Medicina Familiar: Internos de Lisboa e Vale do Tejo querem «evoluir e melhorar» na prevenção e cuidados aos utentes

Ao longo dos dias 24 e 25 de outubro realizam-se, em Sintra, as I Jornadas do Internato de Medicina Geral e Familiar (MGF) da ARS de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT). Gonçalo Envia e Sara Neves Costa são os coordenadores gerais da organização das Jornadas. Questionados sobre como surgiu a ideia de realizar este evento, começam por explicar que, "desde o inicio da sua constituição, a comissão de internos da ARSLVT sentiu necessidade de promover atividades formativas de interesse a todos os internos da ARS". 

Segundo os responsáveis, "a dispersão geográfica e o número elevados de internos conduziram ao aparecimento de várias ´micro` Jornadas. Ainda que estes momentos tenham um interesse formativo importante, faltava um momento que nos agregasse a todos. Um espaço para apresentarmos os nossos trabalhos, para partilharmos conhecimentos e para discutir os assuntos do nosso internato."



Desafios para promover "um evento desta dimensão"

Relativamente aos principais desafios associados à organização destas Jornadas, referem que "é difícil enumerar todos", sendo que "começaram logo com a dificuldade em arranjar uma data que não coincidisse com as atividades formativas e de avaliação do internato e um local que fosse ao encontro das nossas ideias e que pudesse receber o elevado número de internos e orientadores da ARSLVT."

Por outro lado, indicam que, "sendo uma comissão organizadora constituída em exclusivo por internos com o apoio da Coordenação de Internato de MGF de LVT, e apesar de alguns dos elementos já terem experiência organizativa prévia, foi um desafio constante a gestão das inúmeras tarefas necessárias para um evento desta dimensão".

"Melhorar na prevenção e cuidados aos nossos utentes" 

Em declarações à Just News, Nuno Basílio, responsável do Grupo Informação e Divulgação, sublinha que "a Comissão Organizadora é constituída por 62 internos, estando representadas mais de 20 unidades de saúde diferentes de toda a ARSLVT". Na sua opinião, "congregar uma diversidade tão grande de internos constitui uma experiência única a nível individual e colectivo. Há laços de trabalho e de amizade que se criaram e outros que saíram reforçados após este longo trajecto." 

Alguns dos membros da Comissão Organizadora, em mais uma reunião de preparação das I Jornadas do Internato de MGF da ARS de Lisboa e Vale do Tejo. 

Quanto ao principal objetivo deste evento, que decorrerá sob o lema "Prevenir e Cuidar", Nuno Basílio refere ser "o estímulo da união e cooperação entre todos os profissionais envolvidos no internato de MGF para que, todos juntos, possamos evoluir e melhorar na prevenção e cuidados aos nossos utentes".

São também umas jornadas "criadas e dinamizadas por internos e orientadores, com temas que ultrapassam o imediato da prática clínica, pretendendo demonstrar que, como médicos de família, devemos ir mais além das fronteiras a que estamos habituados".

Grupos de trabalho

São vários os temas que serão discutidos ao longo dos dois dias das Jornadas, mas muitos outros poderiam ter sido escolhidos para debate. "Com uma comissão organizadora constituída por 62 pessoas foi impossível chegar a um consenso sobre todas as decisões", afirma Sara Neves Costa. 

De forma a agilizar o processo de decisão, "dividimos a comissão em pequenos grupos de trabalho, que acabaram por ter autonomia na gestão de alguns assuntos. Relativamente aos temas a discutir penso que foi consensual que se devia dar primazia aos trabalhos realizados pelos internos e que deveríamos ter espaços dedicados à discussão de assuntos sobre o internato."

Assim, e além do Grupo Informação e Divulgação (Nuno Basílio), foram criados no seio da Comissão Organizadora outros grupos de trabalho com os seguintes responsáveis: Logística e Apoios (Inês Gama), Social (Cristina Silva), Resumos (Ana Rita Maria), Programa Científico (Susa Rita e Diana Marques).

