Neurologia: «Acho que nós temos muito a aprender com a Psiquiatria»
Percebe-se claramente que Marcelo Mendonça, que integra a equipa da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud, não está apenas a querer ser simpático quando afirma que os neurologistas “têm muito a aprender com a Psiquiatria”. E justifica: “Porque lidamos com doença crónica e com muita comorbilidade psiquiátrica.”
“Conseguir adquirir algum conhecimento, pelo menos sobre doenças mentais frequentes, com os colegas psiquiatras que me rodeiam é útil e interessante. E penso que para eles esta proximidade também é uma mais-valia – pelo menos é o que me dizem, e eu acredito! –, pois, convergimos em usar a mesma linguagem, o que tem também muito que ver com alguns interesses clínicos e científicos partilhados”, afirma.
Marcelo Mendonça
Dedicado a doenças do movimento como o parkinsonismo, e lembrando que muitas das pessoas que delas sofrem têm, de facto, alterações do comportamento, Marcelo Mendonça reconhece que a interação com os psiquiatras da Unidade o pode ajudar “a desenvolver diferentes perspetivas terapêuticas”.
E apresenta como exemplo a estimulação magnética transcraniana na doença de Parkinson e noutras patologias neurológicas, afirmando:
“Podemos aprender com a Psiquiatria o processo de como é que se cria evidência neste tipo de ensaios e como se passa esta evidência do laboratório para a prática clínica.”
No seu entender, “o facto de a Psiquiatria não ter tido à sua disposição, durante muito tempo, terapias farmacológicas eficazes para lidar com determinadas patologias terá estimulado a que desenvolvesse determinadas formas de pensar no papel da relação terapêutica e da adaptação da pessoa que vive com doença crónica”.
Não admira, pois, que o neurologista esteja entusiasmado com o seu envolvimento no estudo PsyPal – que foi referido também por Carolina Seybert –, em que a Unidade de Neuropsiquiatria participa com pessoas que sofrem de doença de Parkinson ou de outros parkinsonismos.
Note-se que o objetivo desta investigação é avaliar em que medida a administração da substância psicadélica psilocibina pode combater os sintomas de depressão e o sofrimento psicológico e existencial dessas pessoas.
“Eu penso nos meus doentes com atrofia multissistémica, com paralisia supranuclear progressiva, com doença de Parkinson avançada, que me angustiam, porque têm uma patologia neurodegenerativa muito chata, sendo que, neste momento, para estes tipos e estádios de doenças, muitas vezes, a terapia sintomática que temos não é suficiente para os sintomas que os incomodam. São pessoas que sabem que a sua doença é letal, com perda de qualidade de vida e evoluindo de uma forma muito lenta. É um desafio muito grande nós conseguirmos mudar a forma como passam por esse processo”, comenta.
Com 37 anos de idade, natural de Penafiel, Marcelo Mendonça estudou Medicina na FMUP e concluiu em 2019 o internato da especialidade no então CH de Lisboa Ocidental. Entretanto, esteve dois anos e meio no Hospital Garcia de Orta e doutorou-se em 2022, com um trabalho de investigação desenvolvido na Fundação Champalimaud, onde há três anos exerce também atividade clínica.
A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico de novembro 2025.


