Escolas de Medicina Familiar: 25 anos depois, José Mendes Nunes deixa a coordenação do projeto
Mais uma vez, a Consolação (Peniche) foi o cenário escolhido para a realização da Escola de Medicina Familiar Outono da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), sendo que uma das grandes novidades, este ano, foi a realização do primeiro Curso de Prescrição do Exercício Físico. A edição fica também marcada por ser a última Escola de José Mendes Nunes enquanto coordenador do Núcleo de Formação da APMGF e grande impulsionador das Escolas (da Primavera e de Outono).
Exercício físico: "remédio que serve para todas as doenças"
Em entrevista à Just News, José Mendes Nunes menciona que os participantes ficaram muitos satisfeitos com o Curso de Prescrição de Exercício Físico, cuja coordenação científica esteve a cargo de Themudo Barata, professor da Universidade da Beira Interior. Na sua opinião, “o incentivo à prática regular de exercício físico é um dos determinantes de saúde”.
“Se há um remédio que serve para todas as doenças e previne quase tudo é o exercício físico. Tem impacto nas doenças cardiovasculares, na saúde mental, na prevenção do cancro e contribui para a sensação de bem-estar e preservação da condição física”, salienta o professor auxiliar convidado da Nova Medical School, acrescentando que não consegue identificar outra terapêutica com maior impacto na qualidade de vida (se feito de forma regular e adaptado a cada pessoa).
25 anos depois, é tempo do “filho” caminhar sozinho
Um quarto de século após a criação deste projeto, esta foi a última Escola de José Mendes Nunes enquanto coordenador do Núcleo de Formação da APMGF. Nas suas palavras, as Escolas são um “filho” seu, mas “já têm maturidade para existir sozinhas”.
O médico recorda que, nos primeiros anos, os cursos decorriam em escolas, aproveitando-se as férias de verão, nomeadamente os meses de junho e julho. Eram uma iniciativa da Delegação Distrital de Lisboa da APMGF, dirigida, apenas, àquele distrito. Dada a importância da iniciativa, tornou-se, depois, num evento nacional.
A designação “Escola” surgiu porque as primeiras edições tiveram lugar nas salas de aula do Colégio São João de Brito, em Lisboa. Com o passar dos anos, concluiu-se que as férias de verão não seriam a melhor época para realizar as escolas porque os filhos dos potenciais participantes se encontravam também em período de férias e, por esse motivo, a disponibilidade não seria muita.
De acordo com José Mendes Nunes, “os cursos foram evoluindo com alguma tranquilidade, tendo-se vindo a adquirir uma maior maturidade na sua realização”. Mas, conforme salienta, “as escolas sempre procuraram preencher algumas lacunas que ninguém mais preenchia”.
Para o nosso interlocutor, a experiência foi muito gratificante, sobretudo porque permitiu “ver uma ideia a crescer e a ganhar maturidade de forma sustentada”.
"A formação que é dada nestas escolas é muito dirigida à melhoria do desempenho dos médicos de família, pretendendo-se que estes construam o conhecimento em cima do seu conhecimento, ou, por outras palavras, o objetivo é que os formandos aproveitem a formação e modifiquem os seus comportamentos.”
De acordo com José Mendes Nunes, muitas vezes, a formação fica-se apenas pela transferência de informação. Nas escolas, tenta-se realizar exercícios práticos para melhorar a capacitação. “Se os nossos doentes não beneficiarem do conhecimento, o nosso conhecimento não vale nada”, aponta.
Sessão dinamizada pelo GRESP - Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF.
A importância de aprender com a experiência de quem tem mais prática
José Mendes Nunes sublinha o facto de, à semelhança dos últimos anos, ter havido mais internos do que especialistas a participar na Escola, o que, na sua opinião, “é uma pena”. Segundo recorda, nos primeiros anos, o número de participantes internos era semelhante ao de especialistas. Contudo, “apesar de ser gratificante, a disponibilidade das pessoas que estão no terreno não é muita e esse é o problema”.
“Em termos pedagógicos, seria muito importante que houvesse mais gente com alguma experiência na prática da MGF. Até porque a filosofia das escolas e dos cursos é que todos aprendam com todos. Ou seja, não é uns a ensinar e outros a aprender. Por isso se deseja e defende que as metodologias sejam muito interativas e bidirecionais”, menciona.
“O facto de no mesmo grupo estarem pessoas com experiência da prática e pessoas que estão em vias de formação é extraordinariamente enriquecedor para todos”, reforça José Mendes Nunes.
"Vertente formativa da APMGF só pode melhorar"
Na hora da despedida, José Mendes Nunes faz questão de expressar a sua “mais profunda gratidão e admiração” às colegas que estiveram consigo no Núcleo de Formação ao longo dos últimos anos, como Ana Margarida Levy, Manuela Ambrósio, Regina Sequeira Carlos (ao longo de muitos anos) e outras que, embora por períodos mais curtos, foram muito importantes para o Núcleo, como Eugénia Silva, Clara Barros Fonseca e Rubina Correia.
Adriana Rubín, Vanessa Antunes, Regina Sequeira Carlos, Ana Margarida Levy, José Mendes Nunes e Manuela Ambrósio.
“Claro que nos bastidores desta organização sempre esteve a qualidade e o trabalho empenhado do secretariado da Associação, como a Dr.ª Rita Trindade, nos últimos anos, e a Dr.ª Ana Isabel, cuja ajuda foi vital, particularmente no desbravar de caminhos nas primeiras edições. Para elas, o meu eterno agradecimento”, acrescenta.
José Mendes Nunes termina fazendo votos do maior sucesso aos elementos que recentemente se associaram ao Núcleo - Adriana Rubín, Vanessa Antunes e Paula Oliveira. “O seu espírito altruísta e genuíno interesse pela evolução da MGF, que pude testemunhar, são a garantia de que a vertente formativa da APMGF só pode melhorar”, aponta.

A reportagem completa sobre a Escola de Outono da APMGF pode ser lida na próxima edição do Jornal Médico.



