Joaquim Oliveira alerta para a necessidade de adequar práticas à nova realidade epidemiológica do VIH
É necessário repensar algumas práticas clínicas na área do VIH/SIDA e adequá-las à realidade epidemiológica atual, novos fármacos e conhecimentos. A ideia foi transmitida por Joaquim Oliveira, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA (APECS), à margem da 1.ª Reunião de Sócios da APECS de 2015, que decorreu no último sábado, em Portimão, na qual se abordou a questão da resistência a fármacos.
Para Joaquim Oliveira, infeciologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, apesar de toda a evolução dos últimos anos, é importante pensar que, nos doentes VIH, a terapêutica é para o resto da vida, sendo por isso necessário ter o historial do doente bem documentado, de modo a que possam ser feitas “escolhas conscientes e com probabilidade de sucesso”.
“O facto de os fármacos serem bons não resolve tudo. É preciso pensar que a terapêutica VIH acompanha o doente até ao fim da sua vida e que os passos que damos ao longo do caminho são importantes para a construção de um esquema terapêutico”, afirmou.
Os testes de resistência foram um dos temas em debate. Sobre esta matéria, Joaquim Oliveira indicou que o pedido destes testes, antes da prescrição de esquemas terapêuticos com baixa barreira à resistência, fazia sentido, sobretudo, numa época em que a taxa de prevalência de resistências primárias (presentes nos indivíduos que nunca tinham feito terapêutica) era alta.
No entanto, segundo o especialista, se for claro que existem menos resistências primárias nos novos infetados por VIH, poderá não ser custo-efetivo efetuar os testes iniciais. Mas, para isso, seria necessário conhecer a realidade portuguesa e não existem, até ao momento, estudos sobre este assunto.
A adesão é um dos principais fatores que influencia a resistência a fármacos. “Se o doente tomar a sua medicação sem falhas a resistência não ocorre”, sublinhou, explicando que, quando há falhas na adesão, pode ocorrer uma concentração subótima dos fármacos e o vírus tem probabilidade de escapar com mutações.
A falta de uma rede de suporte familiar e social, bem como a incapacidade em partilhar o diagnóstico constituem as barreiras mais importantes à adesão do tratamento, além das dependências.
Por outro lado, a resistência a fármacos é uma situação cada vez menos representativa em idade pediátrica. Neste campo, o maior problema que existe são as crianças que foram infetadas há alguns anos e fizeram tratamentos antigos que não eram os mais adequados e ocasionaram situações de resistência. Nestes casos, mencionou, “é preciso construir um esquema terapêutico que tenha em conta estes aspetos, seja eficaz e bem tolerado e que os jovens sejam capazes de cumprir”.
Joaquim Oliveira acrescentou que os novos infetados por transmissão vertical são, “felizmente”, cada vez menos e os esquemas terapêuticos que hoje estão disponíveis são mais fáceis e as resistências tendencialmente menores, embora “numa terapêutica potencialmente para uma vida inteira” esteja sempre presente o risco de resistência.
De salientar as intervenções de Pedro Crespo (Centro Hospitalar Tondela-Viseu) e Ricardo Camacho (Rega Institute for Medical Research, Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica), que apresentaram, respetivamente, a perspetiva do clínico e do virologista sobre os testes de resistência, numa sessão moderada por Fernando Maltez (Centro Hospitalar de Lisboa Central) e Domitília Faria (Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio).
Houve espaço, ainda, para a apresentação de casos clínicos e para uma assembleia-geral de sócios da APECS.