionais, assim como debater o estado da investigação cardiovascular em Portugal".

Indica ainda que, "com a discussão gerada nestes encontros, pretende-se identificar oportunidades e projectos de colaboração que não só beneficiem os grupos envolvidos, como também ajudem a alavancar e projectar, nacional e internacionalmente, a investigação cardiovascular desenvolvida em Portugal".

Por outro lado, além de investigadores, "em diversas fases do percurso científico e académico", Henrique Girão sublinha: "Foi para nós igualmente importante contar com a presença de estudantes neste encontro, por forma a estimular e atrair, para a área cardiovascular, uma nova geração de cientistas. O futuro e sucesso desta área depende deles...".


Henrique Girão com elementos da sua equipa.

Promover "uma abordagem transversal e integrativa da investigação"

Faz parte da rotina dos investigadores da FMUC desenvolverem trabalhos em colaboração com investigadores, clínicos e variados outros profissionais, a nível nacional e internacional.

Para Henrique Girão, esta prática é vital, já que "a colaboração é hoje uma estratégia fundamental para o sucesso da investigação, nomeadamente na investigação biomédica, pois permite abordagens mais completas, complexas e transversais, possibilitando o desenvolvimento de projetos de maior dimensão, mais ambiciosos e com maior impacto".

Alerta para o facto de que, "nos dias de hoje, a ciência básica enfrenta grandes dificuldades, fruto das exigências que lhe são ´impostas` em termos de aplicabilidade e retorno imediato do investimento feito na investigação, com benefício para os cidadãos (e contribuintes!)".

Considera que, também por esse motivo, a inclusão em equipas multidisciplinares, "onde se incluem clínicos, bioquímicos, biólogos, farmacêuticos, engenheiros, permitindo uma abordagem transversal e integrativa da investigação, desde a molécula ao Homem, ´facilita`o estabelecimento de pontes que projetam a investigação fundamental até ao ´mundo visível e palpável.`" 

Contudo, esclarece que, apesar da importância da investigação aplicada, "com ganhos aparentemente óbvios, é importante apostar na ciência básica/fundamental, pois é daqui que saem as ideias, os conceitos, o conhecimento que ´alimenta` e potencia a ciência aplicada".


Uma equipa empenhada em organizar um evento de excelência no próximo sábado.


Investigação de "elevadíssima qualidade" com escassos recursos

Segundo Henrique Girão, a investigação que é desenvolvida em Portugal, quer em termos de investigação fundamental ou clinica, "é de elevadíssima qualidade, de acordo com os padrões internacionais mais exigentes".

Nem mesmo os "escassos recursos e apoios existentes no nosso país" impedem os investigadores portugueses de conseguir desenvolver trabalhos de "enorme relevo e impacto, capazes de ombrear com o que de melhor se faz nos laboratórios e instituições de maior dimensão, com outras condições, nomeadamente acesso a tecnologia mais avançada e diferenciada".

"Eu sou um acérrimo defensor do trabalho em colaboração"

Mas o investigador da FMUC salienta que, "por melhores ideias que tenhamos, sem equipamentos e infraestruturas tecnológicas de apoio, nao se pode ir muito longe. Podemos tentar minimizar este limitação, estabelecendo colaborações e parcerias, mas seria necessário um maior investimento do pais, e das regiões, em infraestruturas que permitam o desenvolvimento de projectos mais ambiciosos e de maior impacto."

Também no que a Coimbra diz respeito, afirma não ter "a mais pequena dúvida de que o sucesso da investigação, nomeadamente investigação biomédica, passa pelo trabalho conjunto, pela colaboração, pela partilha", acrescentando:

"Sozinhos somos poucos e fracos... só juntos, investigadores, grupos de investigação, instituições, podemos ser mais fortes e competitivos. Eu sou um acérrimo defensor do trabalho em colaboração, tirando proveito das competências complementares de cada um, e que só assim poderemos chegar mais longe."

Tânia Marques, Monica Zuzarte, Elisa Ferrada, Steve Catarino, Teresa Rodrigues, Henrique Girão, Daniela Almeida e Carla Marques.


