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«Deve ser natural perguntar ao utente se tem queixas urinárias ou problemas sexuais»

“São 20 anos de mãos dadas com a Medicina Geral e Familiar (MGF), porque o médico de família tem um papel essencial no diagnóstico e, também, no tratamento de muitas das patologias do foro urológico.”

As palavras do urologista Manuel Mendes Silva deixam transparecer um sentimento de orgulho pelo passo que deu há duas décadas, com a sua equipa do Hospital Militar Principal – atualmente, Hospital das Forças Armadas –, para avançar com um evento a pensar na MGF.

Recorda que, juntamente com os elementos do seu grupo, foi “pioneiro” porque na altura predominava a ideia de que as queixas urológicas deveriam ser acompanhadas apenas pela Urologia. Mas a sua experiência clínica no SNS e no privado indicava que esse não deveria ser o caminho. “Cerca de 15% dos doentes vistos nos centros de saúde têm este tipo de problemas e, com o envelhecimento da população, assistimos a um aumento do número de casos.”

Continua, assim, na sua opinião, a ser fundamental apostar na partilha de conhecimentos e de experiências com os médicos de família, “a primeira porta a que se vai bater quando há queixas”.


Manuel Mendes Silva: “O médico de família tem a vantagem de conhecer bem o seu utente e o seu meio envolvente”

Componente prática das Jornadas "tem sido muito importante"

As 20.as Jornadas Nacionais de Urologia em Medicina Familiar já se deveriam ter realizado em 2020, mas a pandemia levou ao adiamento do evento, que se irá realizar nos próximos dias 28 e 29 de abril. Como é habitual, além das palestras mais teóricas, haverá a apresentação de casos clínicos e a oportunidade de os especialistas em MGF colocarem questões aos urologistas.

Esta componente prática "tem sido muito importante", como faz questão de salientar, na forma como o médico de família tem abordado as doenças urológicas. Os casos mais complexos têm de ser referenciados à Urologia, mas "os restantes podem ser tratados nos cuidados de saúde primários".

“O médico de família tem a vantagem de conhecer bem o seu utente e o seu meio envolvente, o que é uma enorme mais-valia, quer no diagnóstico atempado como na prevenção”, sublinha o nosso entrevistado.


Mesmo que a doença exija o acompanhamento do urologista durante algum tempo, ou até de forma continuada, Manuel Mendes Silva lembra que “o doente é sempre do médico de família, que o continua a acompanhar também por outras razões”.

As queixas urológicas mais comuns são as disfunções miccionais, incluindo a incontinência urinária, a hematúria, as doenças da próstata, os cancros (próstata, bexiga, rim e, mais raramente, testículo e pénis) e a disfunção sexual. No caso das urgências, predominam a cólica renal, a retenção urinária e a anúria, bem como a torção do testículo.

Maior literacia em saúde, maior proximidade entre as especialidades

Manuel Mendes Silva, que é urologista há 44 anos, realça que "a proximidade à MGF se torna cada vez mais premente à medida que a população tem maior literacia em saúde". Uma afirmação algo curiosa, mas que o médico explica:

"Se há umas décadas havia mais o hábito de se viver com determinados sintomas em silêncio – caso das disfunções sexuais, da incontinência urinária e de certas dores –, agora procura-se ajuda."

“As pessoas querem ter qualidade de vida e sabem que podem e devem pedir ajuda, começando por o fazer, na maioria das vezes, junto do médico de família”, salienta. O nosso interlocutor alerta para a necessidade de os especialistas em MGF terem, também, uma atitude proativa, "colocando algumas questões sobre a saúde urológica".

Mais ainda neste tempo de retoma da atividade, "em que a pandemia levou a que muitas pessoas tivessem medo de ir ao médico ou optassem por ignorar algumas queixas".

“Na sua opinião, assim como se pergunta ao utente se dorme bem, pode-se igualmente saber se tem queixas urinárias, ou problemas sexuais, por exemplo”, observa.
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O programa pode ser consultado AQUI.

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