Comunicação entre o orientador e o seu interno

"Importância da Nutrição como tratamento em doenças crónicas" e "Abordagem à utilização de antidepressivos em CSP" são apenas dois da dúzia de workshosps que se realizam durante os dois dias. Intitulado “Cantinho do Orientador”, uma das ações em particular é dedicada em exclusivo a orientadores, onde os participantes irão "Lidar com situações difíceis do internato“. Pode dar alguns exemplos de algumas destas situações difíceis?

Sara Neves Costa esclarece que a gestão deste workshop ficou a cargo da coordenação do internato, indicando que "a principal dificuldade se prende com as questões relacionadas com a relação entre o orientador e o seu interno, nomeadamente no que diz respeito à comunicação". E dá um exemplo: "como se pode dar feedback a um interno quando a sua prestação é inferior à desejada?".

Sara Neves Costa e Gonçalo Envia.

Polimedicação e envelhecimento ativo

O Envelhecimento é um dos temas principais que estará em discussão no primeiro dia do evento. Gonçalo Envia considera que não existem dúvidas que a comunidade desempenha um papel fundamental: "Através do reforço da componente social, de atividades específicas para os idosos, bem como adequação dos cuidados médicos a esta população, pretendemos nesta sessão dar um exemplo de sucesso numa comunidade e do envolvimento que se pode criar entre as várias estruturas e elementos da mesma".

Neste sentido, acrescenta, "os internos surgem numa posição privilegiada para participar na dinamização de algumas destas iniciativas em colaboração com os recursos existentes".

Qual o futuro do internato de MGF? 

Outro dos temas principais do programa prende-se com a discussão do rumo do Internato de MGF, "através de um debate alargado com a plateia, com enfoque na discussão das competências e conhecimentos que os internos devem adquirir ao longo do internato, da formação dos orientadores, da mudança de paradigma do internato de MGF e a gestão/planificação das vagas de internato para a especialidade de MGF".

Gonçalo Envia espera ainda que esta seja "uma sessão profícua com novas perspectivas que possam servir de base à construção de um internato de MGF melhor. Os oradores convidados erão a Prof. Isabel Santos, Dr. Vitor Ramos e a Dra. Eunice Carrapiço."

Oportunidade para "contactarem com outras realidades"

Na terça-feira, 25 de outubro, realiza-se da parte da tarde uma visita guiada ao MU.SA e visita às unidades de saúde de Sintra. Gonçalo Envio esclarece que, "uma vez que existem unidades funcionais muito dispersas pelo território da ARSLVT e havendo, na generalidade dos internos, um desconhecimento acerca das condições físicas e recursos humanos dos restantes ACES e unidades, surgiu a ideia de incluir no programa uma visita a algumas unidades funcionais do ACES Sintra".

O cocoordenador geral das Jornadas afirma que esta visita terá por objetivo "dar a oportunidade aos internos de contactarem com outras realidades dentro da ARSLVT (unidades, profissionais e condições de trabalho), partilharem experiências e facilitar uma decisão mais informada aquando da escolha de ACES enquanto recém-especialistas".

As unidades da zona oeste do ACES Sintra que serão visitadas são a USF Lapiás, em Pêro Pinheiro, UCSP São João das Lampas/Terrugem e USF Monte da Lua, na Várzea de Sintra, "que receberam com entusiasmo esta iniciativa". 

Empenho, diversidade e união

Ao longo dos 2 dias do evento serão apresentadas 98 comunicações orais, dividas em cinco áreas (Investigação (incluindo protocolos), Melhoria Continua da Qualidade, Relato de Caso, Revisão de Tema e Relato de Prática) e serão realizados 12 workshops submetidos por internos.

Nuno Basílio adianta que são aguardadas entre 650 a 700 pessoas, "o que corresponde às expectativas construídas no seio deste grupo de trabalho", acrescentando: "O empenho da Comissão bem como o valor e interesse do evento permitiram mobilizar um grande número de internos e orientadores. Além disso, as diferentes entidades que apoiam o evento são o reflexo da diversidade e união que procurámos".

O programa pode ser consultado aqui.