Medicina Física e de Reabilitação permite «uma visão holística em termos clínicos e biopsicossociais»

Jorge Laíns tem um longo percurso na Medicina Física e de Reabilitação (MFR). Com nome reconhecido a nível nacional e internacional, acredita que é preciso mostrar que os projetos “valem a pena, caso contrário, não os podemos exigir”. Homem de causas humanísticas, não se vê na reforma, porque gosta de tudo o que faz e acredita que está a ser útil aos doentes.

Diretor de serviço do Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais (CMRRC-RP), é presidente eleito da International Society of Physical Rehabilitation Medicine (ISPRM) e vai presidir ao Congresso Europeu de MFR 2016, que se realiza em Lisboa, no final de abril.

Em entrevista de fundo à Just News, publicada na mais recente edição de LIVE Medicina Física e de Reabilitação, Jorge Laíns afirma que a Medicina Física e Reabilitação (MFR) "permite ter-se uma visão holística em termos clínicos e biopsicossociais. Costumo dizer que o fisiatra deve saber de tudo um pouco e de… reabilitação, e isso atrai-me, acho fascinante. A forma de abordagem do doente é muito completa, desafiante e torna-se muito gratificante."



Na sua opinião, mesmo face a situações mais complicadas, "há sempre algo a fazer! Mesmo para quem fique, por exemplo, tetraplégico ou hemiplégico, pode ver melhorada a sua qualidade de vida e autonomia, pode ver o seu sofrimento minorado. Quanto à forma como se dá essa notícia, é preciso ver qual é a melhor. Depende muito do doente e o discurso vai evoluindo consoante o feedback do mesmo."

A necessidade de se fazer uma avaliação funcional


As suas áreas de interesse são, sobretudo, a patologia osteometabólica, reabilitação em AVC, reabilitação em patologia do ombro, avaliação funcional e qualidade de cuidados em reabilitação. Questionado sobre o motivo destas escolhas, afirma que "tem tudo a ver com o meu percurso de vida e com a especificidade da MFR".

Considera que o doente, "quando entra com um AVC, deve sair o mais autónomo possível e com perspetivas de ter qualidade de vida. Não se olha apenas para a doença. Logo, é necessário fazer uma avaliação funcional – que vai passar a ser obrigatória na alta médica, finalmente – e que implica áreas diferenciadas. Estas áreas de interesse devem-se, de facto, muito ao percurso profissional e à experiência que fui adquirindo."




Portugal recebe 1.º Congresso Europeu de MFR


O 20.º Congresso da Sociedade Europeia de MFR (ESPRM) vai decorrer entre 23 e 28 de abril, no Centro de Congressos do Estoril, em Lisboa. Jorge Laíns é o presidente deste Congresso, que decorre, pela primeira vez, em Portugal. “Sinto-me honrado e agradecido e espero receber muitos trabalhos portugueses de elevada qualidade científica, mostrando a força da especialidade em Portugal”, refere.

Este será também o primeiro evento europeu a ser organizado segundo as novas regras da ESPRM e conta com o apoio da Sociedade Portuguesa de MFR (SPMFR). “O nosso intuito será também estreitar relações com outras sociedades europeias, daí virmos a ter sessões que contam com o apoio da European Union Geriatric Medicine Society (EUGMS) e da European Pain Federation (EFIC).


Segundo Jorge Laíns, o programa é “abrangente e os participantes terão a oportunidade de partilhar os últimos conhecimentos e experiências, assim como ideias com outros especialistas de vários pontos do mundo e com oradores conceituados a nível internacional ou parceiros internacionais para futuras colaborações a nível académico e científico”.




Uma nova visão sobre a MFR

Ao longo da entrevista, Jorge Laíns relata algumas das "diversas etapas" da sua carreira nacional e internacional. Os contactos desenvolvidos com outros países, a "experiência magnífica" do Brasil, e o facto de ser um membro ativo da ISPRM (tendo, por exemplo, presidido ao Congresso Mediterrânico de MFR, que decorreu em Vilamoura, em 2006), contribuiram decisivamente para ter uma nova visão sobre a MFR.

Refere, aliás, que contribuiram para mudar "muita coisa". Considera que "as realidades diferem, principalmente entre os países mais e menos desenvolvidos. Voltamos à questão de que estamos sempre a aprender uns com os outros: eu bebo o ensinamento dos outros países, mas eles também o fazem em relação a Portugal."

Pessoas que "não podem ser desvalorizadas"

Quanto à MFR no nosso país, tem "evoluído muito, apesar de não estarmos no ponto ótimo", e faz questão de manifestar a sua "grande satisfação" pelo facto de, através da ISPRM, ter contribuído para mudar a MFR. Dá o exemplo de uma das iniciativas que considera "mais importantes": o World Report Disability, da OMS – e para o qual contribui a ISPRM –, que "relembra que 15% da população mundial tem algum tipo de incapacidade relevante".

O especialista salienta que "estamos a falar de um grupo da população que tem de ter poder, que pode e deve lutar para ter mais apoio. Este é um trabalho louvável por parte da OMS e da ISPRM porque é humanístico-político, ou seja, luta pelo direito de igualdade de quem, devido a alguma lesão/condição, ficou com algum grau de incapacidade. Estas pessoas não podem ser desvalorizadas."

Acrescenta ainda que, "felizmente, a ICD 11 vai conseguir que, a partir de 2016, seja obrigatória a avaliação funcional de todos os doentes que saem do internamento. A ISPRM também tem contribuído para que esta medida seja implementada, porque uma pessoa pode entrar no hospital, por exemplo, com uma pneumonia, ficar curada desta doença, mas sair sem autonomia funcional."

A demografia e os cuidados de Reabilitação

Será que se dá a devida atenção à reabilitação? Em resposta a esta questão, Jorge Laíns considera que a MFR "só é mais valorizada quando precisamos de ajuda por causa de um problema pessoal ou de um familiar. E, sim, há áreas da saúde em que se dá mais atenção, mas é preciso mudar esta realidade, porque a população está a envelhecer e determinados problemas, como os AVC, que eram fatais até há pouco tempo, hoje em dia, são mais facilmente tratáveis." 


Assim, "na prática, vive-se mais, mas com problemas de saúde que exigem cuidados de reabilitação. Costumo referir: ´A demografia joga a favor da necessidade de mais MFR.`"

A entrevista completa com Jorge Laíns pode ser lida na mais recente edição de LIVE Medicina Física e de Reabilitação.



seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda