Luís Campos alerta para a «falta de equidade» no acesso a cuidados de saúde com qualidade

“Um dos problemas da Saúde é a falta de equidade na qualidade dos cuidados prestados, por vezes, até dentro da mesma unidade de saúde.” As palavras de Luís Campos, diretor do Serviço de Medicina do Hospital São Francisco Xavier (CHLO), foram ditas no colóquio sobre “Desafios orçamentais – As políticas sociais”, que teve como principal orador o conselheiro de Estado Francisco Louçã. O evento, organizado pela Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde (APEGSaúde), decorreu em Queluz.

Coube a Luís Campos, que também é vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, fazer a síntese do encontro que reuniu vários especialistas em saúde, referindo que a principal ameaça do orçamento em geral e do da saúde em particular é a incerteza. “Risco de nova crise económica, de crise política, de pandemias, de catástrofes e problemas de saúde relacionadas com as alterações climáticas ou com o terrorismo, que podem mudar as prioridades de forma súbita”, disse.



Mencionou ainda o problema da equidade no acesso a cuidados de saúde com qualidade. “A falta de equidade na qualidade existe, mas o Ministério da Saúde não tem analisado as muitas bases de dados que tem ao seu dispor, que demonstram essas iniquidades, perseguindo ao longo dos anos uma política de avestruz.” Desta forma, sublinhou, “não se tomam medidas concretas para mudar esta realidade, nomeadamente, não existe uma estratégia para lidar com o mau desempenho das instituições ou dos serviços”.

A necessidade de apostar fortemente na promoção e na prevenção da doença foi também referida pelo internista, que não deixou de apontar o dedo “à escassez de recursos humanos” na direção responsável na DGS por esta área. “É preciso lembrar que os comportamentos de risco determinam cerca de 40% da saúde dos cidadãos, enquanto os cuidados de saúde apenas cerca de 10%.”



Relativamente ao enfoque dado aos cuidados de saúde primários (CSP) no Orçamento de Estado para a saúde e ao desinvestimento nos hospitais, observou que “é importante esta aposta nos CSP, mas não se pode esquecer que Portugal tem uma baixa taxa de camas hospitalares, em comparação com o resto da Europa, pois, a necessidade destas camas está a crescer com o aumento da esperança de vida”.

“Os doentes idosos e com multimorbilidades são os grandes frequentadores das enfermarias de Medicina, precisam da ´expertise` de quem está nos hospitais, particularmente dos internistas, que estão habituados a tratar estes doentes nas urgências, nas enfermarias, nos cuidados intensivos e nas consultas.”

Finalizou a sua intervenção indicando que o atual modelo de financiamento dificulta a integração de cuidados, nomeadamente, a criação de equipas multidisciplinares, “que deem uma resposta integrada, proativa e customizada aos doentes crónicos”. Outra prioridade, no seu entender, devia ser a integração da saúde com a assistência social, “porque os hospitais são, atualmente, os centros de resolução dos problemas sociais dos doentes e as respostas são insuficientes, tardias e burocratizadas”.  



O evento teve como preletor principal Francisco Louçã e o debate envolveu vários nomes da saúde:
- João Gamelas, presidente do Conselho Geral da APEGSaúde;
- Hugo Mendes, diretor de Marketing da IMS;
- Francisco Reymão, administrador da SAGIES;
- Pedro Gomes, coordenador do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC – ACSS);
- Ana Harfouche, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Oeste;
- Aníbal Marinho, presidente da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP);
- Jaime Mendes, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos; 
- André Fernandes, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM).

O encerramento ficou a cargo de Fernando Regateiro, presidente para a Cooperação da APEGSaúde.





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