Medicina Interna é resposta para falhas na Saúde em Angola, Moçambique e Cabo Verde

A falta de médicos, os problemas socioeconómicos e, por vezes, as grandes distâncias entre a capital e as zonas mais rurais exigem uma aposta maior na Medicina Interna. Esta é a visão dos internistas que representaram Angola, Moçambique e Cabo Verde no XXI Congresso Nacional de Medicina Interna. Trata-se de uma especialidade "apaixonante e essencial para a população", afirma Lina Antunes, internista no Hospital Américo Boavida, em Luanda.

A palavra crescimento é a mais marcante quando se olha para a realidade da Medicina Interna em Angola, Moçambique e Cabo Verde. Apesar de o número de especialistas estar a aumentar nos últimos anos, continua a luta para que esta área holística seja mais reconhecida pelos seus pares e pela própria população. Um ponto importante realçado pelos representantes de cada um daqueles países que se deslocaram a Vilamoura é precisamente a necessidade de investir na Medicina Interna, que consegue dar respostas nos mais variados contextos socioeconómicos e sanitários destas nações africanas.

Além de Lina Antunes (Angola), esta sessão, que teve lugar durante o Congresso Nacional de Medicina Interna, contou com a participação de Hélder Lopes (internista no Hospital Central de Maputo e diretor do Programa Nacional de Medicina Interna em Moçambique) e de José António Sousa Santos (internista no Hospital Batista de Sousa, Mindelo, Cabo Verde).  Independentemente das diferentes condicionantes e realidades de cada país, todos manifestaram estar de acordo em que a especialidade de internista é essencial para resolver os vários problemas que as populações enfrentam em termos de saúde.



O internista angolano tem um papel de relevo nos hospitais municipais

Na sua intervenção, Lina Antunes começou por explicar que, “nos hospitais municipais, o internista tem um papel fundamental que deriva do seu perfil como especialista global e assume a coordenação da assistência médica, colaborando com outros três especialistas previstos no quadro orgânico, que são o pediatra, o obstetra e o cirurgião geral.”

O internista tem ainda o papel de garantir a organização e a supervisão dos processos e procedimentos e a análise crítica dos resultados. Lina Antunes realça que é “o verdadeiro garante da qualidade do atendimento ao doente adulto agudo, ao lado do cirurgião geral”.

Nos hospitais municipais, os especialistas em Medicina Interna dão ainda apoio na área do ambulatório, com “um papel duplo, assumindo a gestão de uma interface entre os especialistas do hospital provincial e o médico ou enfermeiro do centro de saúde”.

Lina Antunes explica porquê: “O objetivo é, em primeiro lugar, o acompanhamento integral do doente crónico estabilizado, mas não menos importante é também o de manter a retro informação dos doentes já triados pelo médico generalista e/ou enfermeiro, responsáveis pela assistência primária nos centros de saúde, retro informação que deve ter uma forma didática no âmbito da formação contínua dos profissionais de saúde. Por outro lado, estabelece também com os colegas especialistas dos hospitais provinciais e nacionais esta mesma retro informação, cada vez que necessitam de esclarecer algum pormenor na investigação integral da doença.”

A nível dos hospitais provinciais e nacionais, o internista contribui, com o seu trabalho no ambulatório, para “a redução do peso e das necessidades do internamento, no contexto atual em que a Medicina é cada vez mais uma ciência de prevenção, devendo resolver os problemas de forma precoce e menos invasiva, não deixando de ser, ao mesmo tempo, o mais integrada possível”.

As maiores preocupações do presente e do futuro estão na adesão à Medicina Interna por parte dos mais novos. Maria Lina Antunes considera que a falta de conhecimento do perfil do internista e a falta de valorização do seu papel a nível dos cuidados diferenciados tem tornado cada vez mais difícil aliciar os jovens licenciados em Medicina. “Atualmente, ficam facilmente ofuscados pelo fascínio das chamadas novas técnicas de diagnóstico e terapêutica de tecnologia mais elaborada, procurando outras opções dentro das diversas especialidades hospitalares.”

Mas não deixa de lutar pela Medicina Interna que, no seu entender, tanto pode fazer pelo país. “Em Angola, tal como na maioria dos países em desenvolvimento, os recursos humanos são escassos e pouco diferenciados na globalidade. Há particularmente um número insuficiente de médicos no país, mesmo com o recurso à contratação de profissionais estrangeiros.”

Uma situação que costuma ser colmatada pelo enfermeiro que presta assistência e, inclusive, faz prescrição e ato médico, funções que exerce por inerência da necessidade real de resolver os problemas de saúde de âmbito primário, apesar de não ter legalidade jurídica.

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