«Não nos limitamos a tratar a dor física, porque utilizamos o modelo biopsicossocial»
A quantidade de casos com patologia do foro psiquiátrico associada à dor crónica é de tal forma elevada que não é difícil de entender a forma como a diretora do Centro Multidisciplinar de Dor do Hospital Garcia de Orta valoriza a recente contratação de uma psiquiatra, assegurando assim uma consulta da especialidade própria. Não admira que a temática ganhe destaque numa altura em que está prestes a acontecer mais um Congresso da ASTOR.
Em declarações à Just News, a anestesiologista Alexandra Reis, que dirige o agora denominado CMDBCL – assim rebatizado, desde o verão de 2019, com o nome da sua fundadora, Beatriz Craveiro Lopes (BCL), a quem sucedeu no cargo –, começa por sublinhar como é importante a realização do Congresso de Medicina da Dor. Promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor (ASTOR), terá a sua 31.ª edição no final deste mês de janeiro, justificando a oportunidade da presente entrevista.
“Continuamos a considerar de extrema importância a realização do nosso Congresso, bem como de outros eventos similares, por contribuir para o enriquecimento do conhecimento científico da Medicina da Dor junto das diferentes comunidades médicas e não médicas”, refere aquela responsável, adiantando:
“Para além de promover a troca de experiências no âmbito da prática clínica dos profissionais de saúde que tratam doentes com dor crónica, constitui, sem dúvida alguma, um estímulo para a divulgação e evolução desta temática.”
“A dor crónica é um grave problema de Saúde Pública em Portugal, à semelhança, aliás, do que sucede nos outros países”, contextualiza Alexandra Reis, lembrando que aproximadamente 30% da população “sente e sofre os seus efeitos”. Ora, cerca de 14% dessas pessoas padecem de dor crónica moderada a severa, o que, feitas as contas, permitirá concluir que um milhão e 400 mil doentes estão nessa situação.
“Felizmente, a maioria consegue solucionar os seus quadros clínicos dolorosos com os médicos assistentes, porém, 1% deles necessitam de ser referenciados a uma Unidade de Dor Crónica porque não respondem às terapêuticas comuns recomendadas”, especifica a nossa interlocutora.
Vale a pena acrescentar que a médica conhece bem o projeto desenvolvido por Beatriz Craveiro Lopes no Garcia de Orta, a que está ligada desde que integrou o Serviço de Anestesiologia daquele hospital, em 2000, e a que se dedicou em exclusivo a partir do ano 2008, nessa altura, já com uma pós-graduação em Medicina da Dor.
Alexandra Reis
A equipa que dirige é constituída, neste início de 2024, por cinco anestesistas, cinco fisiatras, uma internista, cinco enfermeiras, uma psicóloga, duas assistentes operacionais e uma secretária.
Conta ainda com a colaboração de um neurologista, um musicoterapeuta, uma psicomotricista, uma assistente social, uma nutricionista e uma farmacêutica. Um grupo de trabalho que passou a incluir, desde outubro, o contributo de uma psiquiatra!
Alexandra Reis fala com convicção quando diz que o Centro Multidisciplinar de Dor dispõe de um grupo de profissionais “altamente especializados, motivados, empenhados no seu trabalho e dedicados aos doentes”, sublinhando que a equipa “trabalha em regime de interdisciplinaridade”
e frisando ainda:
“Não nos limitamos a tratar apenas a dor física, porque utilizamos o modelo biopsicossocial, pois, a dor crónica significa dor total, abrangendo a física e a psíquica, e ainda os aspetos sociais”.