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IPO Coimbra: acesso a informação integrada do doente melhora prestação de cuidados

Revolução digital, acessibilidade e interoperabilidade são as palavras de ordem dos profissionais de saúde do IPO de Coimbra, desde que viram implementado na instituição o sistema de informação Sonho V2/SClínico.  

Exatamente no dia 25 de setembro, Dia Mundial do Sonho, a Just News foi conhecer os rostos de várias equipas que há um ano “vestiram a camisola” por um projeto que reconhecem ter potenciado uma melhoria da prestação de cuidados.

“Hoje, conseguimos ter uma visão integrada do doente, independentemente do nível de cuidados e da entidade hospitalar”, explica Ana Pais, médica oncologista e diretora clínica do IPO de Coimbra, referindo que a implementação do atual sistema de informação configurou um passo fundamental na comunicação com as estruturas do SNS.


Ana Pais

"O nosso anterior sistema de informação não comunicava"

“Apesar de ser ‘um fato à medida’, o nosso anterior sistema de informação, apenas partilhado com o Centro Hospitalar de Leiria, não comunicava, e nós estamos na era da comunicação!”, salienta.

Rosário Reis, vogal do Conselho de Administração, reconhece igualmente as mais-valias trazidas pela Suite Hospitalar, permitindo a todas as unidades hospitalares “partilhar a mesma linguagem e os mesmos registos, homogeneizando a informação a nível nacional”.

Em termos de produção, afirma que se assistiu a uma evolução positiva, nomeadamente do índice de case-mix, que distingue a diferenciação dos hospitais, com “um aumento de 2% face a 2019 e de 6% face a 2018, motivado pela facilitação dos registos”.

Também o aumento do número de doentes classificados no índice de severidade major (18%) e extremo (32%), na sua opinião, “não significa que os doentes tenham agravado a sua condição, mas sim que conseguimos evidenciar melhor aquilo que fazemos”.

Assume que “estamos a registar mais e melhor”, fruto das vantagens destes sistemas de informação, que “digitalizam e uniformizam procedimentos e permitem que os profissionais acedam mais facilmente à informação”.


Equipa que coordenou a implementação do Sonho v2/SClínico: Soledade Neves, Pedro Couceiro, Ana Pais e Rosário Reis

“Procuramos que o doente, no mesmo dia, seja atendido em várias especialidades”

Coordenadora da implementação do SClínico no setor da enfermagem, Soledade Neves, que trabalha na instituição há cerca de 40 anos, afirma que, “embora esta mudança obrigue a algum dispêndio de tempo por parte da equipa de enfermagem, sem dúvida que em termos de tomada de decisão de prestação de cuidados é facilitadora, porque a informação do doente está agora toda concentrada”.

Uma vez que, ao nível dos internamentos, a equipa de enfermagem já utilizava uma anterior aplicação da SPMS – o SAPE –, a enfermeira refere que a maior transformação se deu ao nível do ambulatório.


Soledade Neves

Elaborados em papel, todos os registos passaram a ser eletrónicos, permitindo “integrar a informação do doente, não só ao nível da enfermagem, mas de todos os profissionais que efetuam registos no processo clínico” e, assim, “agilizar os atos do doente na estrutura hospitalar”.

“Procuramos que o doente, no mesmo dia, seja atendido em várias especialidades”, afirma Soledade Neves, salientando que tal implicava, em termos de papel, que o processo tivesse de acompanhar o doente entre os vários edifícios. “Muitas vezes, dava-se o caso de o doente entrar na consulta antes do processo!”, reforça Rosário Reis, denotando que, neste momento, “a acessibilidade à informação é total e imediata”.

Na circunstância pandémica do momento, o atual sistema de informação veio permitir “uma capacidade de adaptação sem precedentes”, observa a vogal do CA, destacando que “se a pandemia tivesse surgido um ano antes, não teríamos conseguido registar a mesma produção”.

De facto, se no anterior sistema era necessário “solicitar diversos códigos de produção”, o processo é hoje facilitado, bastando, por exemplo, “registar que o ato médico configurou o tipo de consulta sem presença do utente”.

Além das vantagens inegáveis desta Suite Hospitalar, Rosário Reis e Ana Pais expressam ainda a satisfação pelo facto de este sistema ter possibilitado a utilização do BI Hospitalar. 



“Face a cada uma das grandes linhas de atividade, conseguimos saber a produção reportada no dia de ontem – número de consultas realizadas, doentes atendidos, especialidades com maior número de consultas, tipo de consulta ou número de camas ocupadas”, avalia Rosário Reis.


“O BI Hospitalar é o resultado puro dos registos, que nos permite em tempo real avaliar qual é a produtividade e eficiência de cada médico e serviço”, observa Ana Pais, reforçando que tal monitorização não era possível com o sistema de informação cessante.

Uma mudança tecnológica que se estende a uma mudança de mentalidade

Implementado no dia 23 de setembro de 2019, Rosário Reis recorda que este projeto foi iniciado mais de um ano antes, procurando fazer-se um “mapeamento de todas as funções da instituição, para canalizar a documentação e os registos clínicos, que tanto servem para fins médicos como administrativos”.


