Metade dos diagnósticos de infeção por VIH acontece em fases já avançadas

Cerca de 50% dos diagnósticos de infeção por VIH são feitos tardiamente, uma realidade que, segundo Joaquim Oliveira, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA (APECS), tem de ser invertida quanto antes, sendo para isso “fundamental a parceria entre os cuidados de saúde primários e secundários”.

“Atualmente, temos armas terapêuticas eficazes, os medicamentos são bem tolerados, temos acesso aos tratamentos, porém, é necessário identificar os doentes atempadamente”, sublinhou, em declarações à Just News, no decorrer da 1.ª Reunião de Sócios da APECS de 2016, que se realizou em Aveiro e que contou com a participação de profissionais médicos e não médicos dos cuidados de saúde primários.

De acordo com o infeciologista, a presença destes profissionais permitiu-lhes identificar, durante o encontro, algumas das barreiras a ultrapassar, para que seja possível diagnosticar a infeção numa fase mais precoce.

“Temos de atuar a vários níveis. Em primeiro lugar, é necessário que as pessoas se sintam em risco e que voluntariamente procurem fazer o teste sempre que tenham comportamentos de risco”, mencionou, acrescentando que “este é um objetivo que não está ainda minimamente alcançado”.

Quando questionado acerca das formas de o conseguir, Joaquim Oliveira responde não ser fácil, mas referiu que as campanhas têm um papel importante nesse sentido, tal como as ações de educação para a saúde. “Devemos aproveitar todos os contactos para falar destes assuntos, de forma natural, nomeadamente no que respeita à abordagem da sexualidade, que existe em todas as etapas da vida”, indicou.

Além disso, é também necessário que se realizem mais formações a fim de se sensibilizar os profissionais de saúde a promover o rastreio da infeção VIH, “algo que não está a ser feito”.
Segundo recorda Joaquim Oliveira, a recomendação da Direção-Geral da Saúde preconiza que todas as pessoas entre os 18 e os 65 anos façam o teste, caso nunca o tenham efetuado antes. Contudo, tal norma não está a ser aplicada.

“Todos os contactos com o doente deveriam ser aproveitados para tal. Algo que não está a ser colocado em prática de forma sistemática, até porque, tal como pudemos perceber durante esta reunião, não é uma tarefa prioritária para os clínicos gerais”, afirmou, acrescentado que estes têm muitas tarefas, tempos limitados, objetivos a cumprir e limitações orçamentais, entre muitos outros aspetos.

“Por outro lado, também pudemos verificar que a disponibilização de testes rápidos para os centros de saúde está a ter uma utilização residual. Logo, há aqui uma realidade que é preciso alterar”, acrescentou.

No que respeita a esta reunião de Aveiro, que se destinou a todos os profissionais de saúde dos vários níveis de cuidados, o nosso entrevistado fez um balanço “muito positivo”. “Correu muito bem, a discussão arrastou-se, até porque o tema é interessante e a sala estava cheia, cerca de 80 pessoas, o que é muito bom.”

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