Menopausa: Médico de família tem um papel «essencial e imprescindível»

Para Cláudio Rebelo, ginecologista/obstetra do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e secretário da Secção de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), a participação do especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) no seguimento da mulher em menopausa é “essencial e imprescindível”.


Considera que, “como garante dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) de qualidade que todos desejamos para as nossas utentes, cabe ao especialista em MGF avaliar, orientar e tratar a grande maioria das mulheres”. Na sua opinião, a entrada na menopausa, com a sintomatologia e diminuição da qualidade de vida que uma grande maioria das mulheres enfrenta, leva a que este seja "um problema com que se deparam os colegas de MGF diariamente".

“A leitura da tese de mestrado de Ana Sara Machado, da Universidade da Beira Interior, de maio de 2010 – ‘Terapêutica Hormonal de Substituição – Perceções e padrões de prescrição. Estudo comparativo entre especialistas de MGF e de Ginecologia/Obstetrícia’ –, vem demonstrar o grande grau de conhecimento e preparação dos nossos especialistas de MGF para orientar e tratar as doentes em menopausa”, menciona Cláudio Rebelo. O especialista acrescenta que, sendo assim, as consultas de menopausa a nível hospitalar deveriam ficar reservadas, como consultadoria, para algumas doentes com situações mais particulares.

Médico de família na base da estrutura

O médico acredita que todos têm uma perceção semelhante e que a batalha pela instituição do correto tratamento destas utentes é comum. Deve ser também comum entre os MF e os especialistas hospitalares a luta “contra a desinformação sistemática por parte da comunicação social sobre os riscos de terapêuticas estudadas e avaliadas versus a promoção das ‘ditas terapêuticas’ isentas de riscos e naturais que, como sabemos, são de eficácia questionável e sem avaliações isentas e de qualidade”.

No seu entender, é preciso uma “nova vaga” de formação/informação de qualidade para que seja possível discutir riscos/benefícios na instituição de terapêuticas individualizadas, devendo o especialista de MGF ser a base de toda esta estrutura integrada de prestação de cuidados para a saúde.

Cláudio Rebelo sublinha que é o médico de família quem melhor conhece a utente, o meio em que ela se movimenta, quais as expectativas e anseios de cada mulher no tratamento de toda a sintomatologia da menopausa e a forma como estes sintomas afetam a qualidade de vida diária e específica de cada mulher.

Porém, tem algumas reservas se os especialistas em MGF conseguirão efetuar "tudo isso nas ´desgraçadamente famosas` consultas de 10/15 minutos impostas pela necessidade de cumprir agendas".

Menopausa: educar para a saúde

Em Portugal, cerca de 30 mil mulheres entram em menopausa por ano. “Este é o grupo com maior crescimento demográfico, tendo-se registado, nos últimos 10 anos, um aumento de cerca de 10%, no escalão 45-54 anos”, aponta Cláudio Rebelo, advertindo ser preciso ainda considerar a existência de menopausas precoces (< 45 anos) e as falências ováricas prematuras (< 40 anos), dois diagnóstico que, segundo indica, “têm vindo a aumentar”.


“Como contínuo das diferentes fases da vida da mulher, a ideia de demonizar a menopausa e, assim, criar a necessidade de uma fase preparatória não tem grande sentido”, refere, desenvolvendo que a oportunidade deve ser aproveitada para uma educação para a saúde com promoção de hábitos de vida, planos de exercício físico regular, alimentação adequada e redução dos níveis de stress.

“São importantes os processos para diagnosticar precocemente distúrbios físicos e psicológicos que possam agravar esta transição, bem como a necessidade da mulher se redescobrir, valorizar e identificar nesta nova fase de diferenças e transformações”, adverte Cláudio Rebelo.





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