Comunicar com os cidadãos "de uma forma eficiente, construtiva e pedagógica" 

Será que a sociedade, no geral, tem noção dessa excelência da investigação na Medicina em Portugal? "Eu quero acreditar que sim", afirma Henrique Girão, acrescentando: "A relação entre a ciência e a sociedade é algo que me tem interessado muito. Quer se queira quer não, o paradigma mudou. No passado, os cientistas preocupavam-se apenas em comunicar com os seus pares, usando para isso uma linguagem codificada, encriptada, que não estava acessível à maioria da população."

Atualmente, "vivemos tempos diferentes, em que os cidadãos exigem, na minha óptica bem, estar informados em relação aos avanços da ciência e da tecnologia". Nesse contexto, afirma que "só uma sociedade mais e melhor informada, com maior cultura e literacia cientifica, poderá melhor entender o mundo que a rodeia e tomar decisões mais acertadas".

Na sua opinião, a missão de uma Faculdade de Medicina não deve ser apenas formar médicos e prepará-los "para uma actividade assistencial especializada, de qualidade, ao serviço das populações, mas também ter um papel ativo na promoção da cultura científica dos cidadãos, contribuindo assim, para uma sociedade mais apta para enfrentar, com sucesso, os problemas e desafios com que se depara".

Assim, destaca a importância das Faculdades de Medicina e outras instituições de investigação, comunicarem, "de uma forma eficiente, construtiva e pedagógica, com os cidadãos, promovendo aquilo que é produzido pelos seus investigadores e contribuindo para uma sociedade mais culta e alerta para os problemas e desafios que atingem o mundo. Essa deve ser a missão de um gabinete de comunicação de ciência."


Iniciativa da FMUC reforça "impacto da investigação na sociedade"

E é neste contexto que surge o Laboratório de Comunicação de Ciência, um dos mais recentes projetos lançados pela atual Direção da FMUC e no qual Henrique Girão se tem "envolvido de uma forma muito particular, empenhada e ativa (e muitas vezes...emocional!)". 

Na sua opinião, "deve ser objetivo de uma instituição de investigação, como uma Faculdade de Medicina, contribuir para uma sociedade mais culta e informada". E, no caso dos membros de uma Escola Médica, "estes poderão contribuir para que os cidadãos estejam mais e melhor informados e esclarecidos acerca dos problemas relacionados com a saúde e a biomedicina".

Desta forma, assim surgiu a ideia de se criar uma estrutura de comunicação de ciência na FMUC, "que faça não só a promoção e divulgação das actividades levadas a cabo na Faculdade, como também lançar e dinamizar iniciativas que promovam a aproximação e interação dos membros da comunidade científica e académica e os cidadãos".

A dinamização de uma relação mais próxima entre estas duas entidades é considerada fundamental, "não só para ajudar a credibilizar e promover o trabalho científico levado a cabo nas instituições, mas também para alavancar, afirmar e reforçar a importância e impacto da investigação na sociedade".



Abrir as portas da investigação e comunicar a ciência... com paixão

Desde há vários anos que a FMUC tem uma estrutura de comunicação e literacia em saúde, "que tem desenvolvido um trabalho de grande relevância", refere o investigador, afirmando que "os objetivos que gizamos para o Laboratório de Comunicação de Ciência (LCC) são distintos, embora se complementem em muitos aspectos".

De forma a "levar por diante o LCC", explica que "tivemos que recorrer a especialistas de reconhecido mérito em áreas de intervenção estratégica, pedindo ajuda e estabelecendo as colaborações necessária que nos permitam desenvolver um projecto sólido, estruturado, coerente e, muito importante, que perdure no tempo."

A forma como Henrique Girão fala do projeto evidencia a paixão que sente: "Esta tem sido uma experiência extraordinariamente enriquecedora e gratificante, que me tem permitido ver crescer, de uma forma sustentada, com passos pequenos mas firmes, um projecto em que tanto acredito e que acarinho, e no qual me tenho empenhado muito". 

Desejando que o LCC "possa estar ao serviço da FMUC muito em breve", acredita que esta iniciativa, "que tem envolvido muita gente da FMUC, e fora dela, pode constituir uma pequena e modesta contribuição para ajudar a promover e projetar a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, nomeadamente na sua missão social e cultural".





seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda