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Última Lição de José Fernandes e Fernandes na Faculdade de Medicina de Lisboa

São 40 anos dedicados à Cirurgia Vascular. Dentro de dias, José Fernandes e Fernandes, que assumiu a direção da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) de 2005 a 2015, vai realizar a sua Última Lição no Grande Auditório do Edifício Egas Moniz.

Tendo como tema: "SERENDIPITY? Da Cirurgia Vascular à Medicina Académica: um olhar sobre o passado… e o futuro!", a Aula de Jubilação do professor catedrático e diretor do Instituto Cardiovascular de Lisboa realiza-se dia 17 de outubro, às 11h00.



Melhorar a qualidade de vida dos doentes: "Isso cativou-me!"

Em declarações à Just News, José Fernandes e Fernandes deixa claro a sua paixão pela atividade que tem desenvolvido ao longo de quatro décadas:

"A Cirurgia, a capacidade de resolver os problemas pela nossa ação direta, seduziu-me e... conquistou-me! Há uma frase de Sir William Osler, grande figura da Medicina do começo do século XX e um dos fundadores da Johns Hopkins e da moderna Medicina norte-americana, na qual ele resumiu o impacto da doença das artérias: The major tragedies in life are arterial!"

O médico acrescenta: "E esta é uma verdade que persiste mesmo no nosso tempo. Eu acho que é verdade, que podemos resolver muitos problemas, melhorar a esperança e a qualidade de vida dos nossos doentes, e isso atraiu-me, fascinou-me e cativou-me!".

Em defesa da meritocracia

José Fernandes e Fernandes fez toda a sua carreira hospitalar e académica através dos concursos oficiais, "desde assistente hospitalar a chefe de serviço, de doutoramento a professor catedrático". Apenas a direção do Serviço foi por nomeação do Conselho de Administração. Contudo, faz questão de sublinhar:

"Tive pena que não tivesse sido feito também um concurso e manifestei a minha disponibilidade ao então presidente do Conselho de Administração para que fosse promovido esse concurso. Lamento que a legislação seja diferente e o tenha impedido. Foi essa a explicação dada. Ser diretor de serviço por concurso e não por nomeação é muito importante e, na minha perspetiva, é um preito de responsabilidade pessoal e institucional, uma afirmação de meritocracia!"



Na sua opinião, "é uma pena que se tivesse perdido essa tradição da carreira médica em Portugal e se tenha privado o diretor de serviço desse ato de legitimação pública, muito diferente de uma nomeação, venha donde vier!"

E acrescenta: "Sempre defendi que era diferente e melhor que o lugar de diretor de serviço fosse por concurso público, mas, infelizmente, falhei nesse objetivo. Fica a tranquilidade de consciência de o ter solicitado, ainda que em vão!"

"O rapaz fez bem!"

A propósito da sua preferência pela Cirurgia Vascular, José Fernandes e Fernandes recorda um momento que considera "ter sido decisivo":

"Na Urgência, ainda interno do Complementar, perante a hesitação do chefe de equipa e com a autorização do Prof. Coito, abalancei-me a operar uma embolia da bifurcação da aorta, numa doente que vinha da Beira Baixa. Recordo como se fosse hoje todos os pormenores! Fui ajudado pelo interno mais jovem e correu bem."

O cirurgião recorda que, já na manhã seguinte, "o Prof. João Cid dos Santos passou visita ao SO, onde estavam os doentes operados, e apresentei o caso, disse o que tinha feito, porquê, etc. Ouviu, não comentou e passou, mas eu percebi que alguém o interpelara por ter sido um interno a operar uma desobstrução arterial e ele rodou um pouco e disse alto, para que eu pudesse ouvir – ´O rapaz fez bem!."



O médico reconhece que "esse foi o turning point na minha vida no Serviço, passou a conhecer-me, interpelava-me e tornou possível, pela sua recomendação, que eu fosse aceite em Londres. No meu exame final de Internato, a que presidiu, teve palavras inesquecíveis, de reconhecimento, confiança e esperança, que me marcaram e às quais procurei ser fiel e honrar!"

Ensinar: "um desafio que abracei com entusiasmo"

Deste 2002 que José Fernandes e Fernandes é professor catedrático, mas esta ligação ao ensino surgiu muito cedo: "Desde o princípio do meu internato da especialidade que comecei a colaborar no ensino prático de Clínica Cirúrgica, aliás, fui convidado como assistente pelo Prof. Cid dos Santos, ainda não tinha feito o exame da especialidade."

O especialista faz questão de deixar vincada a sua convicção "de que a Clínica é a base, o cimento que consolida a nossa ação e, simultaneamente o fermento que nos abre a inquietação do espírito para a inovação e que é indissociável do Ensino."

Na sua opinião, não há qualquer dúvida de que "ensinar é uma responsabilidade que emerge da clínica e ajudar a formar os alunos, os futuros médicos, e contribuir para a educação dos novos especialistas vasculares, de modo a que possam ombrear e competir com os seus colegas europeus, foi um desafio que abracei com entusiasmo e vontade".

"Só o que é difícil vale a pena!"

Questionado sobre o desafio de ter sido o primeiro diretor de um Serviço com a dimensão da Cirurgia Vascular do CHLN, a resposta de José Fernandes e Fernandes tem um alcance mais vasto:

"Sempre acreditei e procurei assimilar o que Rainer Maria Rilke escreveu nas suas Cartas a um Poeta: ´Só o que é difícil vale a pena!`"

A Última Lição de José Fernandes e Fernandes realiza-se dia 17 de outubro, terça-feira, no Grande Auditório do Edifício Egas Moniz, estando o seu início marcado para as 11h00. A entrada é livre.



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