Médicos de família investigam impacto do burnout nos profissionais dos cuidados primários
Estudar o burnout nos cuidados de saúde primários (CSP) é o objetivo de um grupo de internos de Medicina Geral e Familiar (MGF), que estão a convidar médicos especialistas, médicos internos, enfermeiros e secretários clínicos a responderem a um questionário online até ao final de maio.
“É um problema de saúde com forte impacto a nível individual, mas também na própria equipa”, afirma Carlos Reis, o coordenador da investigação.
A importância de uma grande participação: "É preciso apresentar dados concretos sobre a realidade”
O projeto, de âmbito nacional, tem como objetivo identificar de que forma a síndrome de burnout afeta os profissionais dos CSP e surgiu na sequência do programa formativo de internos no curso de Introdução às Metodologias de Investigação da Coordenação de Internato Médico de MGF da Zona Norte.
Integram assim a equipa sete médicos internos e um especialista de MGF, de unidades de diferentes ACES da região norte, que esperam contar com a colaboração de médicos, enfermeiros e secretários clínicos no preenchimento de um questionário.
“É uma oportunidade de se conseguir obter dados científicos, que demonstram que a síndrome de burnout é um problema das equipas de CSP que tem de ser resolvido. Para se ter voz junto das entidades competentes, é preciso apresentar dados concretos sobre a realidade”, enfatiza Carlos Reis, em declarações à Just News.
Carlos Reis com restantes elementos da equipa de investigação.
Além de Carlos Reis, a equipa integra mais 6 médicos internos: Ana Catarina Araújo e Ana Isabel Silva (USF Nova Salus, ACeS Gaia), Carlos Reis (USF Sete Caminhos, ACES Gondomar), Diana Rodrigues (USF Nova Mateus, ACeS Marão e Douro Norte), Marta Duarte Gomes (USF Terras de Santa Maria, ACeS Entre Douro e Vouga I - Feira/Arouca), Miguel Rebelo (UCSP Macedo de Cavaleiros, ULS Nordeste), Raquel Reis Lima (USF Lagoa, ULS Matosinhos).
Participa também o especialista de MGF Tiago Taveira-Gomes (Departamento Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da FMUP, Investigador CINTESIS Grupo AI4Health).
"600 e-mails apenas numa manhã"
Uma das mais-valias do estudo é o envolvimento dos secretários clínicos. “Não existem estudos concretos sobre o impacto da síndrome neste grupo profissional, que também é parte da equipa de saúde familiar e esta é a oportunidade de se poder falar sobre a pressão a que estão sujeitos.”
Como explica: “Já antes da pandemia se sabia de alguns episódios de violência verbal, e até física, por parte dos doentes e, com a covid-19, toda a equipa está sobrecarregada com múltiplas tarefas, incluindo os secretários clínicos que chegam a receber, apenas numa manhã, 600 e-mails.”
Falando especificamente das manifestações da síndrome de burnout, Carlos Reis relembra que engloba três dimensões, "que não deixam de estar interligadas de alguma forma: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional".
Na sua opinião, são evidentes as consequências do esgotamento: “Com o cansaço extremo, facilmente se fica mais apático e até indiferente ao que se faz, acabando isso por ter repercussões no trabalho individual. Não se trata de falta de responsabilidade, mas de um problema que tem de ser identificado e tratado para que as equipas se mantenham ativas, eficientes e inovadoras.”
“É importante que os colegas participem"
O futuro especialista em MGF acrescenta que, em última instância, “a própria equipa acaba por ser afetada, o que não é de todo positivo”. Ao responderem ao questionário, os profissionais de saúde vão permitir ver qual a realidade a nível nacional, para se prevenir ou tratar esta síndrome.
Carlos Reis faz ainda questão de reforçar o convite: “É importante que os colegas participem, para que este problema seja reconhecido."
Até final de maio todos os profissionais dos cuidados de saúde primários podem participar AQUI no inquérito.