Rosário Reis

Apesar de estarem localizados em Coimbra, admite que “nem tudo foram rosas”, uma vez que “o período de formação aconteceu nas férias de verão, condicionando a participação dos recursos humanos, e não existia sequer conhecimento de base do Sonho v1, ao contrário do que acontecia com a maioria dos hospitais, que transitava facilmente para a versão 2”. 


E adianta: “Procurámos reunir com o IPO de Lisboa e com o CHUC, que já utilizavam este sistema, para podermos reter os seus conhecimentos e dificuldades.”

Recuando até ao fim de semana da migração dos dados − 21 e 22 de setembro −, Rosário Reis recorda o grupo de profissionais que se voluntariou para ajudar, representando o “espírito de entreajuda e colaboração interdisciplinar que se vive no IPO”. “Estes projetos, que são transversais e de mudança muito profunda nas organizações não podem ser concretizados sem o trabalho das equipas no mesmo sentido”, realça.

Pedro Couceiro, 47 anos, diretor do Serviço de Gestão de Sistemas de Informação, recorda o “forte impacto” vivido por todos naquela segunda-feira, dia 23, semelhante ao que encontrou em 2002, quando começou o seu percurso profissional na instituição, procurando fazer a digitalização das radiografias em película.

“Foi um dia que demorou 48 horas”, recorda, retendo ainda na memória as três horas que levou a percorrer três pisos para ir ao encontro da presidente do CA. “Tínhamos que dar resposta às dúvidas dos profissionais, resolver problemas e fazer ajustes”, explica.

“Com o tempo, fomos fazendo atualizações “atrás das cortinas”, e se há um ano as pessoas consideravam impossível trabalhar com uma aplicação que tinha um conceito, um aspeto visual e uma usabilidade diferentes, agora, todos reconhecem que mudámos para melhor”, sublinha.



Configuração do IPO implica necessidades próprias

“Se antes tínhamos um sistema customizado, hoje temos de nos adaptar à realidade nacional, e nem todas as nossas necessidades são consideradas relevantes na panóplia dos hospitais do SNS”, ressalva Rosário Reis.

Também Ana Pais levanta a mesma questão: “Ganhámos na integração, mas ainda há um caminho a percorrer em termos de IPO”, reconhecendo que “este sistema não está completamente moldado à nossa perspetiva de trabalho multidisciplinar, focando-se muito no episódio do doente e não na pessoa como um todo”.

A constituição de uma versão para os IPO é algo que a diretora clínica afirma estar a ser desenvolvido pelos SPMS, visando “constituir algumas valências que venham ao encontro das necessidades”.

E exemplifica: “Já existiu uma evolução no sentido de conseguirmos entrar no processo do doente e termos uma perspetiva temporal, o que para nós é muito importante, ao trabalharmos com datas ótimas e percursos dos utentes”, observa. No entanto, “as reuniões de decisão terapêutica são algo que não conseguimos verter nesta perspetiva.”

Suite Hospitalar alavanca projetos futuros

Reconhecendo que a instituição também tem um papel ativo em termos evolutivos, Pedro Couceiro afirma que o seu Serviço tem procurado “dotar algumas especialidades que detenham softwares mais antigos com novas funcionalidades, nomeadamente ao nível da imagem médica”.

Neste campo, o engenheiro informático afirma terem em vista a criação de “um sistema que anteceda a avaliação da imagem por parte do médico, e procure analisar padrões, de forma a prever quais os casos prioritários e ordenar as listas”.

Potenciada pela pandemia de covid-19, o diretor do Serviço de Gestão de Sistemas de Informação afirma que existe também um grande foco de trabalho na telemedicina.


Pedro Couceiro

“Pretendemos implementar um sistema em que o doente possa fazer o registo diário de dados clínicos, servindo-se de sensores de peso, temperatura ou tensão arterial, e, caso haja uma variação anormal, o médico é notificado e atua”, adianta, especificando que desta forma é não só possível “reduzir o esforço das agendas, mas também o tempo de deslocações dos doentes para consultas de rotina e diminuir o gasto financeiro das duas partes”.

Em paralelo, afirma estarem também a “desenvolver esforços para, no prazo de um ano, terem uma solução de hospitalização domiciliária, que privilegie o acompanhamento remoto”.

“A implementação do atual sistema de informação potenciou uma melhor prestação de cuidados"

“A implementação do SONHO e do SClínico permitiu que alinhássemos com a estratégia de informação do SNS”, afirma Margarida Ornelas, frisando que “a grande mais-valia é a integração da informação clínica, de uma forma organizada, segura e fiável”, a que se soma a “maior interoperabilidade, o trabalho em rede e a acessibilidade à informação dentro e fora da instituição hospitalar”.


Margarida Ornelas

Para a presidente do Conselho de Administração do IPO de Coimbra, volvido um ano, é tempo de “prestar o justo reconhecimento aos nossos profissionais”, pelo mérito e empenho de todos num projeto que “potenciou uma melhor prestação de cuidados aos doentes, que é a nossa principal missão”.

Iniciado um processo de autêntica revolução digital, Margarida Ornelas refere que “a perspetiva da instituição é de modernidade e de estar sempre um passo à frente”, o que, para o futuro, se traduz numa “perspetiva de melhoria contínua”.



A reportagem pode ser lida na edição de novembro/dezembro do Hospital Público 

Jornal distribuído (versão impressa) nos serviços e departamentos de todas as unidades hospitalares do SNS e distribuído em formato digital.

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