Isabel Fonseca é a coordenadora do novo Núcleo de Estudos de Obesidade

O Núcleo de Estudos de Obesidade foi o mais recente núcleo da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna a ser constituído, em abril deste ano, sob a coordenação de Isabel Fonseca. A internista, que coordena a Consulta de Doenças Nutricionais da ULS de Coimbra desde 2021, em que mais de 90% dos doentes são obesos, afirma que “individualizar a obesidade destaca a doença, dando-lhe mais valorização e reconhecimento”.


Isabel Fonseca

“É importante haver um Núcleo de Estudos de Obesidade, porque se mantivermos esta doença sempre em associação com outras patologias, seja a diabetes ou a hipertensão, por exemplo, parece que os obesos são sempre diabéticos ou hipertensos, o que não é verdade", começa por justificar Isabel Fonseca.

E acrescenta: "Também não é verdade que a obesidade seja apenas um problema de controlo alimentar. É, sim, uma doença complexa, que se apresenta de diferentes formas e aspetos, e com diferentes riscos, de acordo com a distribuição do tecido adiposo em excesso."

Na realidade, nota que “as consequências para a saúde vão crescendo à medida que o IMC aumenta e reconhecer esta doença como complexa e multifatorial contribui para efetuar tratamentos cada vez mais individualizados e precisos. Tratar tudo por igual, considerando que todos beneficiam do mesmo tratamento, é errado e pouco eficaz”.

A especialista em Medicina Interna e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna considera que a necessidade de sensibilização para esta doença se sente ao nível dos próprios médicos, que “ainda têm reflexões como ‘o doente simplesmente come demais’ ou ‘é obeso porque quer’” acrescentando que “também estão pouco vacacionados para o estudo e investigação na área da obesidade”.


Do seu ponto de vista, “seria importante fomentar a investigação, ter marcadores que a identifiquem, tratá-la de forma específica e conseguir modificar o seu prognóstico”. Nesse sentido, “um objetivo do NEO é também constituir-se como um grupo de trabalho que estimule a investigação e ajude a divulgar as ações que podem impulsionar a doença”.


Isabel Fonseca com os dois elementos do Secretariado do Núcleo de Estudos de Obesidade que também integram a ULS de Coimbra: Ana Catarina Lucas e José Bernardes Correia

Mais especificamente, no seio da MI, admite que “os médicos ainda olham para a obesidade como uma doença que não é sua, associando-a muito à Endocrinologia e à Nutrição”. No seu entender, “o internista tem capacidade para tratar a obesidade e as doenças que a podem acompanhar”. De forma a identificar a atenção conferida pelos serviços de MI a esta patologia, o NEO encontra-se a realizar um levantamento do número de internistas dedicados à área e do volume de consultas realizadas, junto dos diretores de serviço.

A coordenadora do NEO considera “fundamental, pelo menos, que interna e externamente, se reconheça a atuação da MI nesta área, para que se identifique o valor e o peso que esta especialidade tem na definição de estratégias para tratar um doente obeso”.

Pontes de contacto: O tratamento não é bem conseguido se na equação constar apenas um médico e uma medicação”

Isabel Fonseca realça a necessidade de se criarem parcerias de investigação com outros núcleos, sobretudo com os de Diabetes Mellitus, Nutrição Clínica,  Geriatria, “onde se enquadra a obesidade sarcopénica” e ainda com o das Doenças do Fígado, dado que “alguns tipos de obesidade determinam alterações hepáticas importantes”.

A constituição de protocolos de diagnóstico e tratamento, de circuitos de encaminhamento e referenciação nos vários níveis de cuidados de saúde, que corresponde a um dos objetivos centrais do NEO, pode ser facilitada, segundo a médica, “com a figuração do modelo das ULS, se se olhar o doente desde os Cuidados de Saúde Primários aos Hospitalares”. Contudo, adverte que, “frequentemente, os doentes apenas têm nos CSP ligação ao seu médico de Medicina Geral e Familiar, não tendo outro tipo de acompanhamento, como seja o apoio de nutricionista ou de psicólogo”.



Nesse âmbito, frisa que “o tratamento não é bem conseguido se na equação constar apenas um médico e uma medicação. Pelo contrário, exige um acompanhamento regular, diferenciado e com equipas multidisciplinares”. E questiona: “Porque ainda não olhamos para a obesidade como uma doença crónica, que exige, à semelhança de outras, tratamento para a vida?”

O processo de criação do NEO levou cerca de um ano e a ideia nasceu “de forma muito espontânea”, juntando essencialmente internistas da zona Centro no seu secretariado. No seu caso e no dos dois colegas do secretariado que pertencem à ULS de Coimbra, todos mantêm grande contacto com doentes obesos na Consulta de Doenças Nutricionais que realizam, ao receberem casos referenciados da Unidade de Tratamento Cirúrgico da Obesidade e serem responsáveis pela avaliação pré-operatória e pelo acompanhamento a longo prazo dos doentes obesos operados.

Até ao final do ano, deverá ser realizado o primeiro webinar promovido pelo NEO.

Núcleo de Estudos de Obesidade da SPMIBiénio 2024-2026


Coordenador:

Isabel Fonseca (ULS de Coimbra)

Secretariado:

Ana Catarina Lucas (ULS de Coimbra)

Ana Nunes (ULS de Viseu Dão-Lafões)

Catarina Ramos Oliveira (ULS de Viseu Dão-Lafões)

Gonçalo Sarmento (ULS de Entre Douro e Vouga)

João Santos (ULS Região de Leiria)

José Bernardes Correia (ULS de Coimbra)

Leila Cardoso (ULS de São João)

Tânia Filipa Batista (ULS de Viseu Dão-Lafões